Entrevista: Ninth Circle

 


Os Ninth Circle já nos habituaram a longos intervalos entre álbuns. Mas isso tem sido positivo pois permite que a banda cresça ao vivo entre esses lançamentos e vá aprimorando a sua performance criativa. Echo Black é a sua mais recente proposta sendo, eventualmente, o álbum mais catchy e melódico. Para confirmarmos isso e as suas razões fomos falar com o trio californiano, já incluindo o novo baterista.

 

Olá pessoal, obrigado pela disponibilidade! Novo álbum seis anos após Legions Of The Brave. O que fizeram durante este período?

Richie Brooks (RB): [entrando imediatamente na conversa] Eles adicionaram o seu novo baterista! (risos)

Frank Foray (FF): Obrigado Pedro por nos receberes na Via Nocturna! Sim, de facto! Temos um novo álbum, Echo Black. Sabes, para nós parece demorar um pouco para lançar álbuns parcialmente porque amamos tocar muito ao vivo! Legions Of The Brave foi lançado em 2014 e passamos cerca de três anos em tournée com ele. Quanto ao processo de composição e gravação do Echo Black, demorou cerca de 3 anos do início ao fim. Comecei a escrever canções em 2016-2017. Em 2018 estávamos em estúdio em gravações e em 2020 foi lançado. Gostaria de fazer o próximo álbum ainda mais rápido. Acredita ou não, já tenho músicas escritas para o próximo disco. Ficar em casa porque não podemos ir em tournée não foi divertido, então isso significa que tenho que preencher o meu tempo com outra coisa, por isso comecei a escrever.

Dennis Brown (DB): Parece que Frank está sempre a escrever, o que é ótimo! Chegou ao ponto em que poderíamos parar de fazer espetáculos e começar o processo de gravação muito mais cedo, mas surgiram algumas oportunidades. Finalmente, planeamos um bloco de tempo com bastante antecedência e começámos este álbum. Além disso, sempre escrevemos e gravamos mais do que realmente lançamos.

 

Mantendo a mesma formação, acredito que deu outra estabilidade para criar e gravar este novo álbum. Estou certo?

FF: Sim e não. Sim, porque estás a trabalhar com pessoas de quem gostas e conheces muito bem. Dennis e eu escrevemos todas as músicas, por isso soará sempre como Ninth Circle. Como os AC/DC, porque Malcom, Angus e Bon/Brian escreveram, sempre soou a AC/DC, não importando quem estava por trás da bateria. No entanto, no nosso caso, quem se senta lá é muito importante porque pode realmente mudar certas dinâmicas. Olhando para trás, em retrospetiva, se vires os nossos dois primeiros álbuns, Ninth Circle e The Power Of One, eles são bem diferentes porque os bateristas daquela altura tinham as suas limitações. As habilidades de Dave permitiram-nos mover de uma forma mais progressiva e power metal, como vês em Legions Of The Brave e Echo Black. Não, neste caso específico, porque Dave aposentou-se da música logo depois de termos gravado o disco e Richie juntou-se à banda. Para ser honesto, eu teria adorado gravar este álbum com Richie. Richie é o melhor baterista que já tivemos na banda! Felizmente, ele está aqui agora e estou ansioso para gravar os próximos discos com ele, sem dúvida!

DB: Richie trouxe uma nova energia para a banda e isso ficou evidente desde que começamos a ensaiar. Eu já não me divertia tanto nos ensaios há anos! Ele vai querer tocar músicas que não tocamos há muito tempo. Isso mantém as coisas frescas e é um bom exercício mental para nós.

 

Um álbum que parece mais catchy e melódico do que nunca. Concordam? Era essa a vossa intenção desde o início ou simplesmente aconteceu assim?

