Entrevista: Athemon

 


E, de repente, Adriano Ribeiro começou não um, mas dois projetos. Primeiro começou a construir temas para o que seriam os Athemon. A ele mais tarde se juntaria Tom McLean (ex-Haken) e, como convidado, Gledson Gonçalves. Neste formato lançaram o álbum homónimo. Mas a coisa correu tão bem que os três mudaram o registo e, logo depois, formavam os Brutta, com uma sonoridade mais extrema. Para já, o que esteve na base da nossa conversa com o guitarrista e vocalista de S. Paulo, foi mesmo o lançamento do excelente álbum homónimo dos Athemon.

 

Olá, Adriano! Obrigado pela disponibilidade! Athemon é uma entidade nova, por isso começo por perguntar quando e porquê decidiste iniciar este projeto?

Pois não, por favor, eu é que agradeço a oportunidade. É um prazer. A ideia de criar os Athemon veio da necessidade de expressão individual através da arte. O ato de compor é libertador. Entrar em contacto contigo próprio, externando emoções contidas através do metal, compondo riffs e deixando a criatura tomar conta é algo que me gera extrema satisfação, quase como uma condição existencial. E foi por isto que decidi criar os Athemon.

 

Como se proporcionou essa tua ligação ao Tom McLean?

Eu gosto muito da banda de progressivo Haken, banda da qual ele fez parte durante os primeiros três álbuns. Um dia estava a navegar pelo Facebook e deparei-me com um post dos Haken, que dizia que o Tom estava a abrir o seu estúdio de mistura e masterização, a Twelve Tone. Coincidentemente eu tinha acabado de compor a matriz das músicas do auto-entitulado Athemon, mas estava com dificuldades de encontrar um estúdio para gravar o álbum por causa da pandemia. Então decidi entrar em contacto, pois sempre considerei o Tom um músico e produtor muito talentoso. Para minha felicidade, ele gostou muito do material que mostrei e não só se disponibilizou a produzi-lo, como também a tocar baixo nele. Assim começamos o que hoje se tornou: Athemon.

 

As responsabilidades da composição estiveram apenas sobre os teus ombros ou foi um trabalho dividido com o Tom?

Inicialmente o álbum já estava pré-pronto, logo as composições partiram de mim. No entanto, quando começamos a gravar as músicas, o Tom tornou-se co-compositor. As suas contribuições foram muito importantes e deram um brilho extra. Além disto, ele compôs as linhas de baixo, portanto, por tudo isto, eu considero que o álbum foi composto por nós dois.

 

Já agora, os temas foram compostos para este álbum ou são ideias que já existiam anteriormente?

O processo de composição para mim é algo muito particular. O ato de compor compreende entrar em contato comigo a um outro nível. Um lugar onde o tempo escapa e não há mais nada além do momento compreendido entre mim e a guitarra. Para isto procuro tentar zerar a minha mente e abri-la para novas possibilidades e experiências. É importante zerar a mente, pois somos nós mesmos que nos tornamos os nossos piores sabotares. Desta forma, para acreditar num riff é preciso enxergar um pouco além dele e, certamente, sem interferências negativas geradas por mim mesmo durante o processo. Dito isto, para mim é muito difícil criar uma ideia geral, como um material conceptual por exemplo, e depois iniciar o processo de composição. Ou seja, o álbum vai ganhando forma à medida que vou compondo. É interessante também comentar que a obra começa a dialogar com o criador, a um nível que fica impossível não ouvir e debater com ela. Assim, o resultado final é sempre do criador e também da cria.

 

E, já agora, em que nomes ou movimentos procuraste encontrar as tuas inspirações?

Como fã de prog e death metal é possível identificar influências de algumas bandas do género, mas no fundo as inspirações vêm da existência, vêm das experiências que vivi. Elas são a base para a criação da obra e certamente são feitas também de muitos anos a ouvir e admirar o heavy metal.

 

Um dos aspetos mais curiosos da banda é o nome. Como surge Athemon e de que forma se relaciona com os vossos objetivos musicais iniciais?

