Hard rock, heavy metal e psicadelismo. O triunvirato
que os Worshipper apresentam no seu terceiro, e mais maduro disco, One Way
Trip, um trabalho coeso e envolvente, que soa tão melódico, quanto sombrio,
ou não fosse a banda oriunda de Boston e o seu vocalista/guitarrista residisse em
Salem! Estivemos à conversa, precisamente, com John Brookhouse que nos falou da
criação e das motivações para este novo registo.
Olá, John, como estás? Obrigado pela disponibilidade. Antes de mais, podes apresentar
os Worshipper aos hardrockers portugueses?
Estamos bem.
Obrigado por falarem connosco. Somos uma banda de hard rock com toques
psicadélicos de Boston, MA. Somos uma banda há 10 anos e sentimos que acabámos
de atingir o nosso ponto alto. Eu canto e toco guitarra, Bob Maloney
toca baixo e canta, e Dave Jarvis toca bateria.
One
Way Trip é o vosso terceiro longa-duração. Como é que acham que este álbum
representa o crescimento dos Worshipper desde a vossa estreia com Shadow
Hymns?
Recentemente
voltei a ouvir o nosso primeiro disco e, embora ainda soe bem, acho que
percorremos um longo caminho em termos de composição e “visão” geral. Na
altura, como a maioria das bandas faz quando começa, estávamos a experimentar
sons diferentes e a imitar heróis. Neste, sinto que estamos mais confiantes e
mais nós próprios.
O álbum apresenta uma mistura de hard rock clássico e heavy metal da velha guarda com
um toque psicadélico. Podes falar-nos a respeito do processo criativo por trás
desse som único?
Honestamente, é
apenas como nós soamos. Somos pessoas que cresceram nos anos 80 a ouvir hard
rock e metal. Provavelmente forço o aspeto psicadélico, e mesmo
assim, acho que só aparece cerca de um décimo do nível pretendido de psicadelismo,
mas e está tudo bem. É tudo uma questão de intenção. Recebemos muitos
comentários sobre o quão “anos 80” este disco soa e é engraçado para mim,
porque isso simplesmente sai de nós. Não usamos ténis e bandoletes para sermos
intencionalmente retro.
A vossa música tem sido elogiada pelas suas melodias cativantes
e composições épicas. Como é que conseguem equilibrar a criação de música que é
simultaneamente complexa e acessível a um público vasto?
Mais uma vez,
geralmente não queremos fazer música que não seja melódica e cativante. Os
ganchos são parte integrante das bandas que amamos, como Maiden e Priest. É
algo pelo qual nos esforçamos, por isso, se as pessoas repararem nisso, estamos
a fazer bem o nosso trabalho. Claro, nós poderíamos escrever jams prog
inacessíveis ou obras de arte angulares, mas isso não seria realmente
verdadeiro para nós.
Faixas como Heroic Dose
inspiram-se em temas complexos como a Guerra do Vietname e o thriller
psicológico Jacob's Ladder. De que forma essas influências moldaram a
narrativa e o clima do álbum?
Tenho estado
obcecado com a guerra do Vietname nos últimos anos. O meu pai serviu no
exército durante a guerra e uma das últimas conversas que tive com ele foi
sobre o tempo que passou lá. Desde então, tive mais perguntas, mas infelizmente
ele faleceu pouco tempo depois dessa conversa. Por isso, Heroic Dose é
uma espécie de mash-up de todas essas histórias diferentes que ele me
contou, e foi uma coisa muito divertida para escrever, liricamente. Muitas
vezes, enquanto cantores, inventamos merdas e pode ser difícil ligarmo-nos às
letras quando as estamos a cantar. É bom pensar no meu pai sempre que canto
essa música.
Boston tem uma história rica em música e tradições literárias
obscuras, de H.P. Lovecraft a Stephen King. A cidade e o seu cenário cultural
influenciaram a música e os temas do Worshipper, especialmente neste álbum?
