Bivouac (NICK FRATER)
(2023, Think
Like A Key Music)
Não lembraria a ninguém fazer um álbum com um
tempo, digamos, normal (cerca de 50 minutos, pouco menos) e nele incluir… 23
canções. Bem, na verdade o que Nick Frater apresenta no seu 11º álbum de
estúdio, Bivouac, não são propriamente 23 canções. São algumas canções e
uma multitude de curtos interlúdios ou peças de ligação. No fundo, como se de
uma obra só se tratasse, até porque todas essas faixas estão ligadas o que
permite que se tenha uma audição continua deste álbum. E este é uma ideia que
se aplaude, porque resulta. Também se aplaude que o britânico tenha conseguido
construir um bom naipe de temas de uma pop sofisticada e marcada por melodias
tocantes. Faixas que se inspiram no trabalho dos The Beatles, de John
Lennon e até dos Queen. Mas, com 6 faixas abaixo do minuto de
duração e mais 5 que pouco ultrapassam o minuto, é muito difícil conseguir-se
consistência. Mesmo em continuidade. É este o problema de Bivouac. Nick
Frater tinha-se concentrado numa dezena de temas – que têm, como referimos,
boas melodias e bons arranjos – tinha-os trabalho com maior profundidade e
poderíamos estar aqui a falar de um álbum único. Assim, é um conjunto de
esboços mal terminados. Ainda assim, louve-se o arrojo e a disponibilidade para
este passo na sua carreira. [75%]
White Sharks Don’t Eat Flowers (TRICYCLES)
(2023, Lux Records)
São oriundos de Lisboa, mas a sua sonoridade
está intimamente ligada ao som de Coimbra. Um indie rock tranquilo,
contemplativo, minimalista, mesmo. Passaram quatro anos desde a estreia
homónima, e os Tricycles buscam, agora em White Sharkes Don’t Eat
Flowers a continuidade da sua sonoridade. O primeiro single foi Old
Computer Games e revelou-se uma boa escolha – bem se pode dizer que é a
melodia mais bela que o coletivo já compôs, num registo acústico que nos remete
para os Silence 4. Logo a seguir, Higher Hell injeta o som
analógico do órgão. Estamos na fase inicial de uma viagem que terá, no total,
14 paragens, mas onde mais nenhuma se aproximará da beleza destas duas.
Mantém-se a sonoridade orgânica, fortemente acústica, mas vai perdendo força e
a chama vai-se apagando. Como se comprova em The Day When You Won – com
um título destes, a celebrar uma vitória, como é possível tanta falta de garra?
Ritmos mais interessantes surgem em Sunny Days, um tema a lembrar o
verão, mas muito primário nos seus jogos vocais. Outro erro dos Tricycles
foi passarem de 47 minutos do primeiro álbum para mais de uma hora neste segundo.
Desta forma apenas ampliaram o espectro do sentimento de exaustão. [70%]
T-1 Contact Information (TU-NER)
(2023, 7D Media)
Trey Gunn e Pat Mastelotto, lendas dos King
Crimson, juntaram-se a Markus Reuter (Stick Men) num novo
projeto que onde se exploram os limites da capacidade criativa e musical. Assim
nascem os Tu-Ner cuja estreia T-1 Contact Information mostra um
álbum que se desenvolve em sucessivas camadas de improvisação. Nota-se uma
incrível química entre os músicos, percebe-se que as ligações que se
estabelecem entre eles são únicas. O resultado é seguirem juntos e de forma
completamente livre por caminhos que nunca foram escolhidos nem trilhados,
traduzindo-se em cenários musicais cheios de malabarismos e de inovação onde a touch
guitar ganha particular relevância. O álbum tem, na sua globalidade, groove
e ambiências que lhe transmitem um certo sentido de obscurantismo e de risco.
Mas, o risco maior é ser um álbum que será consumido apenas pelos pares. [73%]
Overdue (KAKERLAKK)
(2023, Independente)
A génese dos Kakerlakk já vem do ano de
2003. Mas, muitas das sementes destas faixas que agora compõem Overdue,
já vêm de 1994, quando o vocalista e guitarrista Carlos Matos começou as
escrever as suas próprias canções. Agora, 20 anos depois dos Kakerlakk
se terem apresentado pela primeira vez na RDP-Açores, o projeto lança,
finalmente, o seu primeiro álbum. Overdue traz nove temas fortemente
emocionais, de bases acústicas, compassado e com muita melodia e melancolia.
Orquestralmente também se mostra um trabalho bem conseguido com os teclados e
pianos a serem muito bem entrosados com a restante instrumentação, criando uma
muito agradável teia harmónica. Sleep Little Child, Another Fool e
Give Me Back The Sun e No Show são, nestes aspetos, os temas de
maior impacto, os mais envolventes e estão perfeitamente orientados para fãs
dos Tiamat ou Katatonia. Mas, os Kakerlakk têm uma outra
versão de si próprios. Mais diretos, mais rockeiros ou mais
alternativos. A prova que os açorianos conseguem reinventar-se de forma a
mostrar diferentes perspetivas sonoras das suas criações. Para já Overdue
está disponível apenas em formato digital. Uma edição física está, todavia,
prevista para breve. [86%]
Vultureville (GOD VILLAIN)
(2023, Independente)
Corria o ano de 2021 quando God Villain
lançou o álbum de estreia Down To Earth. A ponte entre esse primeiro
álbum e o seu sucessor foi o EP de cinco temas, Faith & Dope, já
datado deste ano. Desfeita a ansiedade, o segundo longa-duração foi rápido e
surge na forma dos 12 temas que compões Vultureville. Um álbum que volta
a marcar pela diversidade musical. Sendo certo que é assumidamente um disco de rock
com as guitarras musculadas e, quase sempre, a aproximar-se de ondas grunge
(Nirvana e Jane’s Addiction, principalmente), merece ser
referenciado o lado funky com que o power trio adorna as suas
canções. De tal forma que Oh (Oh) poderia perfeitamente ter sido
incluída num álbum de Prince. Algum experimentalismo também pode ser
ouvido, sendo particularmente bem conjugado com a parede rockeira em Mind
Shutters, um tema que se desenvolve rumo a um verdadeiro caos sonoro. God
Villain (guitarras, vocais, sintetizadores e samples), Gonçalo Salta
(bateria, percussão, sintetizadores e samples) e Pedro Santos (baixo)
assinam, desta forma, um álbum conceptual onde convidam todos os humanos a
refletirem sobre o que viram e vivenciaram na Terra. Ou, mais importante, sobre
o que nos tornamos: almas perdidas presas em Vultureville. [83%]
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