Live Report: Pain + Ensiferum + Eleine + Ryujin

 

PAIN + ENSIFERUM + ELEINE + RYUJIN

18/OUTUBRO/2023

Sala 1, Hard Club, Porto

 

O que é que acontece quando se juntam duas jovens promessas e dois nomes consagrados na mesma tour? Cria-se um espetáculo incrível que deixa todos os que tiveram a oportunidade de o ver com memórias para o resto da vida. Esta é provavelmente a melhor descrição possível da I Am On Tour, que passou pela sala 1 do Hard Club no Porto na chuvosa noite de 18 de outubro. Incluindo os japoneses Ryujin, os suecos Eleine, os finlandeses Ensiferum e os também suecos Pain, esta foi, sem margem para dúvidas uma das melhores tours do ano.




Não foram muitos os aventureiros que decidiram ignorar as recomendações da Proteção Civil e arriscaram ir à baixa da cidade invicta numa noite de tempestade como a de 18 de outubro. Dito isto, foram ainda menos os que se apresentaram às portas do Hard Club antes das 19:00, horas a que começou o primeiro concerto da noite. Vindos do longínquo Japão, os Ryujin não tiveram direito a uma plateia muito extensa, bem pelo contrário, mas isso não os desanimou. Foi desde muito cedo que se percebeu que os japoneses iam dar tudo o que tinham em palco. E assim fizeram. Todos os membros apresentaram uma performance coesa e entusiasmante, onde o maior destaque vai para o líder, vocalista e guitarrista Ryoji que, enquanto solava e tocava riffs extremamente técnicos, era, ainda, capaz de introduzir dualidade vocal e puxar pelo público que, apesar de escasso, reagiu sempre como se de muitos mais se tratassem. Focando o setlist no período pré-Ryujin (apesar de terem renascido com esta denominação há relativamente pouco tempo, a banda já tem mais de 10 anos de experiência sob o nome de Gyze) o coletivo apresentou uma performance extremamente energética onde houve ainda tempo para incluir o mais recente single Raijin & Fujin que estará presente no seu novo autointitulado álbum, Ryujin, que será lançado dia 12 de janeiro de 2024, via Napalm Records. Esperemos que a tour desse álbum os traga de novo ao nosso país e que, dessa feita lhes seja permitido apresentar o seu samurai metal a muitos mais metalheads portugueses.




Se a curta meia hora de concerto dos Ryujin não foi suficiente para aquecer o público que começava a aumentar no Hard Club, então o symphonic metal dos Eleine foi-o certamente. Vindos da Suécia com o seu mais recente álbum We Shall Remain na bagagem, a banda liderada por Madeleine Liljestam teve direito a um concerto de cerca de 45 minutos. 45 minutos onde o público foi levado numa experiência de extrema melodia, groove e sensualidade, sempre com muito headbanging à mistura. Abrindo com Enemies, o setlist foi, como seria expectável, focado no seu mais recente trabalho lançado a 14 de julho via Atomic Fire, o que fez com que os temas tocados tivessem um nível técnico bastante alto. Mas isso não se revelou um problema para os suecos que foram sempre capazes de interpretar os temas tal e qual como estão presentes no álbum, incluindo todos os silêncios, todas as mudanças rítmicas, todas as variâncias vocais, tanto de Madeleine como de Rikard, sem nunca perder a tão exigida interação com o público. A viagem ao mundo dos Eleine, terminaria com o tema que fechou o seu autointitulado álbum de estreia, Death Incarnate e com uma mensagem muito especial apresentada de uma forma pouco usual. Enquanto anunciava aquele que era o último tema do seu concerto, Rikard pediu, por uma última vez, a colaboração do barulhento público do Hard Club. A tarefa era simples e rotineira: gritar I, Death Incarnate na altura requerida pela música. Para tal Rikard traçou uma linha imaginária que dividia a sala 1 em duas perfeitas metades. A perda de volume na participação do público foi notória, algo que motivou Rikard a relembrar toda a plateia que juntos somos mais fortes. Assim terminaria o primeiro concerto de sempre dos suecos em Portugal. Um concerto que certamente não será o último da carreira dos Eleine em solo nacional.




Era bastante óbvio desde o início da noite que o público, agora em muito maior número, aguardava com entusiasmo o regresso dos Ensiferum a Portugal, de tal forma que parecia que eram eles os cabeças de cartaz desta tour. Apesar de já ter sido lançado em 2020, Thalassic continua a ser o mais recente álbum na bagagem dos finlandeses e, por isso foi por aí que os Ensiferum começaram o seu setlist. A Andromeda (e In My Sword I Trust) seguiram-se Run From The Crushing Tide e For Sirens, naqueles que foram os únicos três temas interpretados de Thalassic. Mas foi apenas quando se começaram a ouvir os temas mais antigos que o público se começou a soltar, a cantar, a criar mosh-pits e a fazer crowdsurfing. A variedade vocal que se observa em estúdio foi perfeitamente replicada ao vivo, bem como todos os pormenores, ideias e variações rítmicas. Por isso mesmo, tiveram direito a claque e a uma das mais barulhentas plateias de toda a tour. O concerto culminaria com um tema que foi pedido pelo público ao longo de toda a noite: Lai Lai Hei, o épico de mais de 7 minutos que se encontrava originalmente no seu segundo álbum, Iron. O espetáculo acabaria com Two Of Spades, naquele que foi um final prematuro e que relembrou a todos os presentes que os finlandeses não eram os cabeças de cartaz da noite. Esses subiriam de seguida ao palco. Quanto aos Ensiferum, resta esperar que regressem à cidade do Porto e a solo nacional quando voltarem à estrada para promover o seu próximo álbum que, nas palavras do vocalista e guitarrista, Petri Lindroos será gravado no final desta I Am On Tour.




Vindos da Suécia, os Pain não são desconhecidos para ninguém. Ao longo dos seus mais de 25 anos de carreira, a banda liderada por Peter Tägtgren criou uma fiel base de fãs espalhados pelos quatro cantos do mundo. A preparação do palco começou logo após a saída de cena dos Ensiferum e era visível que, naquele momento se estava a construir algo grandioso, tendo em conta as dimensões da sala. Tal como os Pain nos habituaram, foi com muito fumo à mistura que se começaram a desenhar silhuetas no palco e que surgiram imagens no ecrã por detrás da bastante iluminada bateria. Pouco tempo depois começaríamos a ouvir os primeiros acordes de Let Me Out. Apesar da reação do público não ter sido tão entusiasta como tinha sido para os Ensiferum, os Pain podem orgulhar-se de, através das suas melodias góticas, terem sido capazes de cativar a plateia do Hard Club. Um concerto bastante coeso e tecnicamente evoluído, cujo ponto alto seria atingido com a participação virtual do vocalista dos Sabaton, Joakin Bróden durante o quinto tema do setlist, Call Me. Nesse mesmo setlist houve ainda tempo para incluir Revolution, o mais recente single dos suecos, e Gimme Shelter, numa homenagem sentida aos Rolling Stones. A noite terminaria com Shut Your Mouth, naquele que foi o último tema do encore, fechando assim uma noite que apresentou quatro coletivos de altíssimo nível a protagonizarem uma das mais memoráveis tours dos últimos anos.

Agradecimento especial: Rita Mota (reportagem fotográfica)








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