Anne-Claire Rallo, conhecida pelos seus trabalhos
com Nine Skies e Solace Supplice, apresenta o seu projeto solo, Frant1c,
desenvolvido num momento de perda pessoal. Esta estreia é A Brand New World, um
trabalho introspetivo e profundamente emocional. E, nesta conversa, a artista
francesa, que já começou a pensar num sucessor desta obra, partilha as suas motivações
por trás do álbum, explorando temas universais como o luto, a esperança e a
busca de força diante das adversidades.
Olá, Anne-Claire, como estás? Obrigado pela tua disponibilidade.
Enquanto elemento ativo em vários projetos como Nine Skies e Solace Supplice,
quando e porque decidiste iniciar este novo projeto?
Olá, Pedro, estou
bem, obrigada. Agradeço-te por teres conduzido esta entrevista. Frant1c
é um projeto a solo que iniciei juntamente com os Nine Skies, e que
surgiu após a perda do meu marido, Eric Bouillette (Nine Skies, The
Room, etc.). Este álbum serve como uma forma de catarse que me senti
compelida a criar. No ano passado, lançámos The Lightmaker com Nine
Skies como um tributo ao Eric, mas suponho que também queria expressar
algumas coisas de uma forma mais pessoal.
E porquê Frant1c? O que significa e porque este tipo de escrita com
o número 1 no meio?
Foi a melhor
palavra que encontrei para descrever o que senti na altura (e talvez ainda
sinta de vez em quando!). Quanto à grafia, reparei que já havia uma banda com
esse nome e, embora não tenha a certeza se ainda existe, não quis usar a mesma
grafia.
Que elementos pessoais trouxeste para Frant1c que diferem dos
teus outros trabalhos?
O álbum inclui
composições pessoais, bem como demos que o Eric e eu começámos a
trabalhar juntos antes da sua morte. Naturalmente, estas tornaram-se parte do
projeto Frant1c, juntamente com material novo desenvolvido após a sua
morte. Embora eu tenha impregnado o álbum com uma grande dose de perceção
pessoal e emoção, as contribuições de todos os envolvidos acrescentaram uma
magia única. Espero que seja algo especial por si só, e não uma mera cópia dos
nossos outros projetos, tanto em termos de som como da história que conta.
A
Brand New World segue a história de Charlie e Hope numa paisagem distópica.
Podes partilhar as inspirações pessoais ou artísticas por detrás deste
conceito?
A história segue
Charlie e Hope, que sempre partilharam as suas vidas juntos. Um dia, Charlie
acorda sozinho num mundo completamente diferente e devastado. Ele embarca numa
viagem para encontrar a sua alma gémea, perguntando a si próprio: “Que mundo é
este?” Ao longo do caminho, as descobertas e os encontros que ele experimenta
convidam-nos a refletir sobre emoções e questões que são simultaneamente
universais e profundamente pessoais para cada um de nós. É obviamente uma
recontagem metafórica da minha própria história.
A narrativa explora sentimentos universais através da viagem de
Charlie. Como é que achas que esta história se relaciona com o mundo e os
desafios atuais?
Embora eu esteja
claramente a expressar sentimentos pessoais, acredito que é fácil para os
outros encontrarem algo com que se possam relacionar, uma vez que o álbum
aborda questões e emoções universais com que todos nós nos deparamos em algum
momento das nossas vidas. O universo é moldado pela minha mente, ou a minha
mente é moldada pelo universo? Explora temas como a realização pessoal, o
esforço para atingir objetivos pessoais, o domínio dos media, o declínio
da criatividade, a incerteza sobre o futuro, as memórias do passado e como
encontrar a força para seguir em frente perante tudo isto.
Hope é uma figura central no álbum. O que é que ela representa
para ti, tanto em termos da história como a nível metafórico?
No início, eu
“materializei-me” como Charlie, que era originalmente a personagem feminina. No
entanto, como o Martin se tornou o vocalista principal, o Charlie tinha de ser
homem e, por isso, a Hope tornou-se a personagem feminina. Mas é fácil perceber
que, neste contexto, a Hope era originalmente uma representação metafórica do
Eric - uma pessoa rara e santa que conseguia inspirar esperança nos outros sem
esforço, pela própria natureza da sua personalidade e visão da vida.
