Mudança de editora, revolução no line-up, um novo álbum (e que
álbum!) quatro anos depois. Os Night Laser estão a viver um momento único nas
suas carreiras e Call Me What You Want prova isso mesmo. Fomos encontrar
os irmãos Hankers em plena tournée pela Alemanha com os Freedom Call e com
eles tivemos uma interessante conversa sobre este passo de giganta da banda.
Olá, pessoal, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade! Call Me What You Want é o vosso novo álbum, que surge quatro
anos depois de Power To Power e com uma revolução na formação da banda.
Por que aconteceu isso?
BENNO HANKERS
(BH): Olá, Pedro! Obrigado por entrares em contacto connosco e
obrigado pelo teu tempo! Quatro anos é realmente muito tempo entre novos
álbuns. No entanto, a crise da Covid também nos afetou. Perdemos a motivação durante
algum tempo e, como vocês perceberam, tivemos de nos despedir do nosso
ex-baterista e guitarrista.
ROBERT HANKERS (RH): Olá, Pedro! Demorou até o outono de 2022 para
formar uma nova formação e começar a compor, por isso, o trabalho real no álbum
resume-se a cerca de ano e meio. Da próxima vez, deve ser muito mais rápido.
Portanto, podem apresentar os novos membros e contar-nos como e
onde os descobriram?
BH: O nosso
novo baterista Ingemar “Inge” Oswald começou a trabalhar connosco há
alguns anos. Ele começou como baterista substituto de Jonas, que agora é o nosso
substituto caso Inge não possa fazer um espetáculo. Inge está a trabalhar como
baterista a tempo inteiro e tem muitos espetáculos, por isso é bom ter um backup.
RH: Vincent
“Vince” Hadeler e Felipe “Flippi” Zapata Martinez foram contratados
em pouco tempo, pois precisávamos de guitarristas para uma tournée pela
UE e para os festivais de verão de 2022. Ambos provaram ser guitarristas
incríveis com estilos únicos, por isso decidimos continuar com 5 integrantes e
duas guitarras.
Esse aspeto influenciou de alguma forma o trabalho metodológico
para Call Me What You Want? Ou
seguiram o mesmo caminho dos álbuns anteriores?
RH:
Teve um grande impacto no processo de composição. Anteriormente, o nosso
ex-guitarrista tinha escrito quase todas as músicas, mas para CMWYW
trabalhamos juntos nas músicas e aprimoramo-las durante intermináveis horas de
ensaios. Além disso, muitos dos instrumentos não foram gravados em estúdio, mas
na nossa sala de ensaio ou em casa.
BH: E
levamos todo o tempo que precisávamos também. Antigamente reservávamos um
estúdio por um período fixo e tínhamos prazos rígidos. Desta vez, demos
bastante tempo para as músicas amadurecerem.
Este álbum marca a vossa entrada na família SPV. Como se
proporcionou esta ligação?
RH: A
nossa antiga editora, Out Of Line, estava a desenvolver-se musicalmente numa
direção diferente. Todos adoraram as nossas músicas, mas tinham conexões
limitadas para as promover adequadamente. Por isso, o dono da editora apresentou-nos
à Steamhammer e conseguiu que eles nos contratassem, pelo que estamos
muito gratos. Na verdade, sentimo-nos em casa agora e podemos dizer que estamos
em ótima companhia para a evolução da banda.
Sistematicamente, os Night Laser têm ultrapassado os limites do heavy metal/glam/sleaze. Portanto, para este álbum,
o que traz de novo para os vossos fãs?
BH: O
título do álbum já revela isso. Sentimo-nos como uma banda de metal ou hard
rock. E também temos um visual sleazy/glam. No entanto,
escrevemos, tocamos e interpretamos sempre a música da maneira que achamos
certa para nós. E estamos a ficar um pouco mais sérios também. Nunca fomos só
sobre sexo, drogas e rock’n’roll. Mas com este álbum focamos ainda mais
nas metáforas das letras e nos significados mais profundos. Algumas das quais
parecem óbvias, outras muito vagas.
