Mais do Menos (FRED MENOS)
(2023, Independente)
Dividido
entre o urbanismo, a lecionação e a construção de canções, Fred Menos
estreia-se com Mais do Menos, um disco onde a elegância da sua guitarra
acústica fala alto. Mais alto mesmo, só a força dos poemas, o jogo e o ritmo
das palavras. Em registo de cantautor, qual Zeca, Adriano ou Godinho, a
simplicidade da sua guitarra é muitas vezes complementada por diversas camadas
e jogos vocais, caraterizados por se desenvolverem em melodias diferenciadas.
Como em Impreciso, Rosa Linda e Tempo Livre. E, aqui e
ali, também cortada por alguma distorção longínqua vinda da guitarra elétrica e
um reduzido trabalho ao nível da percussão. Esse registo cantautor expande-se
para o country em Marta e para o pop rock em Ode Nada,
mas sem abandonar as bases intimistas e contemplativas e sem nada de registo
acrescentar. Apesar de existirem boas ideias em Mais do Menos, estas
parecem apenas esboços. Os temas são muito curtos, frequentemente sem
evoluções, ficando-se sempre à espera que avancem para um nível seguinte, o que
raramente acontece. [72%]
Creatures In The Garden (KARNEY)
(2023, Independente)
Anna Karney continua a sua carreira musical com
preocupações ecológicas e ambientais e com a justiça social no seu novo
trabalho, Creatures In The Garden. São 10 temas onde se cruzam arranjos
acústicos comoventes (chega mesmo a ser espetacular a sua versão de Sinner And
Saints que abre o disco – a versão com full band encerra-o!),
acessíveis batidas indie rock, alguma distorção controlada e sinuosas
linhas de baixo. Tudo a remeter-nos para ondas indie, emo e shoegaze
rock. Karney volta a rodear-se de alguns dos melhores músicos da
cena, sendo que sublinhamos a presença de Bill Ortiz, trompetista de Carlos
Santana, em Across The Planet com um solo memorável. Este tema, bem
como Eternity e Aurora, aqui alvo de remixes, faziam parte
de Love & Respect, de 2012. Outro membro da banda do músico mexicano
é o percussionista Karl Perazzo que participa em Wildfire. Momento
marcante deste disco é, também, a versão de Rainbow In The Dark de Dio,
numa roupagem muito própria, mantendo a tradição de criar covers de
nomes lendários, como já tinha acontecido com Ramble On dos Led
Zeppelin no EP Better e o single Heart Of Gold, original de Neil
Young. Como vem sendo hábito, a aposta de Karney volta a ser num
misto de originais e novas roupagens de temas dela ou de outros, o que acaba
por reduzir o potencial de interesse deste lançamento. [73%]
Satin/It’s About Time (SATIN)
(2023, Art Of
Melody)
Depois do sucesso que foi o lançamento do
terceiro álbum do norueguês Tommy Nilsen, aka Satin,
intitulado Appetition (2022, Art Of Melody Music), cresceu
exponencialmente o interesse pelo trabalho produzido por este
multi-instrumentista que cresceu a ouvir Elvis, The Beatles e Smokie,
mas que rapidamente descobriu os KISS e Bon Jovi. Com os Pegasus,
banda formada com o seu irmão Ronny, acabaria por ganhar um Grammy
norueguês em 2013, mas a sua estreia a solo aconteceria um ano mais tarde com o
álbum homónimo, Satin [82%], ao que seguiu It’s About Time
[84%] em 2017. O resto é história. O que carateriza ostrês álbuns da sua discografia é
que Satin fez tudo sozinho: compôs, tocou e produziu. E tudo é
apresentado com um fino recorte técnico e melódico. Como referíamos, o
interesse pelos trabalhos anteriores aumentou, mas ambos estavam… esgotados ou
eram muito difíceis de encontrar a preços razoáveis, mesmo considerando as
versões japonesas. Portanto, o passo seguinte foi proceder às reedições dos
dois álbuns, com a inclusão de dois temas bónus em cada um, precisamente os
lançados no Japão. Para Satin trata-se de Walking Away e Back Before I Go;
para It’s About Time são It’s Unbelievable e Set My Own Heart
Free. As edições são limitadas a 500
exemplares cada título. Esta é uma oportunidade de todos os fãs de bom melodic
rock/AOR completarem a sua coleção deste excelente artista, percebendo,
inclusive, a sua evolução e crescimento de álbum para álbum.
