MEME/Music (UNQUIET MUSIC LTD.)
(2023, Independente)
MEME/Music é o mais recente disco do ambicioso projeto
de música multiforme Unquiet Music Ltd. Este é o seu segundo álbum
oficial, mais uma vez com JP Rossi no papel criativo, acompanhado por um
conjunto de exímios instrumentistas. MEME/Music é um disco que cruza
múltiplas fronteiras entre o eletrónico e o acústico, entre a complexidade e a
simplicidade, entre estruturas e texturas clássicas e contemporâneas, profundas
e de um vigoroso art rock, adicionadas de um interessantíssimo trabalho
de jogos vocais. Embora em alguns aspetos MEME/Music se apresente como
uma continuação do álbum antecessor, In The Name Of... (A Prayer For Our Times), tanto nas
ideias quanto no conceito, acaba por apresentar uma abordagem e temática
diferenciadas, nomeadamente, pela forma como se mostra mais acessível e
reflexivo. Esta viagem musical divide-se em duas partes, sendo a primeira
metade do álbum mais industrial e eletrónica enquanto a segunda está mais
orientada para a componente acústica e romântica. [74%]
From The Great Beyond (THE GRAND ASTORIA)
(2021,
Addicted Label)
A abertura folky acústica de From
The Great Beyond, álbum de 2021, dos The Grand Astoria surpreende. Mas
é apenas a ponta de um iceberg de criatividade que se repercute numa
viagem eletro-acústica (onde também se deve incluir um banjo) de um prog
rock emocional com laivos de psicadelismo que se estenderá por mais cinco
temas. Seis temas que revisitam diversos estilos musicais, mas que surgem
sempre bem enquadrados. Até porque o coletivo volta a chamar diversos
convidados que enriquecem essa colorida palete rumo a uma explosão de emoções
difícil de descrever. Os temas mais longos (Njanatiloka e Us Against
The World) são os momentos altos. Neles o coletivo russo mostra uma
originalidade muito bem trabalhada que os leva a apresentar um prog rock
que tanto lembra os Haken como os Jethro Tull e onde se incluem
brutais linhas de piano a evoluir para ritmos africanos e estruturas jazzísticas.
Anyhow é outro tema agradável onde o uso de flautas volta a transportar
uma atmosfera folky. O problema de From The Great Beyond não são
as suas músicas. É a sua consistência. A acompanhar, pelo lado negativo, os
pontos altos referidos estão Wasteland e Ten Years Anniversary Riff
que parecem estar lá apenas para que o trabalho consiga superar a meia hora de
duração. Mas que apenas servem para que a elevada qualidade de parte do álbum
fique diluída. [84%]
Monomyth (TRANSNADEZNOST)
(2018, Addicted Label)
Transnadeznost é um coletivo de S. Petersburgo, orientado
para um stoner/psyche rock essencialmente instrumental. Monomyth
foi o álbum de estreia, composto por sete faixas versáteis, longas ou muito
longas (excluindo Chewbacca, com menos de três minutos) com uma sonoridade
ondulante e cósmica, inspirada nos anos 60. O trabalho inicia-se com uma
abordagem bluesy em Pachamama e irá ter passagens por cenários
orientais (em Hailash) e pela inclusão de um trompete jazzístico,
cortesia de Aleksey Gorshkov em Star Child e no belo e hipnótico
final, Day/Night. Huldra é o único tema vocalizado (com a voz do
convidado Egor Svysokihgor), introduzindo uma interessante variação,
embora a componente instrumental se continue a revelar psicadélica. Presente em
todas as faixas, também é notória a intenção de incluir algum experimentalismo.
Monomyth não reinventa o estilo, mas mostra-se um trabalho competente e
sólido. Segue as regras, mas consegue ser inovador e ter capacidade de
improvisação. [80%]
Erosion (TINY VOICES)
(2023, Useless Pride Records/Gunner
Records)
Quem são os Tiny Voices perguntarão
vocês? Pois bem, são os mesmos que entre 2008 e 2016 se chamaram Wank For
Peace e que regressam, como um novo nome, depois de um curto período de
ausência. E Erosion é o título deste regresso, ou seja, o título do
primeiro álbum enquanto Tiny Voices. A banda francesa volta a apresentar
a urgência do punk rock disfarçado de algum hardcore, com
melodias sing along a alternar com outras partes de vocais mais angustiantes
e berrados. O que os Tiny Voices apresentam em Erosion pode
perfeitamente ser absorvido pelos fãs de NoFX ou The Offspring,
embora neste último caso, com menos pop appeal e mais poder de fogo.
Aliás, Erosion é um álbum fortemente ritmado, sempre a abrir, embora a
espaços, surjam alguns breaks interessantes. Ainda assim, é para a
segunda metade que estão guardadas as melhores propostas: a bela melodia de That
Could’t Be Less Funny e a melodia assente num baixo absorvente do final Faults,
Faults, Faults. Sem qualquer compromisso, Erosion é um álbum
realista, preciso, desesperado e enérgico. [70%]
Dor (RUÍDO ROÍDO)
(2023, Raging Planet)
Ruído Roído é o
enigmático nome de mais um projeto que nasce no eixo Porto/Braga em 2020 por
acção de Jorge Oliveira e Márcio Décio e que três anos depois,
surge com o disco de estreia. Dor foi
produzido pelos 2 membros fundadores de uma banda que de duo passa facilmente a
quarteto com a inclusão de Rui Rodrigues
na percussão e Sílvio Almeida nos
sintetizadores. Dor traz cinco longos
temas com curiosos títulos, a começar logo pelo primeiro single, Sozinho Num Suicídio
Colectivo. O álbum abre com os mais de 15 minutos de Na Súbita Ereção do Enforcado que logo aí provoca ali inquietude e
um desconforto electrizante, uma espécie de caos sonoro. As malhas instrumentais de construção
industrial desenvolvem-se em ciclos desordenados, dissonantes e hipnotizadores,
originando uma música agressiva e sombria, levando-nos numa viagem pelos
recantos mais obscuros da mente humana e, talvez, pelas degradantes formas de
vida da sociedade atual. [70%]
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