Essências (JORGE GOES)
(2023, Independente)
O quarto álbum de Jorge Goes, Essências,
começa forte com Não Estava à Espera, Confesso, uma canção com
predominância do dedilhado da viola, o que musicalmente a transporta para o
legado do cancioneiro de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira.
A primeira metade de Essências fica ainda marcada pelos arranjos jazzísticos
de Lisboa é Lisboa. Aliás, a cidade e região de Lisboa, onde se inclui a
margem sul, dominam a temática do disco, mas sobra espaço para visitar o seu
Alentejo, a surgir já na segunda metade. E aqui sobressai outros dos momentos
marcantes deste disco: Compasso Alentejano onde o dueto com Vitorino
e a inclusão do cante resulta particularmente bem. O mesmo já não se
pode dizer de Vinícios e Redol, onde o dueto com José Cid passa
quase despercebido. Até ao final, ainda temos tempo para a versão fadista de Master
Chef, em Alentejo à Mesa, com uma letra patética e a tentativa de
perceber como soa o fado cantado em castelhano, em Fado Que es Fado.
Mais ou menos tradicional, mais ou menos castiço, mais ou menos gingão, o álbum
centra-se em composições de fado que pouco acrescentam ao que já foi feito no
género. Intitulando-se Essências, este disco está longe de ser
essencial. [71%]
Drunken Sailors & Happy Pirates (A JIGSAW)
(2011, Independente)
Depois de uma longa tournée europeia,
os a Jigsaw regressaram à sua cidade e isolaram-se em estúdio onde
prepararam o que viria a ser, provavelmente, a sua maior obra. Este terceiro
álbum da carreira intitula-se Drunken Sailors & Happy Pirates e
volta a ser conceptual, mostrando um trio exímio na simbiose entre música e
literatura. Musicalmente, é um disco mais orientado para arranjos minimalistas,
e, às vezes, até experimentais (como se percebe em Even You), mas nem
por isso deixa de soar grandioso. E para isso basta deixar entrar as magnificas
texturas de piano, os tocantes solos de violino, as belas paisagens acústicas e
as múltiplas harmonias. Para além do trio composto por Jorri, João
Rui e Susana Ribeiro, mais dois convidados contribuem para esta
obra-prima: Tracy Vandal traz a emotividade da sua voz e Gito Lima,
o groove do seu contrabaixo. Drunken Sailors & Happy Pirates
é um disco marcante em muitos aspetos, mas salientamos a valsa presente em Lovely
Vessel (com a tal participação de Tracy Vandal e um violino
magnifico); o tradicionalismo de Rooftop Joe (que aliás viria a ser o
título do EP subsequente); a melodia incrível de Devil On My Trail e o
encerramento espiritual com coros gospel num country cheio de
ritmo que é o tema-título. Mais uma obra obrigatória, na verdade como todos os
lançamentos dos conimbricenses. [96%]
Snake Oil & Lullabies (REDEYE CARAVAN)
(2023, Independente)
Foi já há três anos que fomos surpreendidos
por Nostrum Remedium, dos gregos Redeye Caravan. Sabemos que os
músicos têm andado ocupados com outros projetos, mas finalmente regressam a
este projeto de dark country para mais músicas. Mas sabe a pouco! São
apenas quatro temas lançados em formato digital sob o título de Snake Oil
& Lullabies. Um EP que abre de forma teatral com The Circus e
continua a partir daí a destilar do melhor country que se tem ouvido nos
últimos tempos. Um country com sabor a tradicionalismo e a foras-da-lei,
fortemente apoiado por uma rica instrumentação e uma tonalidade negra. Quatro
temas sensacionais que nos transportam para o velho e empoeirado oeste
selvagem, onde cowboys desafiam a vida em duelos e cartomantes desafiam
a sorte com o Tarot. E não deixa de ser curiosa a aproximação
estilística dos Redeye Caravan aos nossos a Jigsaw, nomeadamente
pelas tonalidades graves dos vocais e pela inclusão de ambientes de cariz
espiritual, neste caso mais associados ao trabalho do órgão, inseridos
subtilmente. Agora, claro que ficamos avidamente à espera de algo mais
substancial – este EP acaba demasiadamente depressa! [90%]
Electric Fox (MICHAEL VINCENT)
(2023, Independente)
Michael Vincent é um cantor/compositor e artista musical da
Bay Area, local de onde saíram grandes nomes, embora mais ligados ao metal
e não ao campo musical de Vincent. A sua banda de apoio chama-se U No Who,
tem sido com ela que tem atuado e foi com ela que gravou Electric Fox.
Este é um trabalho que mostra uma nova direção, embora o caminho escolhido seja
tudo menos empolgante. Algures entre o power pop, rock
alternativo, blues, garagem rock, americana e roots,
Electric Fox perde-se em dúvidas estilísticas e em temas demasiadamente
básicos, sem chama, nem energia e repetitivos. Adicione-se, ainda, um trabalho
vocal pouco competente. Alguns destes temas já vêm de um projeto anterior, com
cerca de 10 anos de existência, o que prova que este Electric Fox não é
uma questão de momentânea falta de inspiração. [63%]
Broken Silence (IVY GOLD)
(2023, A1 Records/Ivy Gold Records)
O projeto de all-star idealizado por Sebastian
Eder continua a dar cartas e Broken Silence mostra mais uma vez como
abordar a questão do blues rock num contexto de contemporaneidade. Este
é um disco que coloca logo a fasquia bem alta com a faixa de abertura e
tema-título, com uma espetacular abordagem ao blues de composição
elaborada e desenvolvimentos estruturados. I Am That I Am apresenta
outra grande malha de blues, embora outros cenários muito
interessantes surjam pelo caminho. Referimo-nos essencialmente às texturas de Hammond
e à forte componente de espiritualidade atingida pelos coros gospel, apresentados
um pouco por todo o disco. Neste segundo aspeto, deve ser feita referência às
magistrais peças que são No Ordinary Woman e Sacred Heart. O
resto já conhecemos e mantém-se: a qualidade vocal e a sensualidade soul de Manou
e o registo inteligentemente trabalhado das guitarras de Sebastian Eder.
[85%]
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