FF: Tu sabes, nós tentamos sempre manter a essência de como os Ninth Circle deveriam soar em cada álbum. E, ao mesmo tempo, tentamos sempre explorar e expandir musicalmente. Em cada álbum há sempre uma ou duas músicas que são um pouco diferentes das outras. No primeiro álbum tens a música Move. Em Power Of One tens Obsession. Legions Of The Brave tem Going Home e Echo Black, tem Then & There e Tokyo Nights. Acho que musicalmente dá ao ouvinte um pequeno prazer. Alguns vão gostar e outros não. No entanto, não ouvimos nada a não ser coisas positivas sobre Tokyo Nights e Then & There. Os fãs têm dito que isso lhes lembra músicas muito fixes da era do MTV Headbanger’s Ball. Nós também somos fãs de White Lion, Stryper e Van Halen e esses sons vão sair nas nossas composições porque foi com eles que crescemos naquela altura.

DB: A gama de influências de Frank é certamente mais ampla do que a minha. Isso ajuda, especialmente durante o processo de composição. Seria um desafio para mim escrever algo como Shadow Of Giants ou Then & There. Frank junta muito bem esse tipo de ideias e quando ouço uma versão gravada, isso mostra um lado diferente dos Ninth Circle que atrai outros ouvidos que normalmente não teriam dado uma oportunidade ao nosso CD ou banda.

RB: Eu concordo que é muito mais melódico, especialmente os background vocals. Como neste disco não há muitos elementos de teclado, é bom ter ótimos background vocals.

 

Apesar disso, escolhem um título obscuro, Echo Black, e uma capa também bem dark. Qual é o seu significado?

FF: Pelo que me lembro, conforme escrevíamos, as músicas mais pesadas surgiram primeiro e, assim nasceu o título do álbum. Músicas como Then & There e Tokyo Nights vieram depois. Echo Black é uma música muito boa tanto musical quanto liricamente. Esta é uma das raras ocasiões em que escrevi as letras primeiro, antes de ter qualquer música. Estava num voo para Grand Rapids, Michigan, sem entretenimento a bordo e meus dispositivos estavam com bateria fraca, então decidiu escrever algumas letras. O título, Echo Black, surgiu do nada. E pensei comigo mesmo o que aquilo significava. O meu primeiro pensamento foi homem contra a máquina e as letras estavam todas prontas quando aterramos. Acho que Dusan Markovic fez um excelente trabalho traduzindo a música para a capa do álbum!

 

Quando começaram a trabalhar nestas músicas e quanto tempo demorou para ter o álbum pronto?

FF: Acredites ou não, esta foi a gravação mais rápida que fizemos! Comecei a escrever músicas no final de 2016, início de 2017. Demoramos cerca de um ano para a pré-produção. Naquela altura, Dave deixou a banda, tivemos um baterista diferente durante cerca de 9 meses e Dave voltou a tempo para a pré-produção e gravação. A gravação do disco demorou cerca de um ano. Curiosamente, o nosso artwork original foi rejeitado e precisámos encontrar um novo artista. Tivemos que esperar cerca de três meses para conseguir Dusan. Assim que enviamos o disco completo para a editora, demorou cerca de cinco meses para a data de lançamento. São os detalhes que entram em fazer um álbum que realmente adicionam tempo. O próximo será mais rápido, com certeza!

DB: Certamente cada CD apresentou os seus obstáculos. Pode haver a tentação de ir por atalhos, mas quanto mais arte crias, mais entendes que outra semana, outro mês ou outro ano (risos) não faz diferença no grande esquema das coisas. Deves querer olhar para trás nas tuas gravações sabendo que te esforçaste para fazer o que fosse necessário para tornar as músicas excelentes.

 

Como são uma banda que mistura diferentes estilos nas composições, qual foi a vossa principal inspiração para Echo Black?

