Reviews VN2000: RUI GAIO E OS 365 EVERYDAYS; JORGE RIVOTTI; MONTE BRANCO; COLIN EDWIN & ROBERT JÜRJENDAL; STEVE ANDERSON
Fractal (RUI GAIO E OS 365 EVERYDAYS)
(2023, SudSud)
São 12 everydays.
Que é como quem diz 12 momentos. Ou, por outras palavras, 12 peças
sonoro-cinematográficas. É o segundo trabalho de Rui Gaio e os 365 Everydays,
mais uma vez apresentado num espetacularmente original álbum-livro em
serigrafia, onde cada faixa é presentada com um everyday devidamente
numerado, ao qual se acrescenta um subtítulo. Com o álbum-livro é possível
ouvir essas faixas a partir QR Code nele incluído, enquanto o autor faz
uma breve apresentação do conceito de cada everyday. Musicalmente, Rui
Gaio assenta as suas criações em explorações sonoras minimalistas e etéreas
com base no piano (na grande maioria) e dos sintetizadores. Alguns dos everydays
têm letras cantadas, outros têm declamações de poesias, outros, ainda, incluem
narrações, spoken words e samples de outras passagens vocalizadas
e/ou outros sons. O melhor momento é conseguido com o Everyday 65 – Beneath
The Sea, num registo de elevada musicalidade e cinematografia que nos
remete para o trabalho de Rodrigo Leão com Scott Mathew. No
entanto, não volta a haver mais nenhum everyday com a genialidade deste.
E o álbum acaba por se ir arrastando até Everyday 59 – Galamares, faixa
que encerra o álbum com um piano sinistro e declamação. Mas que se estende por
tempo exageradamente longo. [75%]
… E Outras Canções Que Não Quiseram Ficar Para Tias (JORGE RIVOTTI)
(2023, AVM Music)
... e Outras Canções Que Não
Quiseram Ficar Para Tias,
é o álbum que Jorge Rivotti, quis que acontecesse, para que 30 anos de Música não ficassem ali sentados no sofá a ver séries, de canais que não ligam pevide àquilo que vai na cabeça, da parte de trás do olhar. É o que diz o PR que acompanha este
lançamento. Mas algumas destas 10 canções bem que poderiam ter continuado no
sofá e nunca terem entrado numa edição musical. O curioso é que este álbum até
começa muito bem com os três temas iniciais muito bem construídos e a abranger
diversos registos. Mas, depois, na segunda metade, surgem as tais que deveriam,
efetivamente, ter ficado para tias. Ou algumas boas ideias que esbarram
sistematicamente em letras sem sentido, ou mesmo composições, elas próprias,
sem sentido. A safar a segunda metade está Paixão Impossível, a longa e
brilhante peça de piano de cauda numa execução fenomenal do Maestro António
Vitorino D’Almeida. Para piorar a situação, Jorge Rivotti não tem,
claramente, um dom para atribuir títulos. Começa no próprio álbum e continua
por absurdos como Rosinha Vem-te Comigo, Vida de Gaveta e Mafalda
Já Não Tem Seis. … e Outras Canções Que Não Quiseram Ficar Para Tias
é, acima de tudo, um disco altamente desequilibrado que vai do muito bom ao
sofrível em questão de minutos. [74%]
Cura (MONTE BRANCO)
(2023, Independente)
Os Monte Branco são um
coletivo muito jovem, mas composto por gente com alguma experiência. Nasceram
no Porto no início deste ano 2023, sendo o resultado da convergência de músicos
habituados a outros ambientes sonoros, mas que encontraram no indie pop o
seu denominador comum. E Cura é o seu primeiro registo, um EP de 4 temas
espalhados por dezassete minutos de dream pop e soft rock
cantando em português. Um conjunto de temas que carrega o revivalismo das
bandas nacionais dos anos 80, lembrando, nomeadamente, os seus conterrâneos Ban.
Apesar desse revivalismo, Cura é, claramente, orientado para sons
modernos e essencialmente urbanos. Para já, este é um trabalho demasiadamente
curto, ficando à espera de mais novidades deste jovem coletivo. No entanto, as linhas
melódicas de Esse Dia Vai Chegar prometem ficar coladas na memória de
quem o ouve. [72%]
The Weight Of A Shadow (COLIN EDWIN & ROBERT JÜRJENDAL)
(2023, Hard World)
Colin Edwin e Robert Jürjendal conheceram-se no
projeto Slow Electric, liderado por Tim Bowness e do trabalho em
duo que se seguiu nasce The Weight Of A Shadow. O segundo álbum do duo
explora passagens meditativas e introspetivas, enquanto desenvolve ritmos
hipnóticos em momentos de puro devaneio experimental, onde os reverbs
assumem particular destaque. Música minimalista, mais, ainda assim, exigente.
Música que toca o ambient, o post rock e o prog rock. Com
tonalidades exóticas, texturas místicas, ruídos bizarros e ciclos distópicos.
Tudo à base das cordas dos diversos baixos e guitarras utilizados pelos dois
músicos, aos quais se associam, talvez em demasia, as programações. Afinal,
qual será o peso de uma sombra? As dúvidas podem ser esclarecidas (ou mais
acentuadas) a partir da audição desta exploratória aventura musical. [74%]
Journeyman’s Progress – Part One (STEVE ANDERSON)
(2022, Independente)
Membro fundador dos The Room e há longos anos nos Grey Lady Down e Sphere3, Steve Anderson aventura-se, pela primeira vez, num trabalho a solo. O resultado já data do ano passado e intitula-se Journeyman’s Progress – Part One. Trata-se de um registo instrumental, onde se apresenta uma variedade de origens composicionais. E aqui incluem-se texturas tão distintas como delicadas melodias acústicas, taciturnas paisagens sonoras cinematográficas e peculiares camadas de percussão. Os 11 temas dividem-se entre aparentes projetos de canções, de estruturas rebuscadas, mas ainda à procura da sua forma final e outros momentos complexos e com musicalidade. Realça-se também a componente de experimentação presente em alguns trechos. Journeyman’s Progress – Part One é um registo eclético e imprevisível, mas pouco empolgante. Para a segunda parte terá de haver um substancial reforço ao nível da musicalidade. Porque ao nível da competência técnica, não há dúvidas. [74%]
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