RH: A
introdução de uma segunda guitarra levou a uma ampla gama de novas
possibilidades. Sempre fomos grandes fãs dos Iron Maiden, por exemplo,
mas não era fácil escrever músicas para duas guitarras quando só podíamos ensaiar
com uma. A nossa combinação de influências musicais e como todas elas se somam
é algo único, e não há um limite claro para colocar um rótulo.
Este é apontado como o álbum mais variado e poderoso da vossa carreira.
Onde foram buscar a inspiração para tal?
BH: Em
quase todo o lado, principalmente se falarmos das letras.
RH:
Muitas vezes fico fascinado pelas letras metafóricas que Benno cria. Eu adoro
quando uma música deixa espaço para interpretação e pode ser lida de várias
maneiras. A forma como Benno transforma a sua inspiração em palavras geralmente
não é óbvia, o que o torna realmente interessante. Exemplo: A inspiração para Travellers
In Time veio da distância exata da nossa cidade natal até um pub na
Inglaterra que gostamos muito. Mas no final, a música acabou por ser uma balada
poderosa sobre melancolia e nostalgia.
E é o resultado de um
esforço completo da banda ou apenas centrado em vocês dois?
BH: Estamos todos juntos. O disco é um grande cocktail
e todos nós servimos os nossos ingredientes favoritos. E na minha opinião é
isso que torna este álbum realmente interessante e especial para mim. Abrimos a
porta para todas as ideias e experimentamos todas.
RH: E o álbum é o resultado de um processo de
seleção muito minucioso, durante o qual muitas ideias também foram descartadas.
Os novos membros contribuíram imensamente e trouxeram tantas ideias excelentes
que foi realmente difícil decidir. No final, Benno e eu temos a palavra final,
mas nunca decidimos sem consultar primeiro os outros. Portanto, em teoria,
somos o centro, mas na prática é um esforço combinado de todos nós.
Podem contar-nos algo
sobre os três convidados do álbum? Quem são eles, que contribuição dão ao álbum
e o que procuravam ao convidá-los?
RH: A maior contribuição veio claramente de Charly
Young, que gravou as teclas e os sintetizadores. Ele é um verdadeiro
entusiasta e tem muitos equipamentos vintage originais em casa.
Portanto, cada nota que ouves foi realmente tocada, nada programado ou algo
assim. Nós deixamos que ele agisse livremente, apenas lhe demos as músicas e
pedimos que ele tocasse com elas como achasse bem. Ele tem um grande sentido musical
e de melodias, e a sua forma de tocar acrescenta muito às músicas. Para Fiddler
On The Roof, um violino era obrigatório. Felizmente encontramos na nossa
amiga Mei Caramba uma violinista mais que competente. A abordagem foi
semelhante. O riff principal foi escrito por Benno, mas nas demais
partes deixamos que ela tocasse livremente. O mesmo se aplica a Hanna Kuzior,
que contribuiu com o violoncelo para Travellers In Time. A música é tão
melancólica e implora por uma adição atmosférica. Todas as linhas do violoncelo
são improvisadas e gravadas em apenas 2 ou 3 takes.
E as duas músicas bónus?
O que têm a dizer sobre elas e por que decidiram incluí-las?
BH: Quando terminamos de gravar a bateria ainda
restava um pouco de tempo. E como todos os microfones estavam no lugar,
gravamos Thin Ice, que achamos que poderia precisar de uma pequena
reforma. Feito isso, tive a ideia espontânea de gravar uma homenagem engraçada
a I’ve Bewhere de Geoff Mack, que ficou mundialmente famosa
quando Johnny Cash a gravou. Então listamos todas as cidades em que
tocamos e demos um final inspirado aos Judas Priest. Para ser justo, foi
só por diversão, mas eu realmente gosto da música!