FF: Há sempre um núcleo principal de influências que está no coração da música de Ninth Circle: Iron Maiden, Scorpions, Y&T, Van Halen, UFO, Thin Lizzy, Riot e assim por diante. Depois, há as influências mais pesadas, como HammerFall, Stratovarius, Primal Fear, RiotV, Megadeth, Testament. E então, falando por mim como compositor, existem bandas que ninguém pensaria que influenciariam uma banda de heavy metal. Essas são bandas como The Beach Boys, The Temptations, Huey Lewis & The News, The Romantics, Steve Miller, Elvis Presley e White Lion. Até mesmo o nosso produtor, Jeff Prentice, influencia a produção de maneiras fantásticas, porque ele é fã de Styx, REO Speedwagon, Journey, The Isley Brothers, Earth Wind & Fire, TOTO, Survivor. Portanto, quando juntas todas essas coisas, obténs um som único, como o de Ninth Circle. É como a versão heavy metal de California Sound, percebes o que eu quero dizer? Por exemplo, nos primeiros discos de Def Leppard e Iron Maiden podes ouvir o quanto bandas como Thin Lizzy e UFO influenciam as suas composições. É muito fixe, na verdade.

 

Os Riot são, definitivamente, uma das vossas maiores inspirações. Como te sentes tendo alguns dos seus membros a colaborar neste álbum?

RB: Frank e Dennis conhecem os elementos dos Riot há algum tempo e é muito bom ver que eles nos apoiam.

FF: É um pouco surreal. Riot é uma banda que me mudou para sempre! Até hoje, ainda me lembro onde estava quando ouvi Thundersteel aos 16 anos de idade. Eu já era fã de bandas como Helloween, Racer X e Yngwie Malmsteen, mas o som dos Riot era tão poderoso que convenci todos os meus amigos a comprar aquele disco. Lembro-me de conversar com Dennis sobre uma versão para este álbum e ele sempre teve ótimas ideias como Stormbringer em Legions Of The Brave. Dennis sugeriu Warrior. Aí aumentei a aposta e disse, e se nós trouxéssemos alguns dos elementos para tocar! Todd e Mike foram muito gentis e fizeram isso sem hesitar. Eles são pessoas ótimas. Conhecemo-nos quando abrimos para eles e, quando voltaram, Dennis e eu trabalhamos na sua mesa de merchandise e como roadies! Portanto, para responder à tua pergunta, como eu já disse ao Todd, imagina a tua banda mais favorita do mundo e pede-lhes para estarem no teu álbum e eles dizem que sim! É o sonho de uma criança do rock n roll que se torna realidade!

 

E por que a escolha dessa para cover? Por que essa e não outro?

FF: Como sempre, Dennis tem ótimas ideias para versões!

DB: Nos ensaios ao longo dos anos, houve quatro ou cinco canções dos Riot que frequentemente tocamos e divertimo-nos muito. Já tínhamos tocado Warrior em alguns sets na última tournée e correu muito bem! Muitos disseram que não tinham ouvido a música antes. Quando chegou a altura de escolher uma opção para um possível bónus ou faixa extra, Warrior estava no topo da lista.

 

Podem falar sobre a letra de Riding The Storm? É uma homenagem a todas as bandas que vos influenciam?

FF: É uma homenagem com certeza! Eu tinha ideia para a música, mas não conseguia encontrar nenhuma ideia para a letra. Foi quando ouvi o Raised On Rock do Elvis Presley e as ideias começaram a fluir. Riding the Storm é literalmente a minha história e a de Dennis, com 15 anos sentados no quarto de Dennis a ouvir álbuns de heavy metal!

 

E a partir de agora? O que têm os Ninth Circle planeado para os próximos tempos?

FF: Bem, a pandemia interrompeu a tournée e isso é uma verdadeira deceção, com certeza. E não consigo ver como o início de 2021 vá ficar melhor, embora as coisas possam mudar a qualquer momento, pensando de forma otimista. Diria, que temos mais alguns vídeos para fazer e se as coisas correrem bem, talvez gravar um novo álbum em 2021!

DB: Posso dizer que já temos muito material para trabalhar e queremos manter o ritmo! Com o Richie adicionado, os resultados falarão por si. Obrigado pela entrevista!

RB: Estou ansioso para gravar com estes gajos! Já começamos a montar as músicas e o que ouvi parece incrível!! Será uma experiência muito divertida. Espero que possamos registar toda a experiência!! Obrigado pela entrevista!


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