O Insidiously é uma prova de força, superação e
perseverança. Este é o retrato que Rui Duarte faz do novo álbum dos RAMP que
surge 13 anos depois do último álbum de originais. Um regresso que pode ter
sido violento na sua criação, mas cujo resultado se revela fantástico, voltando
a banda a afirmar-se como uma referência fundamental no panorama metaleiro
nacional. Dito isto, fiquem com as palavras sinceras de Rui Duarte.
Olá, Rui, tudo
bem? Antes de mais, obrigado pela disponibilidade e parabéns pelo vosso novo
álbum. A primeira questão é óbvia: porque 13 anos sem álbuns?
O tempo é algo que não controlamos totalmente pois
depende de como a vida de cada um se desenrola. Nunca fomos de classes
abastadas em que pudéssemos ter uma plataforma estável profissional
independente que nos permitisse dedicarmo-nos somente a RAMP. A juntar à
permanente luta entre sobrevivência e o trabalho da banda existiram questões
pessoais que abalaram todo o nosso equilíbrio sucessivamente. Com saídas de
membros a situação não foi facilitada. Mas considero que o mais importante foi
superação e assim seja 13 ou mais anos o espírito é exatamente o mesmo. O
principal é continuarmos a fazer a música que gostamos.
Pelo meio ainda houve uma compilação. Qual
foi o objetivo na altura?
O objetivo era fazer uma retrospetiva dos 25 anos de RAMP,
em que novos elementos fossem acrescentados, dai termos gravados os acústicos e
outras covers.
Chegaste a referir foi o álbum que teve o
processo de criação mais violento, Porquê?
O Insidiously foi violento devido a tudo o que
rodeou o seu processo de composição, gravação e mistura. Eu e o Ricardo
basicamente entregamo-nos num processo em que nada poderia ser delegado, tudo
passava por nós. Constantemente, cada vez que resolvíamos um problema apareciam
mais dez, sendo que, alguns nos abalaram seriamente. Pode parecer estranho, mas,
por muitas vezes sentimos que estávamos a remar contra uma maré fortíssima que
em nada facilitava. Não só foi um processo violento como foi igualmente um
cimentar da nossa amizade.
Achas que esse facto se reflete numa
abordagem mais violenta em termos musicais ou não?
Sinceramente não sei, acho que mais facilmente quem está
de fora poderá retirar essa conclusão. Nós partimos sempre de uma base anarca
em termos de composição. Deixamos as ideias fluir, sabendo que
inconscientemente a nossa vida irá ser repercutida. Quando as músicas nascem
utilizamos a violência que elas pedem. Nunca fomos nem seremos a banda mais
extrema, esse nunca foi o nosso objetivo primordial, apenas tentamos servir as
canções.
Com um intervalo de tempo tão grande entre
lançamentos, os temas agora apresentados são todos recentes ou álbum provêm dos
tempos mais antigos?
A sensação que temos ao tocar os temas do Insidiously
é de que todos são novos.
O trabalho de composição foi dividido entre
ti e o Ricardo, os dois únicos membros fundadores. Como decorreram esses
trabalhos? Que objetivos tinham em mente?
Como já disse anteriormente, eu e o Ricardo arregaçámos
as mangas e tomámos uma decisão, vamos fazer um disco novo de RAMP. Com
essa ideia em mente montamos um novo método de composição em que basicamente
trabalhámos os dois em parceria. Foi um início de um novo paradigma de trabalho
que tivemos de aperfeiçoar e acima de tudo acreditar sozinhos até às últimas
consequências. O nosso principal objetivo era a independência completa. Queríamos
algo que nos desse a liberdade total e não uma co- dependência à partida com
uma editora.
Com todos os problemas referidos, podemos
dizer que os RAMP estão de regresso e em plena força. Como sentem Insidiously? Como o vosso melhor
desempenho de sempre?
Os RAMP estão cá, estão vivos e preparados para
andar na estrada. O Insidiously é uma prova de força, superação e
perseverança. Para nós o último trabalho será sempre o retrato mais fiel da
banda nesse mesmo momento, assim, este álbum são os RAMP de 2022.
Que efeito teve a entrada do baterista João
Gonçalves na vossa evolução e na preparação de Insidiously?
Toda a composição foi feita ainda com o Paulinho na banda.
Tudo foi composto a pensar nele e nas suas caraterísticas como baterista exímio
que é. A sua saída aconteceu antes das gravações da bateria. Quando o João se
preparou para as sessões de gravação teve de aprender tudo em tempo record.
Claro que sabemos que o Paulo e o João são diferentes, mas, uma coisa foi
determinante para o resultado final, o respeito e admiração que o João nutre
pelo Paulo e pela banda. A sua dedicação foi fundamental para este disco.
A pandemia teve alguma coisa a ver com o
vosso regresso aos lançamentos ou nem por isso?
Não teve nada a ver, aliás, só veio atrasar o processo.
Este álbum também marca a entrada na
Rastilho Records. Como se proporcionou essa mudança?
Durante estes 13 anos além do XXV fizemos também a
reedição de Thoughts através da Rastilho. O processo correu bem e
mais tarde quando falamos ao Pedro que estávamos a preparar álbum novo ele
disse que tinha interesse. Quando acabámos o trabalho ligamos-lhe para ele vir
ouvir o disco. Ele respondeu que não podia, mas que acreditava no nosso
trabalho e que queria editar. Mediante esse voto de confiança avançámos, pois,
achámos que quando existe confiança tudo é mais fácil.
Onde gravaram e como decorreram as sessões
de gravação?
As sessões de gravações aconteceram em espaços variados
na Margem Sul e Lisboa. Foi interessante ter, ora o Ricardo, ora eu, à frente
do papel de técnico de gravação enquanto alternávamos os nossos papeis. Toda a
secção de cordas (guitarras e baixo) foi executada pelo Ricardo Mendonça.
Todas as vozes, teclas, programações e sonoplastia foi pelouro meu. A bateria
foi gravada pelo João Gonçalves. Depois de todos estes anos consideramos
que o estúdio dos RAMP é o sítio onde estejam reunidas as condições de
trabalho.
Olhando para a vossa data de nascimento (1989)
já lá vão mais de 30 anos. De que forma olhas para trás para o caminho já
percorrido?
Olho acima de tudo com orgulho e muita gratidão.
E, mais importante, como é que olhas para a
frente e que objetivos, projetos e ambições ainda tens?
Considero que o futuro é algo que não controlamos. Da
minha parte, enquanto me for possível, basicamente quero fazer tudo. A minha
paixão ainda não desapareceu.
E, já agora, como estamos em termos de
estrada? Já há alguma coisa a ser planeada?
Neste momento temos as seguintes datas previstas:
- 21 maio - Side B Rocks | Alenquer
- 03 junho - Pátio do Sol | Oeiras
- 10 junho - Hard Club | Porto
- 11 junho - ADRAC | Figueira da foz
- 17 junho - ADAO | Barreiro
- 18 junho – BANG VENUE |T. Vedras
- 25 junho – TEXAS Bar | Leiria/Amor
- 02 julho – ARMF | Faro
Obrigado, Rui! Queres acrescentar mais
alguma coisa que não tenha sido abordado?
A única coisa que posso acrescentar é deixar o pedido de
que apoiem a música feita em Portugal. Não apenas um apoio gratuito, mas um
apoio diferenciado por aquilo que considerem ser mais do vosso agrado. Premeiem
a competência e a excelência, nivelem por cima e não por baixo de maneira que o
desenvolvimento seja digno de reconhecimento e incentivo. E acima de tudo sejam
felizes.
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