Entrevista: Tomorrow's Rain

 


Pandemia, guerra, problemas cardíacos, perdas de familiares, traumas… Um pouco de tudo tem atingido os Tomorrow’s Rain neste seu trajeto. Mas isso não tem abalado o seu líder Yishai Sweartz que continua a criar e a gravar muito mais que música ou entretenimento. O que o coletivo israelita apresenta em Ovdan (termo hebraico que significa perda, logo perfeitamente adaptado) é uma verdadeira obra de arte. Quem o afirma é o vocalista, mas nós concordamos.

 

Olá, Yishai, como estás? Obrigado pela disponibilidade. Em primeiro lugar, como está a tua situação de saúde neste momento? Tudo sobre controle?

A melhorar a cada dia, mas todos os dias é uma luta e nada é dado como certo.

 

O que têm feito os Tomorrow’s Rain durante estes quatro anos, desde o lançamento de Hollow?

Fizemos um espetáculo de lançamento de Hollow que foi gravado e posteriormente lançado como um álbum ao vivo October Night In Tel Aviv, depois escrevemos Ovdan. A nível pessoal perdemos familiares e sofremos ferimentos graves, ataques cardíacos, traumas, etc.

 

E agora, Ovdan é o vosso novo álbum e traz título em hebraico. O que significa e por que escolheram esse título?

Ovdan significa perda. Todo o conceito é como enfrentar a perda e sobreviver. Infelizmente as nossas vidas pessoais estão longe de ser normais e muitos dos membros da banda, e especialmente eu, tivemos que enfrentar muitas perdas nos últimos anos, morte de pais, famílias desfeitas, vícios, ataques cardíacos, bypasses, etc. etc. Eu estive o mais perto possível da morte, o álbum foi escrito antes do meu ataque cardíaco e as letras foram, infelizmente, uma espécie de profecia sobre o que estava por vir, estava escrita em todas as paredes em letras vermelhas, mas as músicas foram escritas e gravadas antes do ocorrido. Optamos por chamá-lo de Ovdan em vez de Loss porque a nossa língua nativa é o hebraico e quando penso em algo penso primeiro em hebraico e depois em inglês. Também gostamos do som, se ouvires a palavra Ovdan, lembrar-te-ás dela para o resto da vida.

 

O primeiro álbum foi lançado em plena pandemia; o segundo foi lançado com o teu país a meio de uma guerra. De que forma ambas as situações afetaram a criação dos álbuns, principalmente este mais recente?

Foi escrito e gravado antes da guerra.

 

Do primeiro álbum para este notamos uma mudança no teclista, com o regresso de Alex Karlinsky. Desde quando ele está a bordo de novo?

3 anos ou algo assim.

 

Focando-nos agora em Ovdan, em termos musicais, que pontos de proximidade e separação existem entre este trabalho e o anterior?

Eu acho que a principal diferença entre Ovdan e Hollow é que Ovdan foi escrito em 2 anos pelas mesmas 5 pessoas e Hollow foi escrito em 15 anos por vários membros que tocaram na banda desde que começamos. Nem todas as músicas é claro, mas 3 dos 7 originais foram escritas por ex-membros enquanto ainda estavam na banda. Tocamos as músicas ao vivo e mantivemo-las até à estreia. Aqui o prazo foi mais focado e o resultado é o que podes ouvir em Ovdan. Adicionamos alguns elementos novos, acredito que temos de trazer sempre algo novo para a mesa, caso contrário mais fica longe da arte e mais perto do entretenimento e não estamos lá para entreter as pessoas, nós estamos aqui para fazer arte.

 

Para este álbum seguiram uma abordagem diferente em comparação com o anterior?

Sim, deixamos muitas coisas abertas para interpretações até ao último minuto e basicamente escrevemos muitas coisas no estúdio, portanto foi como capturar o momento, e ficou muito bom, acho eu.

 

Tal como aconteceu com Hollow, mais uma vez têm tem um desfile de estrelas a colaborar neste álbum. Conseguiste todos os nomes que querias ou havia alguém que não estava disponível no momento?

Não foi uma espécie de plano, surgiu naturalmente. Estou muito orgulhoso de ter Michael Denner (Mercyful Fate/King Diamond) e Anja Huwe (Xmal Deutschland) em Ovdan, mas estou orgulhoso de ter cada um dos convidados. Mencionei esses dois porque a última gravação musical da Anja foi por volta de 1990 e o facto de, depois de tantos anos fora do mundo da música, ela ter concordado em cantar no nosso álbum, uma banda de Tel Aviv de um género musical diferente, significa muito para mim. Para Michael Denner: para mim, como fã de metal, Mercyful Fate e King Diamond estão quase ao mesmo nível dos Judas Priest, sou um grande fã de ambos desde que era criança e do facto do guitarrista de Abigail e Don' t Break The Oath tocar em Ovdan ainda é um choque para mim... O mesmo vale para Attila (Mayhem) porque percorremos um longo caminho com eles. Euronymous era um amigo por correspondência em 90-93. A coisa toda acabou por se desenvolver, mas devo dizer que decidimos fazer o terceiro álbum sem nenhum convidado. Aqui fizemos algo antecipadamente que é decidir escrever o próximo álbum e gravá-lo sem terceiros. Será o nosso álbum mais importante, altamente pessoal, e também haverá uma mudança musical também, pois não posso mais fazer guturais por motivos médicos após a minha cirurgia, a fim de manter os batimentos cardíacos sinusais e sem distúrbios de padrão. Portanto irá ser um canto diferente e um conceito e som muito pessoal e como eu disse: sem convidados.

 

Quando decides que um músico extra pode ser convidado? E, neste caso, que instruções lhes destes?

Não houve instruções, apenas pedi para darem um pedaço de si. Geralmente pensamos em quais convidados podem trabalhar depois de termos a música quase terminada.

 

O final do álbum é um pouco estranho com duas músicas curtas, com menos de dois minutos cada, juntas. Não é uma situação muito comum, portanto, foi a tua intenção de colocar este cenário?

Rainbow é a luz no fim da jornada, o sol depois da tempestade. Intensive Care Unit é uma banda sonora das minhas experiências na cirurgia cardíaca.

 

I Skuggornas Grav é uma música muito experimental. É a primeira vez tentas algo assim? De onde surge a inspiração?

Sempre quis aprofundar nessa direção. Micke dos Unanimated é um grande amigo meu e ele lançou a música, desenvolvemos toda a ideia e incluímos Anja Huwe, e tentamos fazer algo ao estilo de This Mortal Coil.

 

E, para finalizar, uma versão alternativa de Turn Around com Ben Christo dos Sisters Of Mercy. O que torna esta música diferente com a sua inclusão?

É mais voltado para o rock gótico dos anos 80 e Ben adicionou o seu toque mágico.

 

Com a guerra, os vossos planos de tournée foram afetados? Ou ainda têm esses planos?

Não foi a guerra que nos impediu de fazer a tournée, foi a minha situação cardiovascular após a cirurgia cardíaca. Espero que com o terceiro álbum possamos fazer uma tournée.

 

Obrigado, Yishai, mais uma vez. Queres enviar alguma mensagem para os nossos leitores ou os vossos fãs?

Mantenham-se seguros e façam de cada dia uma jornada. Nunca saberão o que o amanhã pode trazer, façam acontecer hoje.


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