Entrevista: Attick Demons

 


Depois de Daytime Stories… Nightmare Tales deixa de haver razões para não se considerarem os Attick Demons como pertencentes, por inteiro direito, à liga dos campeões do metal. A estrearem-se numa nova editora e com dois novos membros a bordo, a banda nacional prova que o seu crescimento sustentado os tem levado a um nível de excelência. Depois de termos falado com a banda antes de subirem ao palco do Back To Skull (onde estrearam Dário Antunes), voltamos à conversa com os Attick Demons.

 

Olá, pessoal, tudo bem? Há já muito que os Attick Demons deram o salto rumo ao reconhecimento internacional. Mas com este álbum, sentem que surge a confirmação definitiva ou não pensam nestes termos?

Não pensamos muito nesses termos… tentamos sempre fazer mais e melhor. Daytime Stories… Nightmare Tales é mais uma prova disso, onde tentamos fazer coisa diferentes, mas sempre sem fugir ao heavy metal. O reconhecimento internacional e nacional são ambos bastante importantes, pelo que claro que sempre que o nosso trabalho é reconhecido tanto lá fora como cá dentro, ficamos sempre muito honrados.


Quando começaram a trabalhar neste novo álbum e com que objetivos?

Nos Attick Demons, estamos sempre em composição… há sempre ideias, riffs do Nuno, melodias do Artur… estão sempre ideias a surgir. As primeiras músicas começaram logo a ser compostas assim que o Ricardo se ambientou à banda. O objetivo é sempre o de “mais e melhor”.


Foram quatro anos desde Let’s Raise Hell. O que fizeram entretanto, para além de trabalhar no novo disco?

Penso que o normal o que uma banda do nível dos Attick Demons tem que fazer… dar concertos, tentar promover a banda, chegar a novas pessoas e entidades… Para além da “música” ter uma banda pressupõe muito trabalho que aparentemente não se vê, mas é fundamental para que a nossa música chegue a mais ouvidos possível.


Porque este título Daytime Stories… Nightmare Tales? Qual o seu significado?

O nome está relacionado com o facto das letras abordarem diferentes temas. Uns mais históricos, outros relacionados com o oculto, alguma crítica à sociedade… são tantos assuntos que pensamos num título que tivesse alguma contradição.

 

A passagem de Let’s Raise Hell para o novo disco, vem carregado de mudanças. Desde logo no line-up. Quem está de novo na banda, como foi a sua integração e que input já tiveram para esta nova coleção de temas?

O Ricardo entrou logo depois do Let’s Raise Hell, de tal forma que já tocou na apresentação do álbum. E durante estes cerca de 4 anos o processo de criação tem fluido de uma forma bastante natural. O Dário entrou já em setembro de 2019, mas foi tudo muito natural visto que já era amigo da banda. Inclusive teve para entrar na banda em 2016… Enquanto que o Ricardo participou na composição de todos os temas, visto já ser membro da banda desde 2016. O Dário quando entrou já a banda estava em estúdio a finalizar a gravação da parte instrumental do álbum. No entanto, a sua participação e o seu cunho pessoal, foram deveras importantes para dar ainda mais brilho às músicas.


Assim o Dário Antunes é o mais jovem elemento. A sua estreia foi no RCA, em outubro, não foi?

Certo…  e Certo… Em agosto vimo-nos na situação de necessitarmos de ter mais um guitarrista na banda. Como já referimos anteriormente, sendo o Dário amigo da banda pareceu-nos a melhor solução tendo acedido de imediato à nossa investida, passando a ser membro depois do Back to Skull de 2019.


Outra novidade é a mudança de editora. Como se deu este salto para a ROAR?

A ROAR! já nos tinha contactado em 2018, mas como o contrato com a editora anterior ainda estava em vigor, nada aconteceu. No início de 2020 voltaram a contactar-nos, e foi algo muito simples de chegarmos a um acordo que fosse bom para ambas as partes.


Todas as bandas da ROAR que temos entrevistado têm dito maravilhas desta jovem editora. Sentem o mesmo? Estão entusiasmados com esta nova aventura?

Nestes poucos meses em que a parceria Attick Demons – ROAR! existe, só temos coisas boas a dizer… tanto a nível de cumprirem sempre com o prometido como com a promoção que temos tido da banda… tudo muito sério e “certinho”! Espero que eles pensem o mesmo dos Attick Demons, porque da mesma forma que dão, também pedem. O que tem sido ótimo para o crescimento da banda também ao nível dos assuntos relacionados com o mundo da música que não passam para o lado do público. Resumindo, até à data está a ser uma parceria muito séria e prometedora.


Por falar nisso, dá a ideia que nos temas Headbanger e Running fazem uma crítica à indústria musical. É mesmo assim? Percebi bem?

(Risos) Mais o Running… é quase um Money For Nothing é um grito de revolta até por experiências anteriores… O Headbanger é mais o orgulho na música que fazemos. Para teres uma ideia, somos questionados várias vezes como encaramos que o Death ou Black Metal, atualmente têm mais notoriedade do que o Heavy-Metal mais tradicional… sinceramente é algo que não nos desanima ou nem entusiasma… Os Attick Demons são uma banda de Heavy-Metal com muito de NWOBHM e será assim que iremos continuar.


No primeiro e segundo álbuns tiveram alguns convidados internacionais de peso. Isso não acontece agora. É a prova irrefutável da vossa maturidade?

