Reviews - Março (II)


Orange Moon (HEY SATAN)
(2019, Cold Smoke Records)
Um nome deveras sugestivo destes suíços – Hey Satan! O trio de Lausanne já tinha lançado o álbum homónimo de estreia em 2017 e volta à carga com Orange Moon – um título tão sugestivo como o seu nome! Em dez temas que pouco ultrapassam a meia hora, Orange Moon entra claramente por campos de acid rock cheio de fuzz. Com as afinações bem graves e riffs tortuosos, este som sujo transporta-nos para um stoner bem calibrado, orgânico e pouco dado a grandes elaborações. E esse é problema - os temas são pouco capazes de variar de registo. Isto é, tudo se resume a uma mesma fórmula que se repete e onde não há grande espaço para desenvolvimentos – salvo raras exceções como é o louvável tema escolhido para vídeo, Golgotha Beach – para introduzir variações nem dinâmicas. E o stoner, mesmo sendo um subgénero onde parece que já nada há a criar, também as pode ter. E tivemos aqui exemplos recentes disso.  [61%]


Black Tropics (BLACK TROPICS)
(2019, Independente)
Quem começa a carreira com um Dragon Blood eleito pela M4Music Festival, em Zurique, como a melhor canção na categoria de rock, deve ficar orgulhoso. Aconteceu com os Black Tropics que, quase um ano depois, lançam o seu primeiro álbum homónimo. O trio de Lausanne (mais outro) pega em riffs maciços, ritmos heavy e um groove descomunal para descarregar a energia pura do rock atual – obscuro, pesado ainda que com melodia, afinações a tender para o grave e um som compacto onde pouco espaço sobra para brilharetes individuais ou para enriquecimentos ao nível dos arranjos. O problema é que já há milhares de bandas a fazer isto e, sinceramente, ainda nenhuma nos convenceu completamente. E também não são estes Black Tropics que apresentam nesta sua estreia mais do mesmo. [65%]


Ape Shifter II (APE SHIFTER)
(2019, Maximum Booking)
Desde o trabalho de estreia que o trio germânico Ape Shifter se mantém junto. E depois do primeiro álbum e duas tours europeias, era uma questão de tempo até ao sucessor de Ape Shifter.  Esse sucessor é Ape Shifter II e traz a mesma fórmula – uma fusão entre rock, hard rock e rock alternativo instrumental (apenas o tema final Matilda é cantado), sempre orientado para as distorções da guitarra de Jeff Aug – numa linha em que a base e os riffs são mais importantes que os solos. Com 13 temas em pouco menos de 40 minutos será de prever que prevalece a linha direta. O que acontece, de facto, fazendo perder algum do interesse que a obra poderia ter uma vez que não se nota uma linha evolutiva. Assim, já aqui não há o fator surpresa que havia na primeira rodela, pelo que este novo disco fica algo aquém das expetativas. [67%]


The Man With Stars On His Knees (AARON BUCHANAN & THE CULT CLASSICS)
(2019, Listenable Records)
Quando Aaron Buchanan saiu dos Heaven’s Basement avançou para a criação do seu próprio projeto, os The Cult Classics, com a sua irmã Laurie Buchanan. Com base no grunge dos anos 90 gravou o seu primeiro registo The Man With Stars On His Knees que teria lançamento em maio de 2017. Este registo tem o poder demonstrado por bandas como Soundgarden e Muse, quer na criação de riffs quer, depois no desenvolvimento de coros, resultando num trabalho mais profundo, maduro e policromático. Mais tarde, os britânicos assinaram com a Listenable Records e para comemorar o acontecimento, a editora francesa promove o relançamento desse álbum, adicionado de cinco novas faixas – duas inéditas (Undertow e Fire In The Fields Of Mayhem) e três ao vivo. [78%]


Couch Pop (TAPE JUNK)
(2019, Pataca Discos)
Cambalhotas estranhas têm tido estes Tape Junk. The Good & The Mean havia sido praticamente um projecto a solo de João Correia, mas para o álbum homónimo, o projecto transformou-se em banda e isso notou-se logo na qualidade apresentada. Para Couch Pop, os Tape Junk voltam a ser a aposta de João Correia (auxiliado por António Vasconcelos Dias nos sintetizadores), e o que se verifica é um novo retrocesso. Apesar de haver algumas boas ideias, a sua execução fica um aquém do desejado, não parecendo sequer que se esteve a trabalhar neste conjunto de temas entre janeiro de 2016 e setembro de 2019. Couch Pop vive muito de explorações sónicas ao nível dos sintetizadores e perde quase toda a envolvência orgânica e de roots do anterior álbum. [60%]

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