Entrevista: Affäire

Depois de uma experiência com uma mítica editora norte-americana, os Affäire regressam a solo nacional para um EP que tem como objetivo mitigar o espaço de tempo entre lançamentos. Um EP que marca muitas estreias na carreira da banda nacional, como se percebe desta conversa mantida com J. P. Constanza.

Olá JP, tudo bem? Depois de uma aventura por editoras estrangeiras de referência, este EP acaba por ser lançado exclusivamente pela Raging Planet. Alguma coisa correu menos bem com a Demon Doll?
Boas! Ter o nosso álbum de estreia lançado por uma editora de culto, ainda para mais baseada em Los Angeles, foi um marco importante para nós, ao colocar-nos no mapa deste género e ao abrir-nos portas em mercados como os EUA e o Japão. É um facto que a distância não ajudou e isso sentiu-se sobretudo após o lançamento. Também a nível promocional, a verdade é que, passado esse momento inicial, esse trabalho foi sobretudo feito por nós. Não quisemos deixar passar muito tempo entre o At First Sight e um trabalho seguinte. Como mantivemos uma boa produtividade na composição, decidimos que um EP seria uma boa solução nesta altura. A Raging Planet já tinha tratado da distribuição do álbum em Portugal e, mais importante, já havia uma relação de confiança e conhecimento mútuo anterior a isso. Eles ouviram o disco em primeira mão, gostaram bastante e o passo seguinte aconteceu de forma natural. E nesse tal aspeto da promoção já fizeram mais por nós nestes dois ou três meses do que a DDR em dois anos com o álbum. Que isto não soe a arrependimento da nossa parte. Como disse, foi importante para nós e a escolha certa na altura.

Outra novidade que salta à vista foi a mudança de baixista. Mas ainda é o Herr Mathias que toca neste EP ou não?
O Herr Matthïas já tinha entrado na banda de forma relativamente descomprometida. Ele é meu amigo próximo há muitos anos e quando Affäire planeou a gravação do álbum ele sabia que não tínhamos baixista naquele momento. Então, acabou por entrar para resolver essa situação no álbum e lá foi ficando, tocando ao vivo e envolvendo-se até na composição e arranjos, daí ainda ter sido ele a gravar o baixo neste EP. Já há alguns meses que todos percebíamos que iria ser complicado ele continuar na banda, dados os compromissos crescentes que ele tinha por parte da banda principal dele – Sinistro – na qual ele já tocava antes de colaborar connosco. Então, a transição para o novo baixista aconteceu também de forma natural. O Tawny Rawk já era fã dos Affäire e está totalmente identificado com aquilo que nós fazemos. Após a gravação – na qual já contribuiu com backing vocals e até com ideias de arranjos em estúdio – está integrado como nosso baixista.

Depois de um álbum que teve boa aceitação pela crítica, que objetivos vos nortearam para optarem por lançar, agora, um EP?
O principal objetivo foi não deixar demasiado tempo entre lançamentos. Tínhamos mais 2 ou 3 músicas que podiam ter sido gravadas mas preferimos este formato. Por outro lado, temos noção de que ainda há muita gente que não nos conhece e um EP tem essa versatilidade de ser um disco credível, e nós preocupámo-nos em dar-lhe uma boa apresentação, daí também termos editado em digipack. Por outro lado, 4 originais e uma versão são também um cartão de visita suficientemente completo para os tais que ainda não nos conhecem.

Estes temas são recentes ou algum vem do período do At First Sight?
São todos temas novos, compostos após o lançamento do álbum. Há um par de temas anteriores a essa gravação, que nunca calhou gravarmos, mas certamente farão parte do próximo álbum. Não se tratam de restos, mas a verdade é que não há um motivo forte para terem ficado para trás. Felizmente, não têm faltado ideias novas e a química de composição na banda sempre funcionou bastante bem.

