No início, João Morais trouxe a viola campaniça para
o mundo. Agora, com o seu último trabalho, O Gajo traz o mundo à sua campaniça.
A partir do Brasil, onde se encontra em tournée, João Morais falou-nos de Não Lugar,
dos projetos em andamento para o próximo ano e da vontade de voltar, de uma
forma não regular, ao rock. Confiram.
Olá,
João, como estás? Mais uma vez, obrigado pela tua disponibilidade. E, de
repente, estás no teu quarto álbum como O Gajo! Pensas nisso e no teu trajeto
desde Longe do Chão?
Olá, não, não penso muito nisso. Sinto sempre alguma
urgência com as ideias novas pois quero que tomem forma e não desapareçam e por
isso o foco é sempre no próximo passo e não no passo anterior.
E
alguma vez pensaste, quando em 2017 lançaste o primeiro álbum, que chegarias a
este nível?
Este projeto arrancou com expetativas muito baixas
pois a Viola Campaniça e a música instrumental não estavam (nem estão) no topo
dos interesses do público. Fez sentido para mim. Em relação ao nível em que
estou, não consigo ter essa perceção e limito-me a responder aos desafios à
medida que estes se cruzam comigo.
Bom, mas Não Lugar é o teu mais recente disco. Porque a escolha deste título
Sinto-me num espaço de constante exploração criativa
sem trabalhar um género musical específico. Houve um início, haverá um destino,
mas eu irei passar a maior parte do tempo num espaço entre esses dois pontos.
Em transição. Num “Não Lugar”. O convite que fiz a convidados de várias
geografias também tornou este espaço menos específico.
Um
dos aspetos muito importantes no teu trajeto é a capacidade de, em cada álbum,
acrescentar ou mudar sempre algo. Desta vez isso volta a acontecer e, pela
primeira vez tens um tema cantado. Quando é que te surgiu a ideia?
Basicamente, a ideia é sempre essa, fazer algo no
novo disco que não tenha acontecido nos discos anteriores. Uma música cantada
foi um desafio que criei para mim próprio.
E
porque chamar a Kátia Leonardo para a cantar?
A Kátia surgiu de forma bastante espontânea.
Conhecemo-nos num evento solidário no início da guerra na Ucrânia e um pouco
antes da gravação do disco. Gostei da sua energia, da sua personalidade e
depois conheci o seu trabalho. Ela tem uma grande voz e é muito versátil.
Fiquei muito satisfeito com o resultado.
Depois,
em termos musicais, Não Lugar é uma viagem pelas músicas do mundo.
Como se proporcionaram essas participações nos mais diversos instrumentos?
Mais uma vez foi um grande desafio que lancei a mim
próprio. Pensar em vários convidados com instrumentos distintos e compor as
músicas a pensar nessas colaborações. O caso da Korá do Mestre Braima
Galissá da Guiné foi talvez o mais complexo. O Sitar Indiano do Luís
Simões só foi mais simples porque já nos conhecemos há muito tempo, e a
Viola Caipira tem uma composição mexida e complexa que deu também muito que
fazer. Mas foi mais um disco que fechei com um grande sentimento de missão
cumprida.
Quando
te surgiu este conceito de incorporares sonoridades de instrumentos típicos de
outros países? Foi à partida para o projeto ou com o seu desenvolvimento?
Foi uma ideia que acima de tudo espicaçou a minha
criatividade e me levou para sítios onde ainda não tinha estado musicalmente.
Claro que as melhores soluções poderão permanecer no futuro, mas esse futuro
não está escrito e eu sou bastante instável nas orientações futuras.
Sabemos
que tens tido bastantes oportunidades de apresentar o teu trabalho ao vivo. Com
as diferenças que há em termos de instrumentação entre os teus diversos álbuns,
em que formato é que te apresentas?
O formato a solo tem sido sempre a base, mas o trio é
agora aquele que me interessa fazer crescer, podendo depois incorporar os
convidados que estiverem disponíveis para cada ocasião. Não há um só formato
fixo. Cada evento tem também as suas caraterísticas e eu posso sempre adaptar a
formação.
Já
que falamos em palco, o que tens agendado para os próximos tempos?
Estou a responder a esta entrevista a partir do Rio
de Janeiro onde tive um concerto esta semana e daqui a dois dias tenho outro,
depois sigo para Porto Alegre e São Paulo onde terei mais 5 atuações. No
arranque de 2024 lanço novo disco de colaboração com o Ricardo Vignini
que é um tocador de Viola caipira de São Paulo. O disco chama-se Terra Livre
e o concerto de apresentação está marcado para dia 2 de fevereiro no CCB em
Lisboa.
E
como sei que essa cabeça nunca para, já tens ideias para o próximo passo de O
Gajo?
Depois deste disco Terra Livre, irei começar a
montar o puzzle do próximo trabalho para o qual já tenho muitas ideias
que irão trazer muitas novidades para este meu percurso. Antes disso espero
ainda lançar um disco que gravei com um grupo de cantares alentejanos e que
está pronto, mas para já na prateleira.
Penso
que já te perguntei isto, mas lá vai mais uma vez – ainda pensas em voltar ao rock
ou, eventualmente, reativar os Gazua?
Sim, vou pensando nisso, não para voltarmos para um
trabalho regular pois o país não mudou muito e sei o quanto isso pode ser
cansativo e frustrante, mas para fazermos coisas pontuais que não exijam uma
rotina de trabalho apertado.
Muito
obrigado, João, mais uma vez. Queres acrescentar mais alguma coisa?
Apenas agradecer mais uma vez o apoio e deixar um
apelo para que a malta equilibre a presença digital com a física. Like?
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