Entrevista: Zurrapa


 

Quando se fala em punk rock em português, de cariz frontal, direto, sem papas na língua e politicamente incorreto, a referência é Zurrapa. O trio de Viseu volta à carga com mais uns quantos ódios de estimação e aponta em todas as direções desferindo os seus golpes de sarcasmo. O Triunfo dos Porcos é essa coleção de canções desavergonhadas que põe a nu a vergonha que se vai passando em alguns círculos da nossa sociedade. E é o baixista Nuno Mendonça quem nos fala deste triunfal regresso.

 

Olá, Nuno, tudo bem? Como vão as coisas por Viseu? A colheita deste ano foi boa?

Viva!! Tudo a andar! Sim, a colheita não foi má, já vi piores!

 

Aparentemente foi porque os Zurrapa regressam mais revoltados e aziados com o sistema que nunca. E cada vez menos politicamente corretos, não é verdade?

Sim, é verdade, a azia já é algo que faz parte das nossas vidas. É essa azia que alimenta a revolta e por consequência se vai transformando em música... ou naquilo que fazemos. Nunca tivemos papas na língua (como dizia o Ribas) e a verdade é que com a idade vamos ficando mais soltos da língua e (ainda) com menos preocupações. Já passamos há muito aquela fase de pensar duas vezes antes de mandar o primeiro-ministro se foder. Na verdade, acho que essa fase durou 1 hora! Estamo-nos mesmo a cagar para eles!

 

Aliás, para uma banda de punk, o dia-a-dia dos nossos governantes, gestores e afins devem dar-vos mais temáticas que o tempo que têm para compor (risos)…

Efetivamente é todo um universo de filhos da puta que por vezes até é difícil decidir em que cabrão bater. Infelizmente vivemos numa país pequenino em dimensão, mas enorme em chulos e filhos da puta. É o real país do desgoverno e dos porcos!

 

Nesse sentido as sugestivas imagens do booklet são esclarecedoras. Mas não se esqueceram de lá incluir um determinado Costa ou Nuno Santos ou outros dos seus amigos?

Ficaram tantos de fora!!! Se os fossemos a meter todos aquela merda não era um booklet, eram as páginas amarelas! Mas o booklet foi mais uma tentativa de homenagear essa raça asquerosa a que pomposamente chamam de políticos, governantes, gestores, etc.

 

Bem, vamos ao que interessa – o que nos trazem os Zurrapa neste seu novo trabalho?

O disco traz mais uma catrefada de malhas, ora bem dispostas, ora fodidas da vida. Na verdade, trazemos mais do mesmo. Punk & Roll, sem merdas, direto, e com a educação que os temas pedem e merecem. Continuamos a não querer inventar a roda, só queremos beber copos e dizer o que nos vai na alma. Sempre foi assim e vai ser sempre assim, não vamos começar a escrever baladas nem a dizer bem de filhos da puta.

 

Como é que trabalharam a composição para este novo registo?

Essa parte também não mudou muito, normalmente vamos para a sala de ensaio e vamos experimentando malhas. Às vezes saem 2 ou 3, outras vezes não sai porra nenhuma. Foi tudo feito nesse contexto. À exceção da A Vingança de Jaqueline Rose, que foi feita verdadeiramente no dia em que começamos a gravar. Acho que já estávamos a gravar as guias de guitarra até!

 

E a gravação decorreu como planeado?

A gravação é a parte que menos gosto, sou muito anti “estúdio”. Sofro do stress da luzinha vermelha!  Mas até essa parte costuma ser tranquila, já vamos com a mentalidade do “que se foda, alguma coisa vai sair” e a cena lá vai fluindo entre cervejas.  Por isso, sim, correu tudo como planeado e mais ou menos dentro do tempo que tínhamos estipulado.

 

Este O Triunfo dos Porcos têm-se revelado um verdadeiro triunfo. Esperavam esta receção das massas?

Não diria um triunfo, mas até tem sido bem recebido.  Para nós as reações são  sempre uma surpresa, quer as boas, quer as más. Acabamos por estar tanto tempo envolvidos com as músicas que perdemos a real noção e um dia soam todas muito bem e no dia seguinte soam todas mal que dói! Mas de facto até tem sido bem recebido. Valendo o que vale e agora já com alguma distância, na minha opinião é o melhor disco de Zurrapa, em todos os aspetos.

 

Já apresentaram este disco ao vivo? Há planos para continuar?

Sim, fizemos o lançamento do disco cá em Viseu com um concerto com os companheiros Acesso de Raiva e depois fizemos mais algumas datas, mas foi um ano um pouco atípico em relação a concertos para nós. Não fizemos tantas datas como esperávamos ou como pretendíamos, mas as que fizemos foram a   valer! Espero que em 2023 haja mais gente a querer ver-nos e ouvir-nos!

 

Obrigado, Nuno. Queres acrescentar mais alguma coisa?

Agradecer mais uma vez o apoio de sempre da Via Nocturna e desejar que continuem com o bom trabalho por muitos anos!! Um grande abraço e siga!!!

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