A Self Portrait (INEZONA)
(2022, Czar Of
Crickets Records)
Inezona é o novo projeto de Ines Brodbeck. No
seu último álbum, Now, dedicou-se à música do deserto. Agora, sob uma
nova denominação, apresenta um álbum intimista e autobiográfico, como se
percebe logo pelo título A Self Portrait. No fundo, este é um disco
conceptual sem conceito, composto por dez faixas instrumentais (embora com
alguns sons vocais e vocalizos) criados num inesperado aprisionamento na
Alemanha, próximo da fronteira com a Suíça, fruto dos confinamentos pandémicos.
Isolada, criou música a um nível visceral, com melodias esféricas, sem nenhuma
pretensão e com os instrumentos que existiam no local – banjo, ukulele,
guitarra acústica, violino e utensílios de cozinha para a percussão. No fundo, A
Self Portrait é como um diário musical que acaba por também ser visual, uma
vez que cada tema vem acompanhado do seu respetivo vídeo. [73%]
Goodnight Euphoria (ALICE AUSTIN)
(2022, Independente)
Ao longo dos últimos 20 anos, Alice Austin
tem estado associada a nomes como os pop punks Zola Turn, dos
princípios dos anos 2000, aos Queen Tangerine e aos The Lavas,
bem como é a vocalista da banda de versões Black Sabbitch. Mas,
independentemente deste percurso, tem tido sempre a oportunidade de escrever as
suas próprias canções. Assim surge Goodnight Euphoria, um disco variado
de rock, alternative, indie, alt-folk, americana
e psyche country. Uma misturada de influências que retratam a própria
experiência pessoal que abre com uma forte No Such Thing, com muita
distorção, mas pouco discernimento. Mas, são os momentos acústicos, que nos
remetem para algo próximo do sulista, onde mais se destaca Goodnight
Euphoria. Oxygen, Everything You Touch e The Neighborhood
são as faixas mais emblemáticas e com melhor trabalho de composição,
nomeadamente nas orquestrações da primeira e nos sopros da última. O resto do
álbum fica um pouco aquém destes exemplos, mostrando-se regular, é certo, mas
provavelmente pouco capaz de se impor entre milhares de lançamentos. [75%]
The Parade (PEGGY JAMES)
(2022, Happy
Growl Records)
The Parade é o sexto disco da cantora country Peggy
James e é um misto de best of e de novidades. Dentro dos 11 temas
deste disco há espaço para cinco novas regravações de temas clássicos da cantora de
Milwaukee que faziam parte dos seus álbuns anteriores e mais cinco canções
novas escritas ao longo de 2021. Dentro das primeiras, destaque para a
espetacular Guardian Angel, single lançado em 2021, mas tema que
já vem do álbum Crossroad Moments, de 2005. Dentro do segundo grupo,
salienta-se a abertura I Go With Me e Hard Times. E, como nos
seus álbuns anteriores, em The Parade podem ser descortinadas diversas
influências, embora esteja claramente assente nas raízes das baladas, das
guitarras acústicas, da slide guitar e nas tradições da country music.
Isto sempre com as doces melodias sixies e embelezadas por canções
cheias de melancolia. Peggy James e a sua guitarra acústica surgem
acompanhados pelo seu parceiro musical de sempre, Jim Eannelli e com
pontuais aparições de Ana Vafai, com o violino a encantar em três
faixas, e John Calarco na bateria noutros três. [79%]
Coal (SILVER & SCOUT)
(2022, Independente)
João Diogo Zagalo e Filipa Afonso, os Silver &
Scout do nosso panorama musical, quebraram o silêncio deixado após o
lançamento de Unwords e lançam, em formato digital, uma coleção de 4
temas juntas sob a denominação de Coal. Desde logo o que mais salta à
vista é a manutenção dos seus principais pontos fortes – os tons country
e os coloridos do deserto e a forma tranquila de contar histórias com música.
Mas há novidades importantes: a principal é a passagem a quinteto que permite
outras explorações sonoras, sendo a mais genial o uso jazzístico do
saxofone, cortesia de José Lencastre. Uma incorporação verdadeiramente
brilhante! Tons de jazz que também se podem ouvir na forma como Rui
Lucena manipula a sua bateria. Já agora, fica a informação que o quinto
elemento é o baixista Gonçalo Zagalo. Finalmente, uma palavra para a
inclusão de teclados, aqui cortesia do produtor Flak, a transmitir uma vibe
The Doors. Em suma, o salto entre Unwords e este Coal é
tão significativo que parece estarmos numa outra dimensão. Só para terem uma
ideia, a faixa de abertura Out Of Control catapulta-se para mais de uns
geniais sete minutos (parece que seguiram os nossos conselhos na review
a Unwords!). Pena que este EP só tenha 4 temas. Que venha rápido um
trabalho mais alargado porque estes novos Silver & Scout prometem… [86%]
Babel (LESOIR)
(2022, Glassville Records)
Corria o ano de 2020 quando os Lesoir
surpreendiam o mundo com esse fantástico disco que foi Mosaic. Não
contentes com o que tinham atingido, os neerlandeses avançam mais um pouco
rumo à eternidade e criam o épico Babel com 20 minutos de pura classe e
intensa magia. Este tema único acompanha uma curta-metragem confirmando que a veia
artística dos Lesoir não se esgota na composição musical. Com música de Ingo
Dassen e Martje Meessen e poema de Stuart Watkins, Babel
conta, ainda com a prestimosa colaboração do Eurasia Quartet e de Camila
Cipoletta, nas cordas. Genial, magistral, único, intemporal, esta é uma
peça para guardar na memória e no coração. [100%]
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