Entrevista: Cais Sodré Funk Connection


Com Back On Track os Cais Sodré Funk Connection voltam aos álbuns, três anos depois de Soul, Sweat & Cut The Crap. Como o próprio nome indica, este disco marca o regresso à composição, à sala de ensaios e às gravações de um dos mais espetaculares projetos nacionais mas que tem estado um pouco em piloto automático. Claro que a apertada agenda dos músicos, todos eles envolvidos em diversos outros projetos, não é fácil de gerir. Mas com essa questão ultrapassada, é tempo de vivenciar essa extraordinária e irreverente aventura que é a audição de Back On Track. João Cabrita foi o porta-voz do coletivo nesta conversa.

Olá João, tudo bem? Ora aí está o vosso novo álbum, Back On Track. A escolha deste título reflete que os CSFC estão de regresso a alguma coisa. O que exatamente?
Olá, Pedro. O título prende-se essencialmente com uma espécie de chamada às armas da banda toda. Como sabes, todos temos vários projetos paralelos, que nos ocupam o tempo e a atenção, e no caso dos CSFC, estávamos um pouco em piloto automático, a fazer espetáculos e pouco mais. Assim este Back On Track foi um voltar à sala de ensaios e depois ao estúdio, para compor um novo lote de canções. Sempre que fazemos um novo álbum pomo-nos à prova e acabamos por crescer, como compositores e como executantes.

Passaram três anos desde o anterior álbum. Suponho que tenham sido passados com muita atividade de palco. Para além disso, quando começaram a trabalhar neste conjunto de canções?
De facto foram 3 anos com muitos palcos, que é o nosso habitat natural. No final de 2017 comecei a compor algumas coisas (o Everyday e o Long Time Coming), a seguir fui-me juntando com uns e outros elementos da banda para recolher esboços e inícios de ideias. Depois de organizar e finalizar mais algumas canções, na primavera de 2018 começámos a ensaiar e “apurar” os temas novos, e começámos a inclui-los nos nossos sets ao vivo, para testar. Por fim, depois de tudo rodado fomos para o Estúdio Namouche e gravámos o álbum na última semana de julho.

E com a vossa intensa atividade noutros projetos não deve ser uma tarefa fácil conciliar as agendas de toda a gente. Como é feita esta gestão no seio da banda?
É verdade, não é fácil. Normalmente vemos os CSFC como um comboio em eterno andamento, ou seja, dos nove há sempre uns três ou quatro que estão a manter a coisa a andar, e os restantes embarcam e desembarcam à medida das disponibilidades e necessidades da banda. Não são necessariamente sempre os mesmos, tende a rodar...

Falemos agora do processo criativo. De que forma se processam as coisas nos CSFC?
Bem, creio que ficou explicado acima, mas regra geral, com o passar dos anos fomos tendo cada vez mais uma função na banda. Eu costumo ser o que compõe mais, o Silk é a maior força motivadora da equipa, o Francisco Rebelo está mais a braços com a parte mais técnica da produção... Mas, em última análise, todos têm uma voz no que toca a todos os passos do processo criativo, desde a composição, arranjos, pré-produção, até as misturas finais.

Quando compõem procuram definir uma direção, seja ela mais funk ou mais soul ou até mais jazz, ou limita-se a deixar que os temas cresçam sem imposição de limites?
Normalmente (e aqui falo por mim) quando acabo um tema, decido onde ele encaixa melhor. Se for o caso de ser em CSFC até posso ter uma ideia mais livre de arranjo, porque com uma banda deste calibre, depois de 2 ou 3 ensaios, sei que vai soar incrível.

Depois, em termos de gravação, este disco foi gravado em formato live em estúdio, não foi? Porque optaram por esse formato? Já tem sido habitual nas vossas gravações anteriores?
Sim, gravamos sempre assim. Só fazemos as vozes finais à parte por questões técnicas. Este método parece-nos melhor porque, além de muito mais barato (menos horas de estúdio), permite-nos registar melhor a nossa energia coletiva, dos espetáculos.

Dessa forma deve ser um processo pouco demorado?
Sim. Dependendo do número de ensaios, fazemos entre 2 a 4 temas por dia.

Como é que esta sonoridade tipicamente negra da Motown e afins surge nas vossas vidas em Lisboa?
Isso tem a ver com os discos que quase todos ouvimos a crescer. Depois foi a sorte de surgir o convite ao Tiago Santos da parte do Musicbox para fazer uma residência mensal de soul e funk. Começámos com versões de clássicos, o que nos permitiu aprender melhor a linguagem, e daí para os originais foi um salto.

Há uns anos, no vosso primeiro single tiveram a participação de uma voz internacional. Nunca mais tentaram uma aventura desse tipo? Pensam voltar a fazer isso ou não?
Na verdade, como somos uma banda enorme e com muitos recursos, não nos passa pela cabeça assim com tanta frequência. Mas não é uma porta fechada...

E em termos nacionais, contam com algum convidado neste novo disco?
Não. Pouco antes fizemos um espetáculo especial no Coliseu com alguns amigos, para celebrar essa Connecttion que nos liga. No disco levámos o Back On Track ao limite: arregaçámos as mangas e trabalhámos a fundo com os nossos recursos.

Uma vez que o disco já saiu há já algum tempo, como tem sido a sua apresentação ao vivo? Têm tido muitas oportunidades para isso?
Tem sido óptima. Os temas novos têm tido uma receção fantástica, é quase como se já fossem clássicos. Depois, num espetáculo nosso, se não conheces a canção, podes sempre dançar.

Quais são os próximos projetos em que estão atualmente a trabalhar?
Antes do disco fizemos a identidade sonora da Antena 3. Depois, fizemos uma participação no Festival da Canção revisitando os clássicos do António Calvário (Oração) e Eduardo Nascimento (O Vento Mudou). Já gravámos em estúdio, e em 2020 virá à luz do dia. Entretanto também assinámos uns separadores para a RTP Memória, agora vamos montar um espetáculo novo para 2020... Enfim, como vês, estamos bem ocupados.

Obrigado! Queres acrescentar mais alguma coisa?
Creio que não. Grande abraço!

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