Entrevista: Morbid Death


Em ano de regressos, um dos mais aguardados é dos Morbid Death. Com a entrada do novo século, a mais emblemática banda Açoreana tem tido constantes altos e baixos o que a tem levado a aparecer, desaparecer e a reaparecer. Os motivos para isso suceder ficam bem expostos nesta entrevista que o mentor e principal motor propulsor da banda, Ricardo Santos nos concedeu a respeito deste balão de oxigénio que é o novo álbum, muito adequadamente intitulado de Oxygen.

Olá Ricardo, tudo bem? Como já não falamos há 9 anos, pergunto-te o que tens feito em termos musicais?
Olá Pedro! É verdade, já se passaram alguns aninhos desde a nossa última conversa (risos). Além dos Morbid Death, que é a minha prioridade, a minha paixão musical, ‘dou’ a minha voz aos Knucklehead, uma banda de covers. Tem sido uma experiência diferente ajudando-me a desenvolver o canto. Além de dar umas coroas extras!! (risos). Há que manter as cordas vocais em boas condições.

Nos finais do século passado e inícios deste século os Morbid Death surpreenderam com três excelentes álbuns. Depois, têm tido uma produção muito espaçada no tempo. O que aconteceu?
Como membro fundador dos Morbid Death, sempre me envolvi em todos os assuntos da banda. Em 2011, um ano depois do nosso EP Metamorphic Reaction, decidi parar por algum tempo. Estava um pouco cansado, saturado por tentar levar a banda quase sozinho às costas. Por mais que se goste daquilo que se faz e quando tem outras pessoas envolvidas, sozinho é muito difícil. Mesmo assim, disponibilizei-me para dar todo o meu apoio à banda, de modo a que continuassem, mas como seria de esperar, decidiram parar. Pois, o Ricardo não estaria lá fisicamente para dar o corpo às balas. Enfim… Contudo, em 2014 fui desafiado a reunir a banda para uma atuação numa noite de Halloween. O bichinho voltou e lá se reuniu as tropas. Estávamos de novo presentes.

E o que motivou o vosso regresso com um novo álbum passados tantos anos?
Após o hiato de três anos e ao recuperar o nosso e-mail, estava lá uma proposta da Art Gates Records. Claro que, este e-mail mudaria o rumo das coisas e decidimos aceitar a proposta. Já tínhamos uma editora. De início, estávamos todos radiantes. Contudo, velhos fantasmas começaram a surgir: estava eu praticamente a remar contra a maré, convencendo-me dia após dia que com aqueles elementos (alguns), estaria novamente numa situação delicada. Quem me conhece pessoalmente, sabe muito bem que sou uma pessoa determinada e com o passar dos anos, menos paciência tinha para brincar às bandas. Gosto de assumir os meus compromissos e este com a editora, era para levar avante e de uma forma séria. Infelizmente, via nos outros um ‘há-de se fazer com calma...muita calma’ e para mim, não dá. Tinha chegado ao momento de arrumar a casa e fiquei na banda, só.

Por isso Oxygen é assim como uma bomba de oxigénio para a banda?
Que não haja dúvidas! Oxygen trouxe um novo querer vencer, uma nova esperança.

Curioso que, com o EP de 2010 já se notava um forte endurecimento do vosso som. E que agora se confirma com Oxygen. Faz parte da tua evolução, da evolução do mundo que te rodeia ou dos músicos que te acompanham?
Este novo álbum foi produzido pelo Luis H.Bettencourt e pela primeira vez em toda a carreira da banda, tivemos um produtor, e o seu assistente, de renome internacional a masterizá-lo: Jakob Herrmann e Robin Leijon da Top Floor Studios, Suécia. O Luís tinha um grande número de ideias, que nos foi apresentando. Todas elas iam de encontro ao que se pretendia e assim foram nascendo as doze músicas que poderão ouvir em Oxygen.

Portanto, de que forma definirias Oxygen?
Definiria Oxygen como o álbum mais maduro, diversificado e abrangente de toda a carreira dos Morbid Death. Foram explorados novos instrumentos musicais, tais como a viola da terra que só existe cá nos Açores. Também a guitarra de doze cordas foi utilizada. Coros femininos e de criança. Enfim, tudo o que nos agradasse, está presente. Quanto às vocalizações, eu próprio queria experimentar coisas novas e sugeri aos outros, que prontamente foi aceite.

Como se proporcionou esta ligação à Art Gates Records?
Através de um simples e-mail. A partir daí, os contatos foram se mantendo até chegar ao dia de assinarmos o contrato.

Da formação original só está tu, não é verdade? Como foi o recrutamento dos outros elementos?
Passada uma semana, já tinha comigo duas pessoas determinadas e trabalhadoras. Assumiram o projeto de corpo e alma. Na guitarra estava o Luis H.Bettencourt, velho conhecido nosso, porque em tempos foi nosso roadie e inclusive, chegou a substituir um dos guitarristas num concerto nosso. Na bateria, o Rafael Bulhões. Não conhecia o Rafael. Ele foi sugerido pelo Luís porque foi professor de música dele. E assim, estava os Morbid Death de novo a funcionar como uma banda séria e com pessoas que tinham e têm a mesma visão. Só para poderem ficar com uma ideia: em pouco menos de um ano, a banda com o novo line-up fez muito mais do que em cinco anos, aquando do regresso, em 2014. Ou seja, em cinco anos, apenas uma música nova...contra factos, não há argumentos!

Entretanto, passaram muitos anos. Achas que o nome Morbid Death ainda traz lembranças a muita gente?
Acredito que sim! Uma das coisas que acho engraçado, é que muita gente ainda se lembra do vídeo clip da música Miséria. Para aqueles que não conhecem, deem um saltinho ao Youtube. Um vídeo muito cru, mas com todo o soul existente. Bons momentos!!!

Este é um ano que, para já, fica marcado por regressos importantes. Para além dos Morbid Death, também os Thragedium estão aí em força. Achas que há um saudosismo por estas bandas icónicas?
Enquanto houver essa paixão pelo metal, da nossa parte e da parte dos amantes deste género musical, estaremos por cá. Às vezes mais ativos, outras nem por isso! O que interessa é que só se consegue obter coisas boas quando se está acompanhado de pessoas trabalhadoras, empenhadas e dedicadas. Cabe a cada um de nós decidir o melhor para que esta banda continue, e já lá vão 30 anos. Já se perdeu muito tempo parados no tempo e agora é o momento de (re)conquistas!

E palco? Também já há concertos marcados?
Tínhamos um marcado para o dia 17 de abril, no RCA. Iríamos participar no concerto de lançamento do novo EP dos Sacred Sin, juntamente com os Enchantya e New Mechanica. Infelizmente, dada a situação atual com a pandemia, não houve outra solução a não ser de o cancelar. Apesar disso, está em aberto este concerto para outra altura. Também temos recebido propostas por parte da editora para alguns concertos pela europa. Agora, só nos resta esperar que tudo volte à normalidade, dentro do possível e a partir daí, definir nova estratégia.

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