Entrevista: Usoutros

 


Não cantamos apenas na língua portuguesa, cantamos Portugal, o seu/ "nosso" povo e a sua história (passado e presente). O Que É Feito De Nós? é um álbum verdadeiramente português! Quem o afirma são os Usoutros, projeto nacional que já anda nisto há alguns anos, mas só agora surge em todo o seu esplendor. Isto porque o álbum de estreia recentemente lançado é uma verdadeira obra-prima carregada de talento e inspiração.

 

Olá, pessoal, como estão? Obrigado pela disponibilidade. Os Usoutros são uma banda recente, por isso começo por pedir para falarem deste projeto – como começou, o que vos motivou a iniciar este trajeto…

Olá Pedro! Obrigado nós pelo convite! A banda já existe há alguns anos, embora só tenhamos lançado o nosso primeiro álbum de originais em junho deste ano (com a chancela da Ethereal Sound Works). A banda surge da amizade de anos entre o Maurício Santos (voz) e o Rui Salvador (guitarra) e do seu fascínio comum pelo rock e pela música. A necessidade de ter um expert em ritmo para a bateria, para um projeto com um certo “toque progressivo”, leva a um convite ao Tiago Cardoso. Começamos a compôr alguns originais e aí conhecemos o Bruno Fernandes, “baixista do low end” como carinhosamente o apelidamos, onde o seu balanço de 4/5/6 cordas encaixou que nem uma luva nas frequências médias/agudas das guitarras e voz. Só algum tempo mais tarde aparece o João Pedro, o nosso outro guitarrista, que foi sem dúvida a cereja no topo do bolo desta formação atual!

 

Desde logo, o que salta à vista é o nome da banda. De onde surgiu a ideia Usoutros?

A ideia do nome surge de forma algo espontânea na primeira reunião entre o Rui e o Maurício. Enquanto faziam um pequeno brainstorm de possíveis nomes, o Rui pensava em voz alta “imagina um cartaz com a banda X, com a banda Y e depois os outros”. O Maurício teve um ataque de riso e o nome ficou decidido nesse momento! E decidimos escrever USOUTROS porque dessa forma teríamos um nome único e muito mais fácil de pesquisar em qualquer motor de busca.

 

Que nomes ou movimentos indicam como sendo as vossas principais influências?

As nossas influências mais óbvias talvez sejam Alter Bridge, Muse, Dream Theater, Opeth… Mas ouvimos tanta coisa diferente que as influências advêm de uma imensidão de outros artistas/estilos, não só dos supracitados.

 

Essas influências repercutem-se num disco, O Que é Feito de Nós?, que não é muito fácil de classificar. Como é  que se descreveriam a vocês próprios?

O caminho de Usoutros foi em direção a criar um som e identidade única. Não nos sentimos limitados a um rótulo, nem às fronteiras de um estilo. Esses “estilos” ou “géneros” musicais foram na maioria intitulados pelas empresas e distribuidoras discográficas e pela imprensa, não pelos artistas. Somos um grupo que soube absorver muitas e diversas influências musicais, com um horizonte musical vasto, mas que nunca perdeu identidade no processo. Somos a união de cinco intelectos musicais, a fusão de cinco histórias, visões e estilos criativos diferentes através dos quais se consegue uma "paisagem" musical única. O álbum mostra o que a Música como Arte é e pode ser aos nossos olhos/ouvidos através dos nossos "filtros".

 

Outra coisa que salta à vista é o uso do português, o que na minha opinião, resulta particularmente bem, permitam-me que vos diga. Mas porque optaram por essa opção?

O português sendo a nossa língua materna dá-nos uma maior facilidade de expressão. É-nos natural! O alfabeto latino, e línguas dele derivadas, é facilmente musicado e assim tem sido durante séculos. O português é naturalmente uma língua muito musical. No entanto a resposta está além da expressão. É mais profundo. Não cantamos apenas na língua portuguesa, cantamos Portugal, o seu/ "nosso" povo e a sua história (passado e presente). O Que É Feito De Nós? é um álbum verdadeiramente português! O tema homónimo é um bom exemplo, com uma clara alusão à Era dos Descobrimentos e mostra a inspiração que retiramos da nossa própria História. Muito deste álbum só será compreendido totalmente por nós portugueses ou por quem conheça a nossa história. Não temos como dizer "dobra os cabos de qualquer tormenta" numa outra língua. Não o conseguiríamos expressar, nem seria compreendido, segundo a nossa intenção. Um artista que expresse sentimentos e emoções universais, ou mesmo algo que lhe é pessoal, poderá ter essa escolha da língua. O que Usoutros cantam não é universal, é "nosso". No nosso ponto de vista nunca existiu tanta música em português com qualidade como tem surgido nos últimos tempos e é extremamente satisfatório encontrar novos artistas, independentemente do estilo, e ouvir a nossa língua bem cantada e bem escrita.