Desta vez trocaram o Fernando Matias pelo Ricardo Fernandes. Procuravam alterar alguma coisa em particular?
Nós ficámos satisfeitos com a produção do At First Sight mas sentimos que podíamos elevar a fasquia se procurássemos um estúdio com ainda melhores condições sobretudo a nível de espaço e de equipamento. Nesse aspeto, o Dynamix Studios é difícil de superar, para mais havendo um produtor familiarizado com o hard rock e o heavy metal, como é o Ricardo Fernandes. Não desdenhando do primeiro álbum, penso que se nota uma diferença na forma como tudo soa no novo EP.

Como surge uma cover dos Beatles neste trabalho? É um tema que frequentemente toquem nos vossos concertos?
Desde o início da banda que tocávamos ao vivo a Secrets dos Vain, uma das nossas influências. Quisemos dar algo de novo e de diferente neste EP e gravar a nossa primeira versão em estúdio foi uma espécie de bónus. O objetivo foi pegar numa banda clássica, escolher uma música que não fosse demasiado óbvia ou batida, e fazê-la soar a Affäire. Isto só teria piada se arriscássemos a esse nível, mesmo tendo a noção de que estávamos a desconstruir algo “sagrado”. Demos realmente uma grande volta à I Saw Her Standing There. A ideia inicial era apenas incluí-la no EP como o tal bónus mas o que aconteceu foi que na primeira vez que demos uma entrevista na rádio após o lançamento, o entrevistador ficou tão impressionado que tocou a música duas vezes seguidas e não conseguia aceitar o facto de que não a iríamos tocar ao vivo. Confesso que nos sentimos um pouco embaraçados e a fazer figura de preguiçosos... Após a entrevista, houve mais pessoas a juntar-se a essa pressão e nós próprios não encontrámos motivos para não ceder. Decidimos passar a incluí-la no fecho do set e a verdade é que dá-nos muito gozo tocá-la ao vivo.

A tour de apoio a este EP já começou em junho e está a decorrer. Como será daqui para o futuro?
Por nossa vontade seria uma agenda carregada. Estar em palco é o que mais gostamos de fazer, é o momento de “recompensa” pura por todo o sacrifício no resto do tempo. Mas a realidade é que o mercado do hard rock em Portugal não é significativo. Por outro lado, a maioria dos próprios fãs de hard rock não veste propriamente a camisola nem tem aquele espírito de missão pelo estilo. Ao contrário de outros géneros, parece haver algum aburguesamento e acomodação generalizados. Olharmos à volta e não vermos praticamente mais ninguém a fazer o nosso estilo também não ajuda a criar uma cena ou a que certos promotores/salas não vejam uma data com os Affäire como um tiro no escuro. Geralmente, saem surpreendidos... Assim, em vez da carrada de concertos que utopicamente gostaríamos de agendar, após estas datas iniciais que fizemos no Verão, vão seguramente aparecer mais uns quantos a partir do Inverno. Não faço ideia se serão muitos ou poucos, mas certamente não será isso que vai determinar os nossos planos como banda.

Já agora, que outros projetos têm em mente para os próximos tempos?
Sentimos, com o Neon Gods, que Affäire tem despertado um interesse crescente sobretudo fora de portas. A nossa editora diz-nos que as vendas do CD têm sido particularmente interessantes para clientes nos EUA e também a nível online temos registado isso. Fomos contactados por alguns promotores europeus e é possível que em 2018 voltemos a fazer umas datas fora de portas. Em relação àquilo que depende a 100% de nós e à principal razão de existirmos, vamos ainda este ano dedicar-nos a concluir a composição e pré-produção do próximo disco que inevitavelmente será a nossa prioridade em 2018.

Obrigado, JP. Queres acrescentar mais alguma coisa?
Obrigado pelo vosso interesse e por continuarem a distinguir-nos e a dar-nos airplay na Via Nocturna! Quero apenas relembrar que as nossas músicas estão disponíveis para escuta gratuita nas diversas plataformas online, para além obviamente do CD. Passem nas nossas páginas e deixem as vossas sentenças!

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