Acho que isso
está no nosso sangue. Eu moro em Salem, MA, que é praticamente a capital
mundial do terror, portanto estou exposto a muito mais coisas do que eu
provavelmente imagino. Até vivi em Bangor, onde vive Stephen King, e
tive uma aula de Stephen King na faculdade em que ele veio à última
sessão para falar connosco. De um modo geral, o género de terror é uma
excelente metáfora para falar da condição humana. O mesmo se aplica ao
psicadelismo, e há definitivamente algum cruzamento com H.P. Lovecraft.
Dado que três membros sofreram perdas pessoais durante a
produção do álbum, isso afetou de alguma forma o processo de composição ou
gravação?
Definitivamente,
isso adicionou um elemento sombrio e humano à nossa intenção. Foi um lembrete
de que a vida é curta e não deveríamos desperdiçar a oportunidade que temos de
fazer música num nível um pouco mais elevado do que apenas ser uma banda de bar
a tocar covers.
O artwork de One Way Trip
é visualmente impressionante. Podes falar sobre o conceito por trás dele e como
se liga ao tema geral do álbum?
Bob (o nosso
baixista) faz a maior parte da nossa arte. Não posso falar por ele, mas
conversamos muito sobre os temas do álbum: morte, guerra, terror psicadélico,
etc. E ele construiu todos estes pequenos modelos que representavam coisas
relacionadas com esses temas e depois projetou imagens nessas estruturas que
também estavam relacionadas com o conteúdo temático. Podem ver helicópteros, o
letreiro do James Motel (que é um sítio real para o qual ele recriou o
letreiro) e até um pequeno recorte do meu pai com a sua farda do exército. Ele
fez um ótimo trabalho. Incluiu-nos na parte da conceptualização, mas a arte é
toda dele. Eu também sou designer, por isso não posso deixar de tentar
dirigir um pouco a arte, mas ele é um “artista”.
Os Worshipper já partilharam palcos com artistas notáveis como
Monster Magnet e Elder. Como é que estas experiências moldaram as vossas
atuações ao vivo ou tenham influenciado a vossa música?
Muito. Pessoalmente
ouço muito The Skull, e isso foi só por estar perto deles a tocar tanto.
Outro que definitivamente entrou na nossa música foi Ace Frehley, para
quem abrimos muito cedo. Se ouvires os solos de Keep This e Only Alive,
acho que qualquer pessoa que conheça bem os KISS vai perceber isso.
Como banda que está junta desde 2014, como achas que essa
estabilidade vos pode ajudar na criação deste álbum?
Nós estivemos em
estúdio muitas vezes ao longo dos anos e entramos neste disco com uma espécie
de lista de coisas que não funcionaram para nós no passado e que queríamos
evitar. Não tentámos fazer tudo de uma vez, como fizemos no passado, e isso foi
uma opção muito inteligente. A não ser que sejamos profissionais ou que
queiramos fazer uma gravação ao vivo, o tempo é precioso no estúdio, por isso
acabámos por fazer 2 ou 3 músicas por fim de semana durante 3 ou 4 sessões, em
vez de tentarmos fazer 10 músicas em 14 horas, como fizemos antes. Também
fizemos uma demo antes de entrarmos no estúdio, o que tornou o processo
muito fácil. Alec Rodriguez, que produziu o disco, também entendeu o que
queríamos e acelerou o processo.
Quais os próximos passos para os Worshipper depois do lançamento
deste álbum? Algum novo projeto no horizonte?
Bem, agora somos um
trio, estamos a divertirmo-nos neste formato e estamos ansiosos para sair para
a estrada. Provavelmente vou começar a armazenar riffs e ideias em breve
e talvez comecemos a gravar o quarto álbum em 2025.
Com este novo lançamento, quais são as hipóteses de tocar na
Europa?
Espero que sejam
boas! É lá que queremos estar o mais frequentemente possível. Divertimo-nos
imenso quando fizemos a digressão com os Skull em 2019. Se alguém que
esteja a ler isto nos puder ajudar, contacte-nos!
Obrigado, John, mais uma vez. Queres enviar alguma mensagem aos nossos leitores ou aos vossos fãs?
Obrigado! E se gostarem do disco, digam aos vossos amigos, adicionem-nos a uma lista de reprodução, comprem uma t-shirt... qualquer coisa ajuda. Um abraço!
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