Entrevista: Terramorta

 


Carlos Ribeiro aka Nero Sangrus, sentiu aquele chamamento para voltar a fazer música de peso, e assim nasceram os Terramorta. E para o primeiro trabalho foi buscar muitos dos seus sentimentos e vivências pessoais, tornando Chronophobia num disco muito pessoal. Mas também inovador na sua abordagem a um metal extremo e sinfónico. Uma estreia auspiciosa que nos levou a falar com o mentor do projeto.

 

Olá, Carlos, tudo bem? Antes de mais, obrigado pela disponibilidade para nos falares do teu novo projeto. E podemos começar precisamente por aí. Quando sentiste necessidade de fazer nascer esta entidade Terramorta? O que procuraste atingir com este passo?

Boas! Trabalhei como produtor durante vários anos e confesso que quando recebi os Enthroned no meu estúdio para gravar o álbum Cold Black Svns, voltei a sentir aquele bichinho de fazer música de peso e apresentar o meu trabalho. Já estava com saudades da estrada e de criar a minha música e daí nasceu Terramorta. Quanto à banda, estamos dedicados e comprometidos a fazer o melhor que conseguirmos, queremos dar bons shows com bom som e com boa atmosfera, e cada vez maiores.

 

Considero que a escolha do nome está fantástica. De que forma ele surgiu?

O nome Terramorta é a representação literal do mal no mundo que nos inquieta, é a representação de um lugar estéril e em degradação, carregado de negatividade, o que transparece a nossa visão do mundo.

 

Todos os membros já têm alguma experiência noutros projetos. Foi fácil juntar esta gente que agora te acompanha?

Sim, já conhecia o HellVigário há muitos anos, desde os tempos em que tocamos nos Lydian, projeto que tivemos no início dos anos 2000 (inclusive, estudamos juntos no secundário). Recomeçamos a falar no sentido de criar um projeto ambicioso e através do HellVigário, veio também o Seer. Foi com esta estrutura que gravamos o álbum Chronophobia. Já com o álbum gravado e misturado, iniciamos a busca por mais um guitarrista e um baixista, depois de vários contactos a pessoal da nossa “era”, os ”nãos” foram tantos que decidi abordar ex-alunos meus, e através destes surgiram o Lycan e o Sargervs.

 

Pelo que pude perceber este álbum é muito pessoal. Foi fácil transpores para música e compartilhares com os outros os teus sentimentos?

É muito pessoal mesmo, canalizei 20 anos de cruzada neste álbum, particularmente desde 2020 várias situações que ocorreram na minha vida deram alma a esta composição. Não foi muito difícil transpor o que sentia, e esta foi a única linguagem capaz de transmitir aquilo pelo que passei. Tornei-me num eremita durante 10 dias, entrava no estúdio às 08:30 e saía às 19.

 

De que forma esses teus sentimentos se cruzam com a temática escolhida para o título do álbum, o medo da passagem do tempo?

Relaciona-se na medida em que a vida é curta, muitos problemas, perdas, doenças, acidentes e conflitos aparecem inevitavelmente, dedicamos vidas inteiras de esforços a afrontá-los ou distraídos com assuntos ultimamente fúteis, e quando abrimos os olhos e olhamos para trás, já não temos mais tempo. Creio que este problema, ou mais ou menos, nos afeta a todos, e transpomos para o álbum este sentimento com um intuito: não levem nada como garantido, o tic tac não para.

 

Apesar de terem dois títulos em português, não têm nenhum tema totalmente cantado em português, apenas o refrão em Presságio. Porquê?

O título da Presságio seria originalmente Omen, mas já é um tema claramente cliché. Já a letra estava feita, foi então que acidentalmente descortinamos a palavra Presságio e adoramos a forma como se encaixou. O mesmo em relação à faixa Morte, originalmente End Of The Line. Uma vez que nos chamamos TERRAMORTA, achámos que fazia sentido um pouco de tempero nacional na música, de modo que não interferisse com a mensagem feita para ser apreciada por todos.

 

Permite-me, também, que te dê os parabéns a ti e à banda por este espetacular Chronophobia. De que forma trabalharam o aspeto criativo para este álbum?

Muito obrigado... nós traçamos bem os objetivos, eu fiquei encarregue do instrumental, o Seer já tinha uma ideias e ficou com a parte lírica e conceitual, o Hellvigário ajudou-me bastante em estúdio, pois também é um criativo e ficou com a parte rítmica, sentamo-nos os 3 e discutimos todas as ideias e mudanças. Na vertente visual tivemos o apoio do Oliver Jackson, o qual consideramos membro da banda, cujo trabalho reflete exatamente o que a banda e a música representam.

 

Referes no PR que usaste muito o trompete, porque era o instrumento do teu pai. É daí que vem essa veia orquestral e sinfónica que os Terramorta tão bem desenvolvem neste álbum?

Adoro orquestrais, o “culpado” foi o meu falecido Pai. Desde novo que ouvia discos com ele, e sendo ele professor de música e músico de uma Big Band isso ficou-me na veia. Já na faculdade a disciplina que mais me cativava era composição.

 

Já agora, nessa componente orquestral chegaram a ter oportunidade de trabalhar com algum instrumento real ou trata-se de recurso a bibliotecas de sons?

Infelizmente, por agora, não temos acesso a nenhum instrumento real. Todas as orquestras são Vst’s das mais variadas bibliotecas de sons, com um à parte, pois, todas as pistas de cada instrumento virtual foram tocadas em teclado. Não programei nada nem gravei em midi, exigi muito de mim nesse aspeto. No estúdio tenho um PC apenas para os vst’s, no qual sai o áudio para o sistema de gravação principal. Pode parecer estranho pois em midi seria mais fácil compor uma nota ao lado, mas gravar em áudio direto dá mais expressão a um instrumento “não humanizado”.

 

Em termos de produção o álbum também está poderoso. Onde gravaram e com quem?

O álbum foi inteiramente gravado, editado, produzido, misturado e masterizado, por mim e no meu estúdio, Pike Studios. Foi duro, muito duro mesmo.

 

A apresentação do álbum será a 6 de abril. O que estão a preparar para essa noite especial?

Estamos a preparar um show que transponha o som do álbum para o som ao vivo, o resto terão de ver por vocês!

 

E a partir daí? Já há mais datas confirmadas?

Estipulamos dar apenas os shows essenciais este ano, de modo a focar na qualidade e não na quantidade. Temos o show de dia 6 em Freamunde no Paranoid, dia 27 de abril no RCA Club em Lisboa, dia 18 de maio no Bourbon Room, Porto, dia 25 de maio na Casa do Artista Amador em Famalicão e para fechar dia 31 de agosto no X-Treme Bar em Castelo Branco. Infelizmente não conseguimos chegar ao Sul.

 

Obrigado, Carlos! Queres acrescentar mais alguma coisa para os nossos leitores e para os vossos fãs?

Quero agradecer a todos a força que nos estão a dar, nunca pensamos ser tão bem recebidos, sendo nós raposas velhas e criando este projeto a esta altura do campeonato, venham aos shows e estejam atentos pois isto é só o começo.  Muito Obrigado!

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