Live Dates Live (WISHBONE ASH)
(2023, Steamhammer/SPV)
Há cinquenta anos atrás, a banda de rock
britânica Wishbone Ash lançou Live Dates, aquele que ainda é
considerado o seu álbum de maior sucesso. Um marco para a banda e para o rock
em geral. Para trás tinham ficado os seus primeiros três registos de estúdio: Wishbone
Ash, Pilgrimage e Argus (considerado, pela banda, o álbum
mais importante) e a banda andava sistematicamente em tour. Meio século
depois, com um line-up renovado e com o imortal Andy Powell a
comandar, a banda resolveu comemorar esse lançamento. Como? Com a nova formação
a tocar esse álbum ao vivo, com os mesmos temas e executados na mesma
sequência, começando com os três clássicos de Argus: The King Will
Come, Warrior e Throw Down The Sword. Em 1973, Live Dates
tinha sido captado em vários locais britânicos, mas agora capta o espetáculo de
comemoração realizado no Daryl's House Club em Pawling, Nova York. Chama-se
Live Dates Live, tem uma capa significativamente parecida e traz de
volta memórias que se perderam na bruma do tempo. E é, segundo a banda, a
homenagem ao trabalho original e a todos os fãs que cresceram com a banda e aos
que os foram conhecendo ao longo deste longo trajeto. Para além dos
anteriormente citados temas, Live Dates Live também inclui o sempre
solicitado pelos fãs Rock ‘n Roll Widow, terminando com um épico duelo
de twin guitars nos quase 14 minutos de Phoenix, do trabalho
homónimo de estreia. [84%]
The Dreamer – Joseph: Part One (NEAL MORSE)
(2023, Frontiers Records)
Nos últimos anos, Neal Morse tem
literalmente entupido o mercado com álbuns em nome individual, em nome da The
Neal Morse Band, de originais ou ao vivo. E, em 2019, uma nova aventura foi
começada pelo americano: fazer operas rock inspiradas em… outras operas
rock ou musicais. Nesse ano foi Jesus Christ The Exorcist, inspirado
em Jesus Christ Superstar de Andrew Lloyd Webber. Quatro anos
passados, surge outro exemplo dessa inspiração – o novo álbum The Dreamer –
Joseph: Part One, novamente inspirado no mestre das operas rock e
dos musicais, Lloyd Webber e na sua obra Joseph And His Coat Of Many
Colours. Mas, mais uma vez, este é um álbum que pouco traz de novo à
carreira de Neal Morse. A ideia que fica é que tudo ou quase tudo que
está neste disco já esteve presente, de forma igual, nos seus múltiplos
trabalhos anteriores. Volta a ideia estranha de duas introduções (uma abertura
e um prologo), ideia já utilizada em Sola Gratia. E voltam as mesmas
linhas melódicas de sempre e as mesmas progressões harmónicas que já o
acompanham há anos. A verdade é que quando Neal Morse tenta um novo
registo este álbum melhora muito. E isso é comprovado pelo soberbo hammond
a combinar com trabalho acústico em Liar, Liar; os coros religiosos de I
Will Wait On The Lord; o uso de coros gospel num par de momentos e
na espetacular Heaven In Charge Of Hell. É isso que volta a fazer falta
a este novo disco de Neal Morse. Deixar de lado a sua fórmula habitual e
arriscar mais. [82%]
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