Athemon foi um nome que veio à minha cabeça enquanto estava a criar o álbum. Interessante que não fazia ideia do que significava. Quando fui pesquisar fiquei surpreendido com o que me deparei. Foi uma grande satisfação saber que Athemon é o sobrenome de um espécime de borboleta encontrada em parte da Amazónia, a Dynamite athemon. Imediatamente fechei com o nome. A música também é um processo de transformação e, assim como o processo de transformação da borboleta, a arte precisa de todos os seus estágios.

 

De que forma definirias Athemon enquanto projeto e enquanto álbum?

Athemon enquanto projeto pode ser definido com um desafio. Isto porque as composições não seguem um padrão convencional, ao contrário, seguem um padrão diferente onde se foca mais na liberdade do que na estrutura. Já o álbum Athemon eu defino como uma conquista. É realmente prazeroso e estimulante trabalhar horas, dias, meses na composição de músicas para um álbum. Cada detalhe, cada riff tem uma intenção clara na obra. E a dificuldade de colocar tudo junto numa linha única que faça sentido é bastante desafiadora. Portanto, ver e ouvir um álbum criado a partir do zero é uma satisfação enorme, uma conquista muito importante. Faz tudo valer a pena, sem dúvidas.

 

Para além de vocês os dois, contam com a participação do baterista Gledson Gonçalves. Qual foi o seu papel neste álbum? Apenas tocar bateria?

Eu conheço o Gledson há muitos anos. Participamos da cena metal de São José dos Campos juntos. Sabia que ele era um excelente baterista, logo quando estava a terminar as composições resolvi entrar em contacto com ele. Fiquei muito satisfeito com a forma que ele conduziu as gravações da bateria, pois as suas contribuições foram fundamentais para deixar o resultado final do instrumental ainda mais intrigante. Vale mencionar que a interação entre nós três (Tom, Gledson e eu) foi tão boa, que recentemente lançamos uma outra banda de metal mais extremo, os Brutta. A ideia partir do Gledson, que ficou muito contente em ter trabalhando nos Athemon. Eu sou fã de death e prog metal. Moro no Brasil e degusto o metal desde muito pequeno. O Tom é fã de prog e power metal. Mora na Inglaterra e curte metal desde cedo também. Já o Gledson é fã de black e death metal. Mora no Brasil e adora metal desde muito jovem. Três personalidades completamente diferentes, mas com uma força em comum: a paixão pela música, a paixão pelo heavy metal!

 

Precisamente, num registo diferente vocês estão os três também nos Brutta e que também já têm um álbum este ano. É uma edição independente, não é? Como está a ser a receção?

Exato, a integração entre nós três foi tão boa que decidimos esticá-la e criar um projeto com uma música mais agressiva e direta. Criamos os Brutta, portanto, é uma banda nova. A receção está a ser muito boa, para nossa grata surpresa. Muitos retornos positivos de amigos, fãs e da imprensa. Vale comentar que também já estamos a compor músicas novas para um segundo álbum também a ser lançado em 2023.

 

De que forma correram os trabalhos de gravação? Tudo como planeado?

Os trabalhos da gravação correram bem. Há sempre a necessidade de adaptação, pois o planeado muitas vezes pode impedir a expansão do processo durante seu registo. Por exemplo, no álbum temos uma música chamada I Voice of Mine. A sua versão original continha alguns gaps, como pouco espaço para o desenvolvimento melódico das linhas vocais. E foi só durante o processo de gravação que conseguimos ver onde estava este gap e como preenchê-lo. De facto é muito gratificante deixar sempre deixar e espaço para incrementos na música.

 

Este é um projeto de um álbum apenas ou tens ideia de continuar?

Tenho a ideia de continuar, sem dúvidas. Estou em processo de composição do álbum novo. Está a ficar muito interessante, com muitas atmosferas obscuras e outras muito emocionantes. De momento estou a escrever a letra para o álbum, que também como o primeiro, será conceptual. O álbum está planeado para ser lançado em 2023, mais ainda sem data prevista.

 

Muito obrigado, Adriano! As maiores felicidades! Projetos e ambições para os próximos tempos?

Por favor, eu é que agradeço! Também te desejo as maiores felicidades! Ah sim, e os projetos e ambições para os próximos tempos são exatamente continuar a exercer esta maravilhosa expressão artística que é compor música metal! Podemos dizer que será eterno enquanto durar. Um abraço para ti, Pedro. Obrigado, novamente.

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