Reviews VN2000: JUAN CARLOS QUINTERO; KUMPANIA ALGAZARRA; LEAH WAYBRIGHT; SEEKERS ARE LOVERS; LUSTRO
Desserts… (JUAN CARLOS QUINTERO)
(2023, Moondo Records)
Juan Carlos Quintero pode não ser um nome tão
mediático como Carlos Santana ou Rodrigo & Gabriela, mas
quando se trata de bem tratar o jazz latino e todas as outras
sonoridades da América do Sul e do Caribe, também deve ser considerado. Do jazz
à salsa, passando pela bossa nova, habanera ou rumba,
este seu novo trabalho… é uma inesquecível viagem! Desserts… reúne
canções criadas nos princípios dos anos 60 por gente ilustre como Vinicius
de Morais, António Carlos Jobim, Benny Golson, Van
Morisson ou John Gillespie, entre outros. São 10 composições que mostram
este experiente quinteto liderado pelo colombiano a navegar numa variedade de
clássicos bem elaborados, reimaginados com novos e delicados arranjos. A
guitarra caraterística de Quintero lidera esta viagem pela história da música
de cariz latino. E, depois da bela refeição que tinha sido o álbum de 2022, Table
For Five, o menu está, finalmente, completo com esta deliciosa
sobremesa Desserts…! [91%]
Histórias e Raízes (KUMPANIA ALGAZARRA)
(2023, Independente)
Ao longo de 20 anos, a música dos Kumpania
Algazarra viajou pelos quatro cantos do mundo, numa abordagem
multicultural difícil de reproduzir. E, ao comemorar o seu vigésimo
aniversário, o coletivo volta a frisar essa multiculturalidade, onde fica bem
patente a influência da canção popular portuguesa logo no tema de abertura. Mas
este é um disco que vai às raízes e às histórias de vários povos, da Europa à
África, passando pelos Balcãs, ao Oriente e ao Caribe, sem esquecer a
portugalidade. Sempre com uma alegria contagiante, mas onde também se mostra
vontade em modernizar. Por isso o convite aos rappers Synik e Estraca
que introduzem o seu fraseado feito de ritmo nas palavras no ritmo dos
instrumentos. Instrumentos esses, também de diversas origens e tonalidades. Histórias
e Raízes é um disco feito de festa e de divertimento. Mas uma festa com
seriedade, onde não falta a crítica política e social nem a consciência
ambiental. [82%]
Dreamed (LEAH WAYBRIGHT)
(2023, Invasion Merch)
Leah Waybright é uma artista completa:
compositora, pianista, gravadora, professora, artista floral, preservacionista
de flores silvestres e sonhadora. O fio condutor que liga estas paixões é o seu
papel como Contadora de Histórias. Que não se limita às palavras, transbordando
para a criação musical que, mesmo que em registo instrumental, transporta todas
as emoções. E na companhia de membros dos Happy The Man, Trans-Siberian
Orchestra e Steely Dan, lança o seu novo registo Dreamed, o
resultado de anos de elaboração de composições.
O DNA musical de Leah é imediatamente percetível nas melodias e nos
ritmos, elegantes, cativantes e misteriosos, onde se destaca o som delicioso do
piano de cauda, instrumento com muito mais foco neste álbum. Embora as
contribuições habilidosas dos outros músicos (nomeadamente de Gary Blu
no saxofone, flautas e clarinete) acabem por ser relevantes para o conteúdo
harmónico e rítmico, inclusive arrastando estes temas para campos de mais
experimentalismo (numa aproximação a Nik Turner) ou do rock
progressivo (numa aproximação aos Jethro Tull). Dreamed combina
as duas paixões de Waybright: traz a riqueza dos arranjos musicais construído
sobre o perfume das suas flores. É um disco sereno e cinematográfico, uma banda
sonora de vida, um momento de introspeção e um sonho. [76%]
Nepenthes (SEEKERS ARE LOVERS)
(2023, Echozone)
Na mitologia grega, Nepenthes
é um medicamento que, quando misturado com vinho, supostamente eliminava o
sofrimento, afastava o medo e fazia esquecer as doenças. E foi este o nome que
os alemães escolheram para batizar o seu álbum de estreia. No entanto, para
este coletivo de Munique praticante de gothic rock cruzado com electro
rock e darkwave, parece resultar de forma inversa. Nepenthes
é um disco que usa, como convém, tecnologias e as batidas eletrónicas, embora
sem nada acrescentar nem inovar em ralação ao que já tantas vezes foi feito. A
essas batidas associam-se guitarras responsáveis por trazer a dose necessária
de energia. Mas, tudo sem grande inspiração e sem ser capaz de, em algum
momento, se mostrar minimamente entusiasmante. Mas a situação ainda piora, uma
vez que o trabalho vocal se revela confrangedor. Vai-se safando o romantismo
negro que acompanha toda a criação e a profundidade sofrida que o coletivo
consegue criar em algumas atmosferas. Muito trabalho pela frente espera estes Seekers
Are Lovers. [69%]
Esquecimento Global (LUSTRO)
(2023, Fábrica do Rock)
Paulo Pereira (vocais e
guitarras), Rui Gomes (guitarras), Mike Ferreira
(bateria) e Pedro Costa (baixo) são os elementos dos Lustro,
banda rock nacional nascida em 2016. Filhos do palco e amantes do rock,
os Lustro contam no seu historial com os EPs: Nu Ar (de 2017) e O Diabo
Também Chora (de 2021). Já este ano o quarteto presenteia os seus
fãs com mais um EP, Esquecimento Global, onde incluem mais três temas
de rock musculado, com batida forte e dinâmicas ritmadas e com refrões catchy.
Pulsantes riffs de guitarra cruzam uma adequada fragmentação e groove,
onde se inserem breaks inteligentes e um rock ‘n’ roll cheio de
intensidade embelezado por um interessante jogo de palavras. Paulo de
Carvalho participa, numa forma muito diferente do que lhe conhecemos, em
Vida, um dos três temas fogosos que prometem e que deixam muitas
expetativas no ar para um próximo longa duração. [87%]
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