Too Many Lies, Too Many Masters (RONNIE ROMERO)
(2023, Frontiers Music)
Ronnie Romero não é um desconhecido para ninguém. Desde que
se mostrou ao mundo com os Nova Era, o vocalista nascido em Santiago do
Chile tem tido uma ascensão meteórica que o levou a planetas tão distantes como
Ritchie Blackmore’s Rainbow ou Michael Schenker Group. O talento
do chileno é inegável, como ficou demonstrado em tantas bandas e projetos onde emprestou
a sua voz ao longo dos últimos anos. Por isso mesmo, a carreira a solo era o passo
mais natural. Depois de dois álbuns de versões, chegou finalmente a hora de
ouvirmos os seus fantásticos dotes vocais, cantando as suas próprias
composições. Infelizmente, o resultado não é tão bom quanto seria expectável.
Não que Too Many Lies, Too Many Masters seja um mau álbum, mas pedia-se
mais consistência, principalmente tendo em conta a experiência do músico em
questão. Oscilando entre um princípio de álbum básico, as fantásticas melodias
em I’ve Been Losing You, as modernices desnecessárias em Girl, Don’t
Listen To The Radio, o blues de Crossroads, a fantástica Chased
By Shadows (facilmente o melhor tema do álbum e, certamente, um dos
melhores do ano) e a velocíssima Vengeance, Too Many Lies, Too Many
Masters é um álbum de extremos que, rapidamente, se transforma de
excitante em algo banal, o que faz dele um álbum que dificilmente resistirá ao
teste do tempo. E esse é o seu principal problema. [85%]
Animae Haeretica (APOSTOLICA)
(2023, Scarlet Records)
No processo de composição de um álbum, florescem
sempre inúmeras influências. Sempre? Nem sempre. Há alguma relação entre o
número de inspirações musicais e a qualidade das músicas? Não necessariamente.
A prova disso é o segundo álbum dos transalpinos Apostolica. Intitulado Animae
Haeretica, o objetivo é claro: aproximarem-se o máximo possível dos Powerwolf.
Não dos modernos Powerwolf em que, por muito bons que sejam, todos os
temas soam e sabem ao mesmo, mas sim nos antigos que escreviam hinos imortais
como Resurrection By Erection, We Drink Your Blood ou Dead
Boys Don’t Cry. E, tal como já tinha acontecido com o seu antecessor, Animae
Haeretica é capaz de captar o espírito animalesco que caraterizou o
coletivo germânico no início/meio da carreira. Através de composições extremamente
melódicas (Heretics, Fire e Rasputin são, provavelmente as
melhores melodias do álbum), mais velozes (Angel Of Smyrna) ou mais
compassadas (Black Prophets), o objetivo é brilhantemente atingido neste
segundo trabalho de estúdio, onde há ainda espaço para duas pequenas orações (Tomorrow
Belongs To Me e Rest In a Bed Of Roses). Resumindo, Animae
Haeretica é o mais recente exemplo do pupilo que superou o mestre. [89%]
To The Gods We Swear (ROZARIO)
(2023, Pride & Joy Music)
Pode não parecer, mas David Rosario é
um vocalista norueguês cujo projeto Rozario gira em seu redor. To The
Gods We Sear é o disco de estreia que, provavelmente, irá passar
despercebido entre milhares de lançamentos que acontecem todos os meses. Ainda
assim, o que os Rozario fazem não é mau. Um heavy metal melódico,
que tanto se vira para as cavalgadas melódicas de uns Hammerfall, como
para momentos mais obscuros e densos, como acontece, por exemplo em Silent
Lies ou com sons épicos do Norte em United We Strand. Noutros
momentos (Headed For Hell e Cage), os temas acalmam e apresentam
uma sonoridade mais aberta, com Def Leppard a vir à memória. Por falar
em acalmar, Born Again é uma belíssima balada com um excelente trabalho
ao nível coral. Como se percebe, To The Gods We Swear é um disco competente,
melódico e bem executado. Mas falta aquele toque de personalidade ou de génio. [81%]
Aztlán (CABRAKAÄN)
(2023, Independente)
Nasceram no México e, apesar de terem emigrado
para o Canadá, as suas raízes continuam bem presentes na música que criam.
