Reviews: Janeiro (III)


Hatred Dusk (HATRED DUSK)
(2019, Mystyk Prod.)
O ano de 2016 marcou a terceira reencarnação dos Hatred Dusk. A bada de death/thrash metal parisiense esteve ativa entre 1990 e 1996, depois regressaria entre 2008 e 2014 e, finalmente, o terceiro começo. Terceiro e definitivo, espera-se, pelo menos só agora é que conseguem lançar o seu primeiro longa-duração, depois de três demos e um EP. O trabalho homónimo traz uma mistura algo confusa entre thrash e death, com uma bateria demolidora e com uma captação demasiado alta, um vocalista fraco e um sensacional e exuberante trabalho de guitarra. Um desequilíbrio que está sempre presente, com esta descarga de quase meia hora a começar bem, a perder-se em algumas repetições e a terminar em grande na abordagem punk de RATP. No fim o que fica na memória é mesmo o soberbo trabalho dos dois guitarristas que não pedem desculpa para se intrometerem, no bom sentido, claro, em qualquer espaço que as músicas deixem livres. [70%]


Insanitorium (HYPERIA)
(2020, Sliptick Records)
É verdadeiramente frenética esta estreia Insanitorium para o coletivo canadiano Hyperia. Trata-se de um explosivo cocktail que junta power, thrash, death, heavy e shred, onde a componente vocal, completamente tresloucada, surpreende pela postura. Isto porque num segundo Marlee Ryley está no mais profundo gutural, para, no segundo seguinte, atingir o mais lancinante agudo. Musicalmente, Insanitorium vive de uma bateria demolidora, de linhas de baixo muito criativas e, acima de tudo, de um conjunto de solos exuberantes e de leads que colocam o trabalho de guitarra como o mais destacado. Pelo lado oposto, a componente melódica ficou um pouco abandonada em detrimento de tanta ânsia em criar temas hiperativos. Insanitorium mostra, também, pouca diversidade, com os temas a sucederem-se basicamente no mesmo registo. Este é um conjunto de canções que ao vivo deverá resultar bem, promovendo a entrega total de banda e público, mas que para ouvir em casa se transforma num produto de desgaste rápido. [69%]


Terápia (MOBY DICK)
(2019, Hammer Records)
A mais veterana e experiente banda do thrash metal húngaro, os Moby Dick, regressam aos discos com Terápia. O que sempre se disse dos Moby Dick – que eram a resposta magiar aos Metallica – de tal forma se mantém neste novo trabalho que um tema como Küldhetnél Egy Jelet, parece plagiado dos americanos. Mas Terápia traz outros cenários – o tema mais bem conseguido é Alkonyzóna, enquanto Biorobot apresenta uma descarga do mais puro thrash metal, por exemplo. Portanto, a despeito da sua principal influência, o coletivo consegue imprimir alguma variedade nas direções musicais que toma, construindo um disco sólido, embora raramente empolgante. [64%]


Balls (HUMUNGUS)
(2019, Killer Metal Records)
Deixou boas indicações o primeiro álbum dos Humungus, War Band, originalmente lançado em 2015 e reeditado pela Killer Metal Records quando a banda de Richmond assinou pela label alemã. Balls é o sucessor desse War Band e volta a mostra um coletivo bélico a cruzar heavy metal tradicional com thrash metal da escola da Bay Area, situando-se, assim, algures entre os Exodus, Anthrax, Whiplash ou Vio-Lence. Portanto, quarenta minutos de thrash old school, feito como se fazia Há 30 anos atrás. Onze temas com algumas boas ideias e estruturas, mas cujo limitado tempo de cada um, não permite voos mais altos. É esse o principal problema deste Balls – a vontade de fazer tudo muito depressa, não proporcionando que os temas se desenvolvam. E fazendo com que tudo que está bem feito acabe demasiado rapidamente. [70%]



Gravity (SATURNALIA TEMPLE)
(2020, Listenable Records)
Ao longo da sua década de existência, os Saturnalia Temple criaram o seu nicho de occult doom metal com um toque de psicadelismo. O trio sueco está prestes a lançar o seu terceiro longa-duração de originais, intitulado Gravity e apresentado como o seu mais orgânico trabalho de sempre. E é o primeiro álbum com Kenneth Granholm sentado na bateria, ele que foi o baterista ao vivo desde 2013 e membro permanente desde 2015. O conceito parte de Saturno e envolve-se nas alquimias e na procura de objetivo mágicos. Mas são, precisamente, esses objetivos que não se alcançam com Gravity. Para se fazerem temas longos (e aqui há três acima dos 8 minutos) é necessário criar dinâmicas minimamente interessantes e não basta repetir o riff até à exaustão. Infelizmente é isso que acontece em Gravity, agravado por uma postura vocal, na maioria das vezes, muito deficiente que até pode representar a agonia de alguém, mas que, na verdade, apenas consegue induzir agonia a quem ouve. [51%]

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