Racoons (ERLAND DAHLEN)
(2023,
Is It Jazz Records?)
Erland Dahlen é um baterista que regularmente
toca em bandas como Nils Petter
Molvær Group, Stian
Westerhus, Geir Sundstøl, Madrugada e Eivind Aarset, mas que na totalidade já tocou
em mais de 300 álbuns dos mais diferentes artistas
pertencentes aos mais díspares estilos musicais. Em nome próprio, tem criado as
suas obras com base no seu instrumento, explorando as suas potencialidades
rítmico-harmónias. Como volta a acontecer em Racoons, o quinto álbum da
carreira. Um Racoons onde o músico norueguês explora diferentes registos
sónicos produzidos por uma panóplia de instrumentos de percussão, aos quais se
adiciona a necessária componente ambiental criada por um conjunto de teclados
analógicos, como Hammond, mellotron e sintetizadores moog.
Vozes apenas se ouvem em Auto, e mesmo essas, retiradas de uma velha
gravação em fita de Knut H. Sletteveit (1910-1994). Por isso, descrever Racoons
não é muito fácil, embora sempre se possa referir as suas vertentes avant-gard,
ambiental, profunda e experimental. Mas de uma forma que leva a que as
composições se mostrem consistentes, fluidas, sempre evolutivas, mas com um
traço de sequencialidade. Um misto de jazz, experimental e ambient
em cenários de texturas ricas e desafiantes. [79%]
III (UNIFONY)
(2023, Volkoren)
Unifony é um projeto começado em 2016 por
Minco Eggersman e Theodoor Borger para dar lugar a uma nova forma
de criatividade. Para este projeto, o duo convida vários músicos para com eles
procurarem a pura essência da música. Juntos, saem dos caminhos tradicionais e
redescobrem a pureza através de uma acentuada experimentação instrumental. Aqui
não são compostas músicas com base em notas musicais, mas sim no uso de sons em
camadas cuidadosamente elaborados, onde a falta de palavras dá lugar à
liberdade e espiritualidade. Para esta terceira aventura exploratória, os
convites foram endereçados a Moya Brennan (Clannad) e, mais
tarde, a Nils Petter Molvaer. Ela cantou, pela primeira vez num álbum
sem usar palavras, adicionando ainda a beleza da harpa; ele acrescentou o som
claro e jazzístico do seu trompete. Ambos proporcionaram um toque
diferente às composições. Um toque reconfortante, exuberante e esperançoso,
numa forma livre e meditativa de criar música através de improvisações
atmosféricas. [78%]
Good Son (KING JOHN)
(2023, Echo Rock)
King John é o projeto do açoriano radicado em Lisboa, António
Alves. E depois de um silêncio de três anos volta aos lançamentos com Good
Son, um disco onde se procura, em 9 temas, responder à dúvida existencial
fui/sou um bom filho? Serei um bom pai? Independentemente das respostas que se
encontrem para essas questões (e, acreditamos, cada um terá a sua), deve ser
salientado que King John acabou por construir, para este seu segundo
registo, um belo naipe de canções. Maioritariamente tranquilas, com uma vibe
70s que nos remete para os The Beatles, cruzada com uma sonoridade mais
moderna que o aproxima dos Coldplay, por exemplo. Um registo musical
onde o piano e a guitarra acústica assumem papel principal, embora, a espaços,
surja alguma distorção ao nível dos solos, aspeto bem pincelado
fundamentalmente nos dois temas iniciais. Apesar de se notar um aumento da falta
de força e de intensidade à medida que se avança pelo disco fora, sempre devem
ser destacados outros momentos emblemáticos deste disco: o registo cantautor,
só com piano e guitarra clássica de White Keys; a estranheza sonora e
algum psicadelismo a lembrar The Doors em Change(s) ou a
abordagem mais indie rock do single Julia (Circles Of Life), com
o belo efeito da inclusão de um coro de criaças. Pormenor que tão bem cruza o
conceito de Good Son. [77%]
Sophomore (D’VIRGILIO, MORSE & JENNINGS)
(2023, InsideOut Music)
A troika do rock
progressivo está de volta. Não para impor aumentos dos impostos, mas para
proporcionar quase uma hora de música agradável. Sophomore é o novo
álbum deste projeto que reúne Nick D'Virgilio (Big Big Train), Neal
Morse (Transatlantic, NMB) e Ross Jennings (Haken,
Novena) e que nasceu em 2021. E, mais uma vez, o trio segue o caminho de
músicas mais simples e básicas do que habitualmente fazem (até menos
desenvolvidas que as presentes no primeiro álbum), quase sempre em formato
acústico e com aposta nas harmonias criadas por essa instrumentação e,
principalmente, pela conjugação das três vozes. Aqui e ali surgem alguns órgãos
analógicos e alguma distorção, mas Sophomore é, basicamente um disco de
canções singelas e acústicas. Outra novidade que se pode perceber neste Sophomore
é a costela country e folk, bem mais desenvolvida, o que o
transforma num disco de forte pendor de roots e americana. [84%]
And It’ll All Be Good (SCREAMING BONES)
(2023,
Wormholedeath Records)
And
It’ll Be Good é o mais recente lançamento do projeto Screaming
Bones. Um trabalho imerso em
paisagens psicadélicas e sonoridades hipnóticas onde os riffs de
guitarra vão encontrando o seu espaço. Este é um disco que resulta, claramente,
de múltiplas experiências sonoras, através da exploração e manipulação dos sons
e da engenharia musical. O uso da guitarra pode ser ouvido de uma forma um
pouco mais tradicional, como em Ghost Ride ou Leave Me Alone, ou
então com a repetição infindável (a ultrapassar o limite da exaustão, muitas
vezes), de linhas distorcidas e reverbs distópicos, como em Dragonfly
ou Hive Song. Por vezes, os sintetizadores intrometem-se na guitarra,
criando um efeito ainda mais difuso e perturbador. Este é, pois, um álbum
estranho. Um álbum que precisa tempo para ser descoberto e absorvido. Mas para
isso, podia perfeitamente ter sido mais limitado no tempo. Acreditamos que para
Mike Ludwig, a mente por trás dos Screaming Bones, o tempo pouco
significado tenha. Mas, para nós, And It’ll All Be Good toca o desespero
na sua forma interminável de repetições sobre repetições. Mais que uma mente
aberta para ouvir este disco, é preciso muita paciência! [69%]
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