Falamos dos Cabrakaän, coletivo que em breve lançará Aztlán, o
seu segundo álbum. Inspirados pelo amor que compartilham pela diversidade linguística
e cultural indígena do México, a dupla formada em 2010 pelo compositor,
baterista/percussionista, vocalista e produtor de black/death metal Marko
Cipäktli e pela vocalista soprano com formação clássica Pat Cuikani,
combina a sua paixão pelo metal bruto cruzado com música folclórica do
povo Mexica/Otomi e ópera. Aliás, já não é a primeira vez que esta temática é
abordada, sendo o exemplo dos Epica, o mais relevante. Também talvez por
isso, estes Cabrakaän tenham algumas semelhanças com o coletivo
neerlandês. Musicalmente Aztlán é um disco de metal forte, onde
se cruzam vocais femininos operáticos e violentos guturais. Sempre em
castelhano, este disco torna-se tanto mais imponente quanto mais se afasta dos clichés
do género e se aproxima das suas raízes tradicionais, uma via que deveria ser
mais explorada. A mudança para este novo álbum centra-se na ponte entre as
tradições locais e a conquista espanhola, sendo tudo envolvido a uma variedade
de instrumentos históricos a conferir autenticidade e originalidade. [81%]
Azores & Metal Vol # III (V/A)
(2023, Museu do Heavy Metal Açoriano)
Pelo terceiro ano consecutivo, o Museu do
Heavy Metal Açoriano, em parceria com as mais diversas entidades, lança a
sua compilação Azores & Metal onde mostra a qualidade dos coletivos
do arquipélago. E este Vol # III volta a deixar bem patente, não só a
qualidade, como o dinamismo da cena. Por isso, dentro das 15 bandas incluídas
nesta compilação, são quatro as que se estreiam: None The Less, Mournolith
Abyss, Dust Project e InnerCircle. Do lado oposto, dois nomes
surgem pela terceira vez: os Dark Age Of Ruin, que recentemente lançaram
uma bomba de fragmentação de assinalável poder, via Selvajaria Records,
e Drvzka, agora com um dos temas mais belos desta coleção, Lost. Os
Morbid Death, lendário nome do metal açoriano, voltam a marcar
presença forte com o novíssimo Survive, assim como os Kaskaveil
com o seu stoner/sludge metal. Em termos de revelações, chamamos a
atenção para os After The Rain que regressam com o espetacular tema de metal
de influência étnica, The Call Of The Sirens; para Agnus Dei, dos
Dust Project (que se estreiam, como referimos) numa linha symphonic/gothic,
onde o piano faz toda a diferença e para a base melódica de influência
sinfónica dos Finding Sanity com We Are The Ones. Também é bom
verificar que outro nome histórico, como os A Dream Of Poe, continua em
grande forma. A prova é mesmo o incrível The Lament Of Phaethon. E por
falar em nomes a residir fora dos Açores, há ainda a presença de M1ke
que traz o novo War Sick a mostrar como se faz prog metal da
melhor casta. Outro nome que deve ser salientado é o dos Crossfaith. A
banda que lançou o memorável EP Mixed Emotion, em 2009, parece querer
voltar à ribalta: Grave Diggers é mais um malhão, depois da sua
presença na edição do ano passado. E só fica a faltar uma palavra para o
projeto instrumental de Nuno Pires, The Absolute End, que ainda
recentemente lançou Horizons; para os thrashers de atitude crossover
Damage Device; para o duo de black metal sinfónico Mournolith
Abyss e para o rock alternativo dos InnerCircle. Como se
percebe, muita variedade, muitas sonoridades diferentes. Claramente em grande a
cena açoriana. Agora só falta apostar nestes coletivos, porque qualidade não
falta. O que falta é oportunidade para se mostrarem e crescerem. E esta
compilação é um passo importante nessa direção. [89%]
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