Entrevista: Ruído Roído

 


Depois da Dor, os Ruído Roído trazem-nos o silêncio. Embora o segundo trabalho do projeto bracarense seja tudo menos silencioso. Ainda com mais maquinaria que a estreia, O Êxtase do Silêncio traz a vantagem de deixar os instrumentos do rock soarem mais tradicionais e um conjunto de convidados que alargam o espectro de intervenção artística deste projeto. Jorge Oliveira, membro original, fala-nos da evolução entre os dois lançamentos e do alargamento a outras formas de arte que já levaram para palco.

 

Olá, Jorge, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade! Os Ruído Roído começaram por ser um duo, passaram a quarteto e, para o novo álbum, ainda adicionam alguns convidados. Este aumento de elementos está associado ao aumento de ideias musicais?

A composição dos temas e a conceção dos álbuns continua a ser feita a dois, por mim e pelo Márcio Décio. Somos nós que assumimos a produção. O Sílvio Almeida é nosso "terceiro" elemento. Está com Ruído Roído desde, praticamente, o início, mas teve mais espaço para criar neste segundo álbum. Também o Rui Rodrigues, que já tocava connosco ao vivo, participou neste disco mais ativamente. A percussão no primeiro álbum foi gravada pelo João Pais Filipe. O Êxtase do Silêncio é a conjugação das ideias destes quatro elementos. Esta é a grande diferença para o primeiro disco, que tinha sido um trabalho de forma mais solitária entre nós dois. Outra ideia que tínhamos era convidar alguns músicos/amigos para participarem com ideias e sabedoria. E correu bem. Todos eles entraram bem no espírito da banda e do disco. 

 

Já que falamos de convidados, neste novo álbum, se alguma instrumentação por eles trazida pode ser considerada enquadrável no vosso som, o mesmo não se poderá dizer do contrabaixo e do saxofone.  Como surgiu essa ideia?

Não temos barreiras ao nível sonoro ou estético. Somos uma banda experimental. E, por isso, gostamos de acrescentar novos elementos ao nosso som. O saxofone e o contrabaixo já eram ideias antigas. Neste disco foi possível incorporar esses instrumentos e acho que correu bem. Pelo menos, nos sopros devemos repetir em breve. O Élio Mateus é baterista e toca regularmente connosco ao vivo. Como também toca saxofone foi muito fácil convencê-lo a trocar de instrumento neste disco. O Jorge Castro é um músico de jazz e de orquestra e trouxe para este disco ruído no contrabaixo. O Gustavo Costa criou eletrónica e experimentação vocal. O Miguel Pedro pousou as baquetas e ligou a chaos guitar. O Alexandre Abrunhosa criou o esqueleto de máquinas e ritmos num dos temas. É uma ideia para repetir no futuro.

 

Falando agora um pouco mais de O Êxtase do Silêncio – porque este título num álbum que é tudo menos silencioso?

A ideia foi explorar o conceito de silêncio num mundo cada vez mais ruidoso. Pegar no silêncio não a nível sonoro, mas conceptual. É uma crítica pessoal ao mundo perverso em que vivemos, com as redes sociais e a má TV.

 

Este álbum sucede a Dor. O que mais vos marca a dor ou silêncio?

Gostamos do silêncio. Gostamos do ruído. Não somos fãs da dor.

 

Este álbum foi criado no âmbito do programa Trabalho de Casa. Que programa é este? Podem explicar-nos em que consiste?

O Êxtase do Silêncio surge em parceria com o gnration em Braga. A banda apresentou ao vivo, no dia 25 de maio, este trabalho criado de raiz no âmbito do Trabalho da Casa, que é um programa cultural de apoio à criação artística. O espetáculo contou com uma componente visual orquestrada pelos alunos do Mestrado em Media Arts da Universidade do Minho e com a cenografia da Vânia Kosta.

 

Em termos musicais, que pontos de aproximação e de evolução apontam entre estes dois trabalhos?

A experimentação, acima de tudo. O facto de não termos barreiras. É óbvio que o nosso som é mais negro, por vezes industrial ou drone, até shoegaze. Mas não deixa de ser rock. É certo que utilizamos muito mais máquinas neste disco, mas por outro lado o som tem guitarras e baixos mais presentes. Em Dor tínhamos decidido modular quase tudo. Muitas das guitarras e dos baixos não têm um som tradicional. Neste disco, também nos preocupamos mais com a gravação dos instrumentos. Aprendemos com os erros do primeiro disco.

 

Uma vez que os temas são instrumentais, como fazem para atribuir títulos aos temas?

Sou eu que dou os títulos aos temas. Ouço, sinto e depois escrevo. O Márcio aprova e o nome das músicas fica definido, dentro do modelo conceptual do disco.

 

Já tiveram a festa de lançamento do álbum em Braga, numa noite especial. Como correu essa noite?

Foi espetacular. Pode muito bem ter sido uma noite irrepetível. Tanto para nós, como para os alunos de Mestrado de Media Arts da Universidade do Minho, assim como para o público. Em futuros espetáculos vamos tentar reproduzir (onde for possível) a estética de palco utilizada no gnration.

 

E o que mais têm previsto em termos de palco para o futuro?

Temos já concertos agendados para Setúbal e Porto, em setembro. Vamos tentar marcar mais espetáculos e já estamos a trabalhar em novos sons. Ainda este ano poderá surgir algo novo.

 

Muito obrigado, Jorge! Dou-te a oportunidade de acrescentar mais alguma coisa…

Obrigado pela entrevista e pelo apoio às bandas mais independentes e alternativas. Agradecer ao Daniel McKosh (Raging Planet) por continuar a acreditar em nós. Se alguém quiser adquirir um disco basta contactar a editora ou a própria banda. Apoiem a música portuguesa!

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