Reviews: Março (III)


Primordial (ITUS)
(2020, Independente)
O que acham de misturar doom e stoner rock com passagens heavy metal e sludge e ainda adicionar passagens psicadélicas inspiradas em filmes de terror? Pois é o que os canadianos Itus apresentam nos cinco temas que compõem o EP de estreia Primordial. A banda nasceu apenas em 2019 e não perdeu tempo a por cá fora este conjunto de temas. E pode ser esse, precisamente, o problema. Muita pressa para lançar cinco temas que nada acrescentam ao género. E onde a vontade em ser primário, cáustico e cru é abafada pela falta de ideias, pouca capacidade instrumental e um vocalista pouco evoluído (ainda bem que canta essencialmente em registos agressivos, porque nos poucos momentos em que usa o limpo é desastroso). Primordial pretende ser o primeiro de dois EP’s que antecederão o álbum de estreia que se prevê mais pesado e negro. Mas, mais que aumentar a dose de peso e de trevas, será importante que o trio defina o caminho a seguir e lime (muitas) arestas. [54%]


Saturnalia (DEATHLESS LEGACY)
(2020, Scarlet Records)
Depois de quatro álbuns, os italianos Deathless Legacy (banda que reúne membros dos Vision Divine, Athena e Motus Tenebrae) anunciaram, com pompa o lançamento do EP Saturnalia, uma obra com mais de 24 minutos de metal sinfónico e filme a preto e branco, silencioso e expressivo. Focando-nos apenas na componente musical, de facto, esta é uma obra que preenche uma lacuna existente na discografia do coletivo, na sua forma avant-garde de um conceito musical arrojado. Saturnalia tem um ponto muito positivo: apesar da sua longa duração, não há momentos mortos nem repetitividade exaustiva. Tudo corre de forma muito fluida, com as mudanças na altura certa e a criação de diferentes cenários. É verdadeiramente uma impressionante peça de symphonic horror metal, mas que apenas a espaços se torna imprescindível. [78%]


Libre (AZRAEL)
(2007, Independente)
Libre é o quinto trabalho dos espanhóis Azrael e é aquele onde se estreia o vocalista Miguel Carneiro, naquele que é o seu único registo com a banda. E em bom rigor fica-se sem saber se o fraco desempenho de Carneiro prejudica a qualidade do álbum, se a fase menos inspirada da banda, prejudica o desempenho do vocalista. O certo é que comparativamente a outros trabalhos que ultimamente analisamos, Libre é, claramente, o registo menos interessante dos Azrael. É o que apresenta uma menor identidade, fugindo à sua tradicional linha, mostrando mais groove e uma abordagem mais moderna, mas perdendo no seu ponto forte que é a criação de melodias. Ainda assim, registam-se alguns momentos interessantes, desde logo com a sensacional instrumental neoclássica que é Sangre, as fortes orquestrações em Um Sentido, que, na verdade, salvam um pouco o tema e a capacidade evolutiva demonstrada em El Fugitivo. [71%]


The Coven (TORCHIA)
(2020, Rockshots Records)
A estreia dos Torchia para a Rockshots Records faz-se com o álbum The Coven que surge três anos após Of Curses And Grief. E o que o coletivo finlandês apresenta é uma relativamente curta descarga de death metal melódico (claramente aconselhado para os fãs de At The Gates, In Flames ou Children Of Bodom), com os prós e os contras que normalmente assolam este género. Do lado positivo, temos um fantástico trabalho instrumental, com as guitarras a liderarem sempre em desempenhos de grande qualidade, bem como a criação de ganchos melódicos de reconhecida memorabilidade. Do lado negativo, temos a componente vocal, naturalmente não pelo registo, mas sim pela falta de variabilidade e pela postura um pouco limitada nesse contexto. [76%]


I Decide (BENEATH MY SINS)
(2020, Pride & Joy Music)
Cada vez mais se sucedem os lançamentos de pseudo-symphonic metal. E cada vez mais somos bombardeados com mais do mesmo. Os Beneath My Sins, coletivo francês, são mais um flagrante exemplo de falta de inspiração e individualidade. De tal forma que neste seu novo álbum, I Decide, o primeiro tema verdadeiramente interessante só surge à quinta faixa, My Guardian Angel, com o violino inicial e as linhas de piano a mostrar muito mais do que se tinha visto até então. Até ao final, ainda há registo de mais dois momentos muito interessantes, nomeadamente a teatral/musical Despicable e a ricamente ornamentada e de inspiração folk, Unpredictable. Muito pouco para quase 50 minutos de música, embora os fãs deste género (principalmente os que gostam da inclusão de guturais) sempre possam dar alguma atenção a este disco. I Decide, é o segundo longa-duração da banda parisiense e surge três anos após a estreia Valkyries Of Modern Times. [65%]

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