Em algum momento desta história, cruzaste a história com as tuas
próprias experiências e envolvimentos?
Em todos os
momentos desta história, esta é a sua origem principal.
Dado que este projeto surgiu após a perda de Eric Bouillette,
como é que a sua memória e contribuição moldaram a direção do álbum, tanto
musical como emocionalmente?
Como mencionei
anteriormente, muito, nos pensamentos de todos os envolvidos. E, musicalmente
falando, algumas faixas são o culminar de demos em que começámos a
trabalhar juntos, juntamente com as minhas composições pessoais que ele me
ajudou a organizar. Para este álbum, conseguimos preservar e incorporar algumas
das partes que ele gravou enquanto estávamos a trabalhar nas demos
iniciais, como o violino, o piano e as vozes de apoio.
Tu e o Alexandre Lamia são responsáveis pela composição. Como
foi o vosso processo criativo na criação das músicas para este álbum de
estreia?
Comecei a gravar demos,
depois o Alexandre regravou as partes “corretamente” e arranjou-as,
acrescentando também o seu próprio toque mágico e partes. Ele fez um trabalho
incrível e enorme. Depois disso, cada músico gravou as suas partes sozinho,
exceto o Martin, que veio a Nice, em França, para gravar as vozes no estúdio do
Alexandre. Ambos escrevemos as letras e eu partilhei com ele a minha ideia para
o conceito do álbum. Depois de tudo pronto, enviámos todas as demos para
o John Mitchell (Lonely Robot, Frost*, Arena,
etc.), que fez um trabalho fantástico a arranjar, misturar e masterizar tudo no
Outhouse Studios.
São notórias, em várias faixas, as qualidades teatrais e
cinematográficas dos temas. Quão intencional foi esta abordagem
cinematográfica, e como é que asseguraste que a narrativa e a música
funcionavam harmoniosamente para evocar imagens tão vívidas?
É algo que não se
pode evitar quando se lança um álbum conceptual e se pretende uma narrativa
forte. Mais importante ainda, diria que é natural se a história que se está a
contar for inteiramente honesta. O Martin e a Helen também fizeram um ótimo
trabalho nesse sentido, o que foi extremamente útil.
Trabalhaste com muitos nomes conhecidos como Martin Wilson,
Johnny Marter e John Mitchell. Como é que o contributo deles influenciou o som
geral do álbum?
Eles são muito
talentosos que eu confio neles completamente quando se trata de música. Eu
sabia que, estando perto do Eric e sendo amigos, eles iriam compreender o
conceito e partilhar os mesmos sentimentos. Dei-lhes liberdade para “fazerem a
sua magia” e a combinação dos seus talentos produziu um resultado com o qual
estou verdadeiramente feliz.
Também cooperaste no trabalho artístico do álbum com Steve
Anderson. Podes explicar os temas visuais da capa e como se relacionam com a
música?
Eu queria um
visual no estilo comics - algo que pudesse ilustrar rapidamente a
história do álbum. Por isso, comecei a reunir ideias e imagens, e o Steve
Anderson finalizou o trabalho excecionalmente bem, tal como faz com os
visuais dos Nine Skies. Ele retrata com eficácia os personagens
principais e o universo distópico da história simultaneamente.
Mencionaste que um
segundo álbum já está em andamento. Podes dar-nos uma ideia do que podemos
esperar? Vai seguir o mesmo estilo narrativo ou explorar novos temas?
Até agora, só
comecei a trabalhar na música. Não creio que seja uma continuação direta da
história de A Brand New World, mas ainda é muito cedo para determinar se
será outro álbum conceptual e, em caso afirmativo, qual será o tema.
Com este lançamento,
como estão as hipóteses de tocar ao vivo?
De momento não
tenho datas marcadas, mas estamos abertos à ideia de apresentar o projeto ao
vivo se a oportunidade surgir.
Obrigado, Anne-Claire, mais uma vez. Queres deixar alguma mensagem aos nossos leitores ou aos vossos fãs?
Obrigada por este destaque, Pedro. Gostaria de estender a minha gratidão a todos os que dedicam algum tempo a ler esta entrevista e a ouvir a nossa música. Todos vós representam o apoio que permite aos músicos manterem a sua música viva.
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