 

Na sequência do que dizem, considero que as as letras são particularmente bem conseguidas. Qual é a mensagem principal que pretendem transmitir?

Temos diferentes tipos de letras, todos elas com mensagens diferentes e todos elas sujeitas à interpretação do ouvinte. O single O Que é Feito de Nós?,  descreve uma experiência fantasiosa de forma introspetiva, em primeira pessoa, de um qualquer navegador marítimo, com clara alusão à Era dos Descobrimentos. Uma história com uma mensagem de superação humana e de coragem sobre medos do desconhecido. No entanto, a beleza da subjetividade lírica acaba sempre por atuar para quem ouve e a mensagem poderá mudar!

 

Musicalmente, como já vimos, têm diversas influências que são muito bem mescladas. De que forma é trabalhado esse aspeto?

Há muito debate interno… (risos). Tentamos sempre que haja um trabalho de todos no produto final e que, embora exista sempre uma base de composição, o nosso som acabe por ser uma mistura fiel do individual de cada um dos membros. Daí as diferentes nuances entre temas que surgem da panóplia de géneros diferentes que todos ouvimos.

 

Já agora, como é o processo de composição na banda?

Geralmente o Rui surge com uma estrutura de uma música. O João Pedro faz arranjos sobre essa estrutura e o Tiago começa a delinear ritmos, sobretudo os kicks para o Bruno ver a melhor forma de inserir o seu baixo low end. E no final o Maurício cria as linhas melódicas e respetivas harmonizações.

 

E quanto à gravação? Gravaram em diferentes locais, não foi? Porquê?

A grande razão de termos gravado em sítios diferentes foi o facto da produção/master ter sido de nossa autoria. As captações dos instrumentos serem em sítios distintos para cada um dos membros trouxe um cunho pessoal muito vincado no produto final. Talvez não o tivéssemos conseguido com a típica fórmula “1estúdio de gravação + 1produtor”.

 

Em que fase está o desenvolvimento do vosso primeiro vídeo? Foi para o tema-título, certo?

Sim, será para o tema O Que é Feito de Nós?. Ora, o vídeo está encomendado… (risos). Num tom mais sério, o vídeo está em fase de gravação, depois entrará em produção, e mais tardar até ao final do ano estará disponível.

 

Para além dos cinco, este disco conta com alguns convidados. Querem apresentá-los e falar da sua contribuição?

Tivemos várias colaborações neste disco. Tivemos o grande Samuel Maia na flauta transversal, o talentoso Pedro Gonçalves no trompete, o enormíssimo David Wyn Lloyd na viola d’arco, todos eles músicos de excelência no campo da música clássica. Tivemos também o Jorge Oliveira nos sintetizadores/efeitos e o Filipe Oliveira nos teclados/coros, ambos com vasta experiência musical de produção e performance. O segredo da música está na partilha!

 

De que forma se proporcionaram esses contactos?

O Rui e o João Pedro são ambos professores de guitarra, trabalham/trabalharam com variadíssimos professores, daí o contacto com músicos do estilo clássico. O Jorge Oliveira e o Filipe Oliveira são bons amigos e próximos da banda.  Coincidentemente, e para nossa grande sorte, são ambos músicos extraordinários.

 

Quanto a estrada? O que têm feito e o que ainda têm planeado?

Temos ensaiado o álbum com afinco para até ao final do ano, mais tardar janeiro de 2023, o projeto estar na estrada. Temos muitas saudades do palco e estamos ansiosos por mostrar a nossa música ao vivo!

 

Obrigado, pessoal, querem acrescentar mais alguma coisa?

Nós é que agradecemos, Pedro! Queríamos só deixar uma palavra de apreço ao Gonçalo da Ethereal, que enaltecemos sempre que temos oportunidade, porque pessoas que gostam genuinamente da indústria da música como ele, apoiando e impulsionando o talento nacional, deviam ser condecoradas. 

Comentários

  1. Muito bons... Mostrem o projeto ao público que bem merecem.

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