Já que estamos a falar
em músicas, estamos muito curiosos sobre o épico Fiddler
On The Roof. Tem algo a ver com o lendário
filme americano?
RH: Há alguns anos, Benno e eu estávamos a
caminhar pela Escandinávia e tivemos a ideia geral de um álbum conceptual sobre
o jogo de computador Jagged Alliance 2. A música Fiddler é o resultado
dessa inspiração e outro grande exemplo da capacidade de Benno de criar ótimas
letras. Conta a história de um homem que vive com a sua família numa vila
remota que é atacada por forças inimigas. Num ato de defesa, ele riposta com
uma arma de sniper e tenta proteger os seus entes queridos contra a
invasão de um inimigo avassalador. Para ser sincero, não sabia que existia um
filme com esse nome, vou dar uma olhadela!
Nos aspetos líricos, quais são as questões que trazem à tona
neste novo álbum?
BH: Don’t
Call Me Hero é inspirado nas pessoas duronas que salvaram tantas vidas
durante a Covid e em todos os heróis do cotidiano em geral. Way To The
Thrill é sobre a imaginação irreal que as pessoas têm sobre o amor nesta
sociedade em ritmo acelerado. Travellers In Time foca-se -se no medo de
sentir falta dos seus entes queridos e na pressão que exercemos sobre nós mesmos.
Bittersweet Dreams diz que somos livres para fazer o que quisermos nos nossos
pensamentos e nos nossos sonhos e que não há nada de errado com isso. Só para
citar alguns exemplos.
RH:
Fico muito entediado quando novas músicas deste género chegam na forma de “Eu
tomei essa droga, sou dono daquele carro, gostaria de curtir com essa rapariga”…
Sempre foi importante que as nossas letras fossem significativas e fossem além
dos clichés e estigmas dos mesmos temas do rock.
Três singles já foram retirados deste
álbum. Por que escolheram essas músicas? Há planos para lançar mais alguns?
RH:
Além de Bittersweet Dreams, Way To The Thrill e Don’t Call Me
Hero, haverá pelo menos mais 3 lançamentos no futuro. Um está pronto, o
outro está quase concluído e, por fim, o conceito do último está finalizado e
estamos prontos para filmar. Ainda há muito para vir!
BH:
Para os primeiros singles buscamos as músicas com maior intensidade e
aquelas que tínhamos certeza de que tocaríamos ao vivo. Também queríamos
representar a nova formação da melhor maneira possível. Por exemplo, lançamos
uma música com o solo do Felipe, depois uma com o Vince na guitarra solo e o
terceiro single mostrou os dois.
O que têm planeado em termos de tournée de divulgação deste novo álbum? Portugal estará incluído?
RH:
Estamos atualmente em tournée pela Alemanha juntamente com os Freedom
Call, que continuará até o início de junho. Depois disso, haverá vários
festivais durante o verão, e já começamos a fazer reservas também para o outono.
Não são tantos espetáculos como costumávamos fazer nos últimos anos, mas como
tivemos de nos concentrar na criação do álbum, isso é compreensível, acho eu.
Vamos compensar no próximo ano.
BH:
Infelizmente Portugal ainda não está incluído na nossa agenda de tournées.
Mas quem sabe o que acontece a seguir. E ei! Talvez algum promotor leia
esta entrevista. Basta enviar-nos um e-mail! Adoraríamos ir!
Obrigado, pessoal, mais uma vez. Foi uma honra. Querem enviar
alguma mensagem aos nossos leitores e aos vossos fãs?
BH: Obrigado por continuarem a chama! E vão lá e assistam a música ao vivo. É algo que nenhum serviço de streaming ou IA pode substituir. Um monte de amigos a abrir os seus corações para vocês com as suas músicas. É disso que se trata!
RH: Obrigado, Pedro! Espero encontrar-vos num espetáculo em Portugal algum dia!
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