Entrevista: Tracy Vandal & John Mercy

 


João Rui (a Jigsaw) é John Mercy. E desde há muito tempo, quer num quer noutro projeto, tem dividido o trabalho criativo com a vocalista escocesa Tracy Vandal (Tiguana Bibles). O mais recente projeto nasceu da simples ideia de Tracy querer gravar algumas músicas. Foi suficiente para nascer Midnight Presents, um álbum de versões com atmosferas muito próprias de temas negros do gótico e do folk americano. Todos eles, originalmente cantados por homens, para garantir o necessário distanciamento. João Rui continua a trabalhar noutros projetos seus, mas, para já fica a sua visão a respeito de Midnight Presents.

 

 

Olá, João, tudo bem? Obrigado pela tua disponibilidade. Já há muito tempo que tu e a Tracy colaboram, mas esta é a primeira vez que se aventuram num disco desta natureza?

Viva! De facto já colaboramos desde 2010 quando pela primeira vez ouvi a Tracy nos Tiguana Bibles e decidi que ia escrever uma música onde ela iria cantar, que foi a Lovely Vessel  do álbum Drunken Sailors & Happy Pirates de a Jigsaw em 2012. Desde então que a Tracy tem sido quase membro integrante da banda ao vivo. Em relação ao trabalho em conjunto, eu já tinha trabalhado com a Tracy nas canções do seu primeiro EP The End Of Everything, mas de facto num disco desta dimensão é a primeira vez.

 

Qual foi o objetivo e a motivação principal para realizar este projeto?

Foi na verdade muito simples. A Tracy falou-me que estava a pensar em gravar algumas músicas para apresentar à Lux Records como base de partida para um pequeno EP. Esse era o objetivo, mas cedo percebemos que podia ser muito mais e evoluiu para um álbum. A motivação foi o facto da Tracy ter dito que estava a pensar gravar algumas músicas. É motivação mais que suficiente.

 

Apesar de ser uma mulher vocalista escolheram apenas temas originalmente cantados por homens. Porquê?

Porque nos pareceu que a ideia de revisitar estas canções cantadas por homens beneficiaria do distanciamento que adviria de uma voz feminina. Como se a intenção lírica pudesse ser deslocada por a voz ser de outra natureza.

 

De que forma decorreu o processo de seleção dos temas a incluir em Midnight Presents? Que metodologia seguiram ou critérios foram definidos?

A escolha dos temas foi exclusivamente da Tracy que queria manter a escolha dentro do Gótico americano, dentro do folk. Então dentro desse espectro a Tracy ia-me enviando 3 temas de cada vez e dessas 3 canções eu escolhia uma ou duas e tentava compreender como é que, musicalmente, as conseguíamos “domar” até chegar ao nosso som próprio.

 

E já agora, porque batizar o álbum de Midnight Presents?

É um título que tem seu quê de ambíguo e foi uma escolha da Tracy. Eu sei exatamente qual a história que leva à escolha do título, mas a partilha pertence-lhe a ela.

 

Em termos de estúdio, foste responsável por toda a instrumentação, mas para palco há uma série de músicos que vos vai acompanhar, não é verdade? Quem são?

Sim, em palco somos acompanhados por uma banda magnífica, com o Pedro Antunes (BunnyRanch, Wipeout Beat) no baixo, que é o meu músico de eleição e sem o qual nenhum projeto musical meu está completo. Temos também o Luís Formiga (Animais, Mancines), um percussionista e baterista exímio com quem tenho colaborado em diversos projetos e por fim a excelência do multi-instrumentista e produtor Sérgio Costa, que nos chega dos Belle Chase Hotel, Millions.

 

Mas também existe um convidado para os backing vocals. Quem é ele e como se proporcionou este contacto?

Trata-se da vocalista Bonnie Blossom, que já tinha participado no passado num dos álbuns de a Jigsaw e tem um lugar cimeiro nestes projetos enquanto John Mercy que irão agora ver a luz do dia em 2023. De facto, tem colaborado comigo e entrado em diversas das músicas que tenho lançado ao longo do ano e tem uma participação fulcral nestes próximos álbuns que estou a preparar. No caso do Midnight Presents, precisávamos de uma voz masculina que fizesse algum contraste com a da Tracy em duas canções e acedeu prontamente ao nosso convite.

 

Já que falamos disso, já alguma coisa confirmada em termos de concertos ou tours?

Os concertos estão agora a ser articulados com a Lux Records e dentro em breve teremos as datas disponíveis. É um disco que merece estrada.

 

Entretanto, já tiveram a apresentação no Salão Brasil. Como correu?

Foi uma noite magnífica. O salão esgotou e não poderíamos ter escolhido melhor local ou noite para a estreia deste disco.

 

Já agora, como estão os teus outros projetos – a Jigsaw e John Mercy? Prevêem-se novidades para breve?

Da parte de John Mercy estão previstas diversas novidades neste próximo ano com a edição de dois álbuns e um outro em parceria com o Pedro Renato (Belle Chase Hotel, Raquel Ralha e Pedro Renato) e talvez também saia o próximo dos a Jigsaw.

 

Recentemente tiveste a oportunidade, juntamente com os The Dead Beats, de revisitar o livro On The Road (1957) no Teatro Paulo Quintela. Podes descrever melhor em que consistiu este espetáculo?

Este espetáculo foi criado para celebrar o centenário do escritor Jack Kerouac e o mote foi dado pelo diretor do departamento de línguas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra: Osvaldo Silvestre. Acabou por ser a estreia de John Mercy em palco, o que teve um significado especial por ter sido naquele teatro nas Letras. Ocorreu-me que a melhor forma de homenagear um autor que tanto me diz seria criar um álbum cujas canções acompanhassem a narrativa do livro de forma sequencial e que sobreviveria ao centenário. E assim nasceu o álbum West Of The American Night, que será editado em março de 2023. Como gosto sempre de estar rodeado por bons amigos e tenho o privilégio de privar com músicos de excelência então o álbum tem a presença de músicos como o Victor Torpedo, o Pedro Antunes, a Raquel Ralha, Tracy Vandal, Gito Lima, Laurent Rossi, Bonnie Blossom, Luís Formiga, Miguel Cordeiro, Pedro Renato e a minha querida Susana Ribeiro que ao fim destes anos longe da estrada regressou com o seu violino e glockenspiel para dar a estas canções um coração ainda maior.

 

Obrigado, João. Queres acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordada?

Obrigado, eu a ti Pedro e à Via Nocturna 2000 por este tempo de antena. Por ora nada me ocorre, mas creio que havemos de falar em breve. Um abraço a todos!

Comentários

DISCO DA SEMANA #47 VN2000: Act III: Pareidolia Of Depravity (ADAMANTRA) (Inverse Records)

MÚSICA DA SEMANA #47 VN2000: White Lies (INFRINGEMENT) (Crime Records/We Låve Records)

GRUPO DO MÊS #11 VN2000: Earth Drive (Raging Planet Records)