Juice Oh Yeah (JUICE OH YEAH)
(2020, Addicted Label)
Quando os Juice Oh Yeah nasceram em
2012 em S. Petersburgo, a sua ideia era enveredarem pelo doom metal na
linha dos seus amigos Grave Disgrace. No entanto, a sua evolução
levou-os para outros campos. E embora o doom influenciado pelos Black
Sabbath ainda possa ser ouvido em Poleno, muito do seu álbum
homónimo pisa outros caminhos. Os temas são complexos e, na sua maioria,
enveredam por algo próximo de uma folk world music progressiva. Aspeto
bem representado na capa com um chapéu oriental assente num tapete persa. O
facto de, na sua génese terem apenas baixo, com uma distorção muito acentuada, e
bateria (não devemos, no entanto, esquecer a utilização ao longo deste disco de
uma infinidade de outros instrumentos), torna a sua sonoridade muito grave e
áspera. De tal forma que a abertura Rels nos engana com uma abordagem stoner/punk,
grave e direta. No global, este trabalho homónimo, segundo do duo, resulta de
uma mistura elaborada do peso dos Earth, da ausência de guitarra dos Morphine
e das experiências progressivas dos King Crimson. [70%]
Tangerina (COLECTIVO GIRA SOL AZUL)
(2023,
Independente)
Inspirado no universo dos
mais novos, mas decididamente dirigido a todas as idades, Tangerina sucede Pequenos Piratas (2018), disco de
estreia do Colectivo Gira Sol Azul liderado
por Ana Bento e Bruno Pinto, e é uma viagem pelo universo da palavra feita, ora
prosa ora poesia num “tom de menino pequeno que está a falar com a sua mãe”,
pela infância e suas memórias, o questionamento do mundo que nos rodeia, o
deslumbramento da descoberta e experimentação. Alguns dos temas resultam da
simples declamação de textos, com a adição ou não de sons e ruídos
sintetizados; outros transformam os escritos em canções de gente grande, com
alguma dose de inspiração jazzística
ou de inspiração erudita e étnica, como forma de educar musicalmente as novas
gerações. Nesse aspeto, merece especial realce o fraseado hip hop bem enquadrado em Estou
à Espera de Ser Grande, o canto polifónico de Tangerinas, bem como o global trabalho do saxofone, cortesia de Xosé
Miguelez. Este
trabalho surge inspirado em A
Invenção do Dia Claro de Almada Negreiros e é mais uma boa fusão entre música
e poesia, na mesma altura em que Alves
dos Santos também lança A Tempestade
e a Calma. [74%]
Charging The Electric Dream (LEON ALVARADO)
(2022,
Melodic Revolution Records)
O novo álbum de Leon
Alvarado vê o compositor norte-americano nascido em Caracas avançar em
formato individual sem qualquer colaborador ou convidado. O álbum intitula-se Charging The Electric Dream e junta
algumas peças escritas e gravadas esporadicamente ao longo de cerca vinte anos,
desde os finais dos anos 90 – a mais antiga- até 2022 – a mais recente. Tudo
peças onde Leon Alvarado explora a sensibilidade electrónica que
adquiriu de alguns dos seus ícones do género – Tangerine Dream, Brian
Eno, Vangelis ou Jean-Michel Jarre. E trabalha essas peças
com pouco recurso a trabalhos posteriores de edição, overdubs ou rearranjos. O resultado é um disco totalmente orientado
para sons eletrónicos, de cariz muito pessoal, mas com experiências sónicas que
não são particularmente interessantes, nem rítmica nem melodicamente. [64%]
The Final Flight: Live At L’Olympia (TRANSATLANTIC)
(2023,
InsideOut Music)
Os Transatlantic
são assim como um best of do rock progressivo, incluindo membros
dos Dream Theater, Marillion, Spock’s Beard e The
Flower Kings. E na sequência do
seu quinto e mais ousado, arrojado e inovador álbum, The Absolute Universe,
a banda partiu para uma tournée, tendo aproveitado o concerto no L’Olympia
em Paris, a 28 de julho, o último da série de cinco agendados para a Europa, para
gravar este longo disco que captura três horas da melhor música prog rock.
Se The Absolute Universe tinha sido apresentado em dois formatos
diferentes, este disco ao vivo apresenta o que se pode considerar de terceiro
formato, adicionando a versão em Blu-Ray. E se pensarmos que algumas
músicas até foram tocadas de forma ligeiramente diferente, então estaríamos a
entrar numa quarta versão. São três horas de música desde Overture (The
Absolute Universe) até ao medley final que passa em revista os dois
primeiros álbuns da banda, passando por The Whirlwind, de 2009. E a
multidão que esgotou o L’Olympia fez-se ouvir bastante bem quando assim tinha
de ser, mas deixando o silêncio prevalecer na altura de dar aos músicos o
espaço que precisam para se deliciarem com intermináveis solos e outros
malabarismos. Embora, como sempre nos Transatlantic, esses malabarismos
pareçam ser mais importantes que a própria música. [87%]
Far Beyond The Moon (DIRTY VELVET)
(2023, Fastball Music)
A banda suíça Dirty Velvet nasceu em
2019 e desde essa altura tem vindo a desenvolver os seus temas em fortes
presenças ao vivo. Finalmente, este ano, o primeiro longa-duração é lançado,
trazendo como título genérico Far Beyond The Moon. A voz da vocalista Kathy
lembra um pouco as bandas punk femininas dos anos 70, embora a
sonoridade global se situe mais próximo de um rock alternativo na linha
dos Sonic Youth. Outra influência audível é o grunge, sendo que,
eventualmente, devido à mesma Kathy, alguns dos temas nos lembram as L7.
No fundo, Far Beyond The Moon é um disco de 10 temas de rock
direto, sem grandes cuidados criativos nem demasiada preocupação estrutural.
Por isso, para além de estar muito além da lua, também se situa muito além de
um produto minimamente interessante. As composições são frágeis, os músicos
desinspirados, as linhas melódicas rapidamente se esgotam e o que resta é uma
viagem musical aborrecida ansiando um rápido final. [61%]
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