Entrevista: Casablanca

 

Na história do metal feito em terras lusas terá sempre de haver um cantinho para os Casablanca, que, na altura como Valium, foram um dos nomes precursores do movimento. Muito tempo passou, muitos altos e baixos, muitas boas e más opções, mas o legado está aí. E a banda também com o lançamento de Last Request, também ele uma forma de corrigir o passado. O guitarrista Jorge Figueira concedeu-nos a honra desta entrevista.

 

Olá, Jorge, tudo bem? Antes de mais deixa-me dizer que é uma verdadeira honra poder fazer esta entrevista contigo e com os Casablanca. Depois, a banda está de regresso aos discos com Last Request. Este disco foi mesmo um último pedido dos fãs?

Os nossos agradecimentos pelas tuas palavras iniciais. Quanto ao título Last Request, é mais uma resposta a um pedido de Casablanca

 

Os Casablanca já não têm lançamentos desde Once Upon A Wasted Time, de 2002. Alguns anos depois, a banda pararia. O que se passou nessa altura?

Cansámo-nos de investir muito tempo e dinheiro e receber pouco. Pouco dinheiro e respeito.

 

Mas, mesmo nessa altura com essa paragem, a banda continuou junta a tocar versões, não foi?

Exato. Optámos por apostar exclusivamente no projeto Smoke On The Motor, que já existia em simultâneo com Casablanca. Uma banda de versões direcionada para o circuito motard ganha mais dinheiro numa atuação do que uma banda jurássica portuguesa de heavy metal

 

E depois dá-se um novo regresso em 2021. De que forma os Smoke On The Motor ajudaram a reerguer os Casablanca?

Não foi em 2021. Surgiu um convite para uma atuação no RCA, em Lisboa (um “regresso aos palcos após 12 anos”), o que veio a acontecer em 18/02/2017. No final desse concerto, veio outro convite para uma atuação no Stairway Club, em Cascais (31/03/2017). Depois? Mais do mesmo. As propostas de atuações não eram minimamente aceitáveis. Voltámos a apostar no projeto Smoke On The Motor. Desta vez, em simultâneo com Casablanca, visto que começámos a trabalhar na pré-produção do CD que só veio a ser lançado em 2023. Posso antecipar a pergunta óbvia: “Tanto” tempo? A inevitável pandemia e algumas mudanças contribuíram para esta demora: o regresso do baterista Ricardo Rosales, um estúdio diferente (Underground Music Studio) e um técnico diferente (Ricardo Palma). A gravação propriamente dita decorreu entre dezembro de 2021 e agosto de 2022.

 

Curiosamente, ao longo da vossa carreira começaram a cantar em português e depois mudaria para o inglês, que ainda hoje se mantém. Porquê?

Tinha a ver com as limitações linguísticas do primeiro vocalista…

 

Chegando a Last Request, este é, também, um tema do álbum Sands Of Wasted Time, de 1996. Há algum ponto de contacto entre estes dois álbuns ou é apenas coincidência?

Não foi coincidência. Há, de facto, um grande ponto de contacto. E a sua importância nas nossas vidas é, também, grande: Tanto, Do Que Passou, Nada Ficou?, Sands Of Wasted Time, Another Day, Once Upon A Wasted Time… no tema Last Request, não havia “time for a last request”. Desta vez, houve.

 

Por outro lado, Last Request é composto por duas partes. A primeira constituída pela totalidade dos temas do vosso último álbum; a segunda com temas clássicos, ainda em português. Fizeram alguma alteração a estes temas?

É natural que haja diferenças. Nós também estamos diferentes. No caso dos temas em português, até o vocalista e o baterista são diferentes! 

 

O que esteve na origem ou motivou este lançamento?

Foi a vontade de corrigir o passado. Não ficámos satisfeitos com o som do álbum Once Upon A Wasted Time. As músicas mereciam um som digno. Aproveitámos e incluímos 4 temas mais representativos da fase em português para “revisitar” o tempo em que não cantávamos em inglês. Aliás, há muita gente que até prefere essa fase.

 

Agora que a banda está de volta ao ativo já há novos temas em fase composição? O que nos podes dizer a este respeito?

Ainda estamos a digerir “este”. Logo se verá…

 

Os Casablanca foram das primeiras bandas a fazer heavy metal em Portugal, ainda como Valium. Ainda te lembras como foi esse início?

Sim. Havia autenticidade e, obviamente, ingenuidade. A partir de uma certa altura, algumas pessoas começaram a achar que não havia espaço para tantas bandas e fanzines. O respeito e a “concorrência” saudável deram lugar à adulação (“graxa”) e à hipocrisia. Valia tudo. E agora, onde é que eles estão?

 

E, agora olhando para trás, quais são as diferenças mais significativas que encontras para quem se inicia nestas lides?

Hoje é tudo mais fácil para quem começa. Os instrumentos já não são tão caros, há estúdios para ensaiar (e gravar, embora muita gente o faça em casa), se quiserem aprender a tocar, há muitos recursos online, não precisam de comprar ou fotocopiar revistas de amigos (como nós fazíamos) e se quiserem tocar ao vivo, há salas em condições, desde que não se importem de tocar à borla ou receberem quase nada… (há exceções, claro).

 

De alguma forma sentem essa responsabilidade? Ou é mais orgulho de ter pertencido a essa época precursora de tudo?

Sim, é mais orgulho do que responsabilidade.

 

Muito obrigado, Jorge! Queres acrescentar mais alguma coisa?

Fica sempre algo por dizer, como é óbvio. Os meus agradecimentos, Pedro!

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