Para o Daytime Stories… Nightmare Tales não achámos necessário a presença de convidados internacionais. Se é maturidade? Não sei… Foi algo, muito levemente abordado mas pensámos que não haveria necessidade de o fazer.


Todavia, os convidados de agora são para os teclados e instrumentos tradicionais. Podes apresentá-los?

Só a presença destes dois grandes amigos e músicos, imensamente talentosos, já foi algo de enriquecedor tanto para o álbum como para nós como músicos. Nas teclas tivemos o Nelson Raposo, que é uma pessoa de vários talentos que trouxe várias ideias para as diversas músicas em que participou, de tal forma que quando acabamos a primeira sessão, já quase todas as músicas tinham teclas e estava brutal! O Pedro Sarmento no bandolim é um virtuoso… é daqueles músicos que dizes para tocar qualquer coisa… e ele toca… faz parecer que tudo seja simples.

 

Já que falamos de instrumentos tradicionais, já era costume vocês incluírem algumas temáticas relacionadas com a história portuguesa, mas desta vez foram mais longe. Como se sentiram, não só com a inclusão dos instrumentos tradicionais, mas também a cantar em português em O Condestável?

Bom, isto foi uma ideia que o Artur já tinha guardado na sua cabeça  há muito tempo. Ele apareceu-nos um dia com este tema no ensaio, e que achava por bem que fosse cantado na nossa língua, e que o mesmo poder-se-ia tratar de um tema histórico. Ora o processo começou a ser trabalhado, surgindo o instrumental em primeiro lugar (isto porque nos AD todos os intervenientes compõem), e a letra a surgiu logo de seguida.  Para o Artur cantar em português foi um processo normalíssimo, adaptou-se muito bem, até porque ele já sabia o que iria fazer. Escusado é de dizer, que ficámos muito contentes com o resultado final. Esperamos que este tema dos Attick Demons vá andar a rodar musicalmente por esse mundo fora, e cantado na nossa língua. Os instrumentos tradicionais foram incluídos porque a música pedia algo diferente. Chegámos a pensar também em violinos e percussão… mas optámos por algo muito menos visto e que identifica muito mais a musicalidade portuguesa. Daí até os instrumentos serem inseridos na música foi tudo natural até porque o João tem algum “passado” neste tipo de música e instrumentos


E quando surgiu essa ideia? Foi difícil trabalhar esses aspetos?

Não foi difícil, como já foi dito anteriormente foi um processo  bastante fluido. Basicamente  o Artur trouxe a ideia para estúdio, começando assim o processo de composição instrumental do tema, surge logo de seguida a letra, e passados uns dias... Voilá! Nasce O Condestável (Ode a D. Nuno Álvares Pereira). Os instrumentos tradicionais foram algo trabalhado ao longo do tempo mas sempre com as ideias bem definidas. Para desvendar um pouco temos uma guitarra acústica, bandolim, cavaquinho e viola Braguesa. Foi uma experiência muito interessante, quando chegamos ao estúdio com isto tudo, o Hugo Andrade ficou a pensar que iria aparecer o rancho folclórico… ou uma tuna…


Precisamente, como foi a experiência nos Ultrasound Studios com o Hugo Andrade?

Já tínhamos trabalhado com o Hugo na gravação do tema Thank You para a edição Japonesa do Let’s Raise Hell e a procura de um som mais atual foi algo que nos pareceu fazer sentido. E penso que conseguimos concretizar esse objetivo. O Hugo é alguém muito minucioso e perfeccionista mas também com a mente aberta, o que nos levou a algumas experiências que sem ele não teriam acontecido.

 

No que diz respeito a vídeos já são 3. Podem contar-nos de que forma se processou a escolhas desses três temas?

Vídeos era algo que estava em falta no catálogo dos Attick Demons, pelo que nós e a ROAR! rapidamente chegámos a acordo sobre a sua necessidade. Seria algo fundamental para promover o álbum. Os temas foram escolhidos em parceria com a editora… algo muito fácil de chegar a acordo.


No caso do The Contract, de que forma foi trabalhado todo o aspeto da criação da história, da escolha dos atores, etc… Querem conta-nos como foi esse processo?

Tanto para o Contract como para o Make Your Choice tivemos a imensa ajuda do nosso amigo Carlos Guimarães e da GMedia. Basicamente demos as nossas ideias e ele planeou um fim de semana no norte do país, onde conseguimos gravar os dois vídeos. Aqui teremos que agradecer ao Museu de Lamas e a todos os que participaram no vídeo. E claro o eterno agradecimento ao Carlos Guimarães pela paciência.


E no caso de Hills Of Sadness, o mais recente, parece haver uma forte mensagem social por trás…

Muito sinceramente... foi ideia da editora. Quando nos mostraram o vídeo… ficámos todos de queixo caído… aposto que existiram umas lágrimas... O facto de o vídeo ter uma mensagem política foi algo que falámos na banda, principalmente porque não queríamos ser acusados de tentar tirar aproveitamento da imensa desgraça que se vive aqui tão perto.


E palco? Agora com o gradual levantamento de condicionantes, já se prepara alguma coisa?

Dia 9 de outubro fizemos a apresentação do Daytime Stories… Nightmare Tales no Cine-Incrível, que apesar de todas as normas das autoridades, que fizemos questão de seguir à risca, foi uma festa cheia de emoções. Foi muito bom ter estado novamente com o público, o que é algo que nos motiva muito mais do que vender música pela internet enquanto estamos no sofá.

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