Entrevista: Bela Noia


 

A música esteve sempre lá, mesmo que adormecida, confessa-nos Pedro Vieira, o mentor deste novo projeto nacional, Bela Noia. E o que poderemos acrescentar é que ainda bem que acordou (ou alguém a acordou), porque Os Miúdos Estão Bem e os graúdos agradecem estas paisagens sonoras. Fiquem com a nossa conversa com este artista multidisciplinar que nos chega de Viseu.

 

Olá, Pedro, tudo bem? Bela Noia é um novo projeto musical iniciado por ti. O que te motivou a dar este passo?

Pode parecer muito poético ou romanceado, mas a Bela Noia surgiu porque tinha de acontecer. Comecei a escrever e a compor por necessidade e por achar interessante fazê-lo e ao aperceber-me que tinha material suficiente para um disco, acabei por encontrar o Gonçalo que me escutou e decidiu ajudar-me. Fomos criando o disco e eventualmente há essa necessidade de nos definirmos enquanto artistas e perceber o que queremos ser com o que estamos a fazer. Só depois de termos o disco pronto é que nos tornamos uma banda. Foi um caminho inesperado, nada indicava isto, sabíamos que estávamos a fazer música e era esse o nosso foco!

 

Sendo tu um artista multidisciplinar, quando é que a música ganha esta notoriedade ao ponto de partires para a composição e gravação de um álbum?

A música esteve sempre lá, mesmo que adormecida ela foi uma parte da minha vida. Sempre ouvi imensa música, cresci a ouvir Pearl Jam e Led Zeppelin porque era o que o meu pai ouvia. Por causa dele também me virei para o desporto e nessa altura a música servia apenas para me fazer companhia. Foi quando entrei para a universidade que fiquei mais curioso, comecei a descobrir imensos artistas, imensas coisas novas na música, coisas que nunca tinha ouvido e comecei a ficar fascinado e a pensar que também queria fazer parte destes movimentos. Comecei por escrever e mais tarde peguei na guitarra. Era só um hobby, algo que mostrava aos amigos, até que conheci a malta do Carmo´81 e eles mostraram-me todo um mundo… A partir daí foi uma questão de tempo até um disco se formar e a minha vontade e atenção virar-se completamente para este disco!

 

Que nomes ou movimentos mais te influenciam ou influenciaram neste processo?

Mais recentemente tenho explorado imensa música portuguesa e tento ouvir o que está a ser feito no nosso país! Existem imensos artistas incríveis a fazerem coisas com imensa qualidade e com um discurso muito inovador. Tenho um enorme fascínio pelo André Henriques e pelo Manel Cruz! Lá de fora trago os Swans, os Neutral Milk Hotel, os Tool por exemplo… São malta que nos ensinam a ter paciência e a aprender a ouvir. São esses movimentos que me inspiram. A música deve ser sentida e não consumida.

 

Aliás, o melhor que se pode dizer de Os Miúdos Estão Bem é que não se consegue enquadrar em nenhum estilo em particular. Como é que estas canções podem ser definidas pelo seu criador?

Não me apetece definir a Bela Noia… para quê criar paredes? Só quero que as pessoas sintam o projeto, talvez acrescentar algo de novo. O que fazemos é a Bela Noia e se temos que ter uma caixa então deixem-na aberta para podermos visitar as outras!! 

 

Por falar em criador, o processo de composição esteve apenas centrado em ti ou foi mais um trabalho coletivo?

A criação parte de mim! É a minha terapia. Tenho algo a dizer e uso a música para ser ouvido. A banda entra para lapidar e polir as minhas maquetes de dois acordes! São eles que me ajudam a concretizar esta visão e mais importante, acrescentam a visão deles que enaltecem o produto final! Não seria o mesmo sem eles, mesmo partindo de mim são eles que me complementam e me carregam até ao fim.

 

Depois, para a execução chamaste alguns músicos. Quem esteve contigo neste trabalho?

Sim, o Miguel Rodrigues que agora se assume como membro era originalmente um músico que ia criar uns grooves de bateria para as canções. Ele é um excelente músico e para além de ser o melhor baterista que conheço tem uma noção e conhecimento musical incomum! Sou um sortudo sem dúvida. O Gonçalo Alegre para além de produzir e gravar também tocou imensos instrumentos. O disco não existia se não fosse ele na realidade, fico-lhe super agradecido. A Teresa Melo Gomes veio gravar umas vozes e acabou por gravar um adufe numa das canções, e ainda me fez chorar ao gravar vozes para a Tu Foste o Sol. Gostei bastante de a conhecer! E depois chamamos amigos para formar o nosso Belo Coro (risos). Falta só mencionar o trabalho exímio do Nuxo Espinheira que já deve estar farto de me ouvir, mas de quem eu gosto muito. Foi ele quem misturou e masterizou o disco.

 

O título é um pouco enigmático. Como surge e o que significa?

O título fala de uma mudança de paradigma. É na realidade uma ironia porque as canções são algo melancólicas. Fala sobretudo sobre a impreparação com que somos lançados para o mundo. Ninguém me avisou que ia ser assim… suponho que tenha que aprender sozinho.

 

E os miúdos estão mesmo bem? É que por análise do disco o termo “não” foi riscado, deixando algumas dúvidas…

Estão! ...até ver… Eu estou bem e vocês?

 

Estes temas foram compostos especificamente para este álbum ou são o resultado de um processo ao longo dos anos?

As canções foram escritas sem saber para onde iam. Eu só lhes contei mais tarde, algumas ficaram pelo caminho, outras encontraram novas amigas. Como fui escrevendo por necessidade, há canções que já têm uns anitos sim!  Outras apareceram depois de decidir fazer o disco!

 

As letras são um desabafo teu para o mundo. Podem ser consideradas autobiográficas?

São pensamentos, filosofias de vida… olhem para mim a falar como se soubesse alguma coisa da vida! Com esta idade posso dizer que são o que eu acho das coisas nesta altura da minha vida! Tentei mostrar um bocado do meu mundo apenas, eu próprio encontrei algumas luzes ao escrevê-las.

 

E como estamos em termos de palco? O que têm planeado para os próximos tempos?

Estamos a preparar uma tour a começar em janeiro, já temos concertos marcados para Lisboa, Porto, Vila Real e Viseu. Espero encontrar-vos em breve.

 

Obrigado, pela oportunidade! Queres acrescentar mais alguma coisa?

Obrigado, eu foi sem dúvida um entrevista divertida.

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