Entrevista: Heylel


Narciso Monteiro descobriu os Ghost e os Heylel transfiguraram-se! Bem, a banda nortenha já nos tinha habituado a não lançar dois álbuns iguais, mas Metamorphosis acaba por apresentar uma reviravolta bastante inesperada. Com um line-up estável a permitir novas abordagens, este foi o resultado. Mais uma vez falamos com o mentor do projeto a respeito deste álbum e não só…

Olá Narciso, como estás? Considerando o sucesso de Shades Of Time, provavelmente ninguém esperaria um regresso tão rápido… nem tão pesado! Como foi a composição de Metamorphosis?
Obrigado Pedro, é sempre um prazer voltar a falar com o Via Nocturna. Na verdade, foi muita rápida.  Já há algum tempo que eu queria experimentar este caminho mais pesado e, depois de encontrar o som que queria e saber que tinha músicos com essa capacidade, as músicas fluíram umas atrás das outras.

E, de facto, Metamorphosis, mostra uma incrível mutação na vossa sonoridade. O que te/vos inspirou desta vez?
Como disse, um disco desta natureza era algo que eu já tinha em mente há bastante mas ainda não estava seguro nem de ser o timing certo nem de ter a formação certa. Em termos objetivos de influência, isto vem em sequência de uma fase em que eu descobri os Ghost e devorei a discografia deles vezes sem conta. Acabaram por ser uma grande influência a vários níveis.

Bem, de qualquer forma, essa tem sido uma caraterística dos Heylel – as diferenças entre lançamentos… até onde poderão ir?
Neste momento, sinceramente não sei.  Ainda não pensei muito no próximo porque estamos numa fase de mudança (de novo) e há várias possibilidades em cima da mesa. Isso é agora a minha prioridade e só depois volto a pensar em compor. Ainda assim, se por um lado adorei gravar com este som mais agressivo, por outro também sinto falta daqueles rendilhados mais ambientais. Vamos ver para onde estou virado quando voltarmos a estúdio.

Este trabalho é um disco conceptual, dividido em dois atos, certo? Queres contar o que se passa em cada um dos momentos?
Essencialmente é a história de uma pessoa que é possuída por uma entidade externa e se vai tornar em alguém totalmente diferente, com repercussões no mundo tal como o conhecemos. Na primeira parte, Revelations, a personagem ainda está a descobrir o que lhe está a acontecer enquanto que na segunda parte, Ascension, já tem plena consciência e o seu novo eu emerge totalmente.

Para além da música, há outras diferenças em relação a Shades Of Time. Desde logo, desta vez optaste por não ter convidados. Algum motivo específico?
Tal como já referiste, raramente repito coisas que já fiz. Poderá voltar a acontecer no futuro, mas neste disco não tinha qualquer intenção de ter convidados, foi inteiramente criado a pensar nos elementos atuais da banda.

Depois, houve a mudança de baterista. O que se passou com o Ricardo Teixeira?
O Ricardo, que fez um belíssimo trabalho em Shades of Time, optou por não continuar nesta indústria por motivos pessoais. Acabamos a testar algumas alternativas e o Miguel destacou-se pela interpretação exata daquilo que eu queria para Metamorphosis.

Finalmente, a inclusão de um teclista – o Jesus Anjos – de quem já tínhamos falado da última vez, mas que agora surge plenamente integrado na banda, correto?
Exactamente. O Jesus tem-nos acompanhado em tudo desde que entrou e por isso fazia todo o sentido ficar totalmente integrado. A diferença entre ter um teclista a sério ou alguém que dá um jeito (o meu caso) é enorme e isso nota-se bem em Metamorphosis.

Para este álbum houve, também, uma forte aposta em termos de imagem. Quantos e que vídeos já foram realizados? Há ideias para mais algum?
Lançamos 4 videoclips ainda antes da saída do disco: Fields of Battle, Gone To Hell, Voices e Cursed. Os restantes temas do álbum tiveram direito também a lyric videos. Se uma imagem vale mil palavras, um vídeo vale um milhão, portanto quisemos apostar seriamente em mostrar esta nova fase da banda também em vídeo. Infelizmente o orçamento para Metamorphosis já acabou, portanto para já não está previsto mais nenhum lançamento.

Pelo que pude ver, a nossa experiência nos estúdios da Rádio Riba Távora resultou de tal forma bem que nasceram os… Heylel Ensemble. Tem tido apresentações ao vivo neste formato?
Todas as FNAC’s que fizemos no ano passado, em promoção do Shades of Time, foram nesse formato. Gostava muito de culminar essa experiência num disco ao vivo, é algo que para já ainda não foi possível mas continua como um projeto que gostava de concretizar a curto prazo.

Aliás, é curioso que a Interstellar Cloud tenha uma série de artistas que gravitam em torno dos membros dos Heylel. Tem sido uma aposta na diferenciação. Tem corrido bem?
Tem corrido bastante bem, abre-nos portas e horizontes para trabalhar em coisas às vezes radicalmente diferentes mas que enriquecem sempre a nossa experiência e cultura musical. Isto verifica-se não só nos projetos paralelos dos elementos da banda mas também em participações como músicos de sessão para outros trabalhos.

E é em algum destes coletivos onde voltas a encontrar o blues?
Não, o blues, na sua verdadeira essência, continua a ser algo ao qual não pretendo retornar. Tenho um projeto a solo chamado A Sort of Temporary Peace, que é especialmente virado para animação de eventos, restaurantes e esse tipo de mercado. Apesar de inevitavelmente ter uma pontinha de blues na execução, é sobretudo inspirado em world music e chill-out.

Voltando aos Heylel, como está a ser preparada uma eventual tour de promoção de Metamorphosis?
Em termos de espetáculos, vamos estar parados algum tempo.  Em primeira mão, a nossa Ana Batista foi mãe em dezembro e precisa agora de uns meses de recuperação e adaptação, o que é naturalmente compreensível. Durante esse tempo, vamos continuar a insistir na promoção de Metamorphosis fora dos palcos e preparar os próximos passos da banda que, tal como já sugeri no início, tem agora vários caminhos possíveis e o futuro ainda está por decidir.

Obrigado Narciso! Queres acrescentar mais alguma coisa?
Resta-me agradecer-te a ti e a toda a produção do Via Nocturna pelo apoio contínuo e incessante desde o nosso primeiro trabalho. Um abraço para todos!



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