Reviews: Outubro (II)

 

Ghostly Rock Season (INVADING CHAPEL)

(2020, Independente)

Invading Chapel é um projeto já bem antigo. Nasceu em 1996 pelas mãos do francês Loïc Malassagne e tem vindo, ao longo dos anos, a criar linhas góticas que tanto caem no rock como no metal. No caso particular de Ghostly Rock Season, a maior dose (bem, na realidade, quase a totalidade) é rock gótico muito influenciado pelas ondas negras, tons baixos, vocais graves e atmosferas cruas dos anos 90. Este é um disco que nada acrescenta ao que já foi feito e onde ficam bem evidentes as lacunas que um projeto de uma pessoa apenas por norma acarreta. Em Invading Chapel, Malassagne toca tudo e canta, com exceção da bateria que ficou entregue a dois elementos, Ludovic Rouix e Jim D., e a alguns momentos entregues a convidados, como alguns solos e a voz feminina em três temas. E são, precisamente, esses os momentos que conferem uma outra dinâmica a este disco. Algures entre os The Cure, os Type O Negative (ao nível vocal, nomeadamente) e muito dos HIM, mas com influência também visível dos Depeche Mode, onde nem falta a versão de It’s No Good, Ghostly Rock Season é um disco algo estereotipado e que, provavelmente, apenas dirá alguma coisa aos fanáticos do estilo. [62%]

 


Time Waits For No Man (TRISHULA)

(2020, AOR Heaven)

Trishula, a banda de rock melódico britânica é o resultado da mente criativa do guitarrista Neil Fraser (Ten e Rage Of Angels) e que não perde tempo a colocar no mercado o seu segundo álbum a solo (e em nome do projeto Trishula) no espaço de dois anos. Acompanhado pelo excelente vocalista Jason Morgan, mas já sem o baterista português João Colaço, Time Waits For No Man sucede a Scared To Breath e segue, de uma maneira global, o mesmo registo. Isto significa, uma aposta em linhas melódicas de um rock elegante e bem elaborado, maduro e personalizado, embora não muito exuberante e, claramente, com o maior destaque dado ao trabalho de guitarra do próprio Fraser, sempre bem coadjuvado pelo desempenho vocal de Morgan. [75%]

 


Mantenhas (FERNANDO FERREIRA)

(2020, AVMusic Editions)

Na canção que abre Mantenhas, último álbum de Fernando Ferreira, ouvimos o som de uma percussão. É um som que funciona como porta de entrada para uma viagem que não sabemos onde nos leva, mas que claramente começa em África, nomeadamente em mornas e coladeiras de Cabo Verde (verdadeiramente espetacular é Mindjeris De Pano Preto). E, a partir, daí, expande-se pelos seis continentes, sendo particularmente audível o fado de Portugal, algum jazz e MPB do Brasil, a música dos portos do Mediterrâneo e até country dos EUA. É, por isso, um disco aberto ao mundo e à sua diversidade cultural, étnica e musical. É um álbum de world music e de união, num sentimento que não se esgota nas notas musicais. Para este disco contribuíram, ao nível da escrita, nomes como João Afonso, Amélia Muge, Sebastião Antunes e Paulo de Carvalho. [69%]

 


Muscle Memory (KEVIN GODLEY)

(2020, Independente)

Kevin Godley, para os mais distraídos, é o lendário compositor, cantor e baterista dos 10cc. E desde 16 de julho que vem lançando canções. A última foi All Bones Are White e ficou disponível no passado dia 22 de outubro. Até ao final do ano ainda serão lançadas mais três e, depois, surgirá o álbum Muscle Memory que as englobará a todas. No fundo este é um álbum diferente. Através da plataforma PledgeMusic, onde músicos podem contactar diretamente com os fãs, Godley pediu a colaboração para as suas criações e, portanto, Muscle Memory é assim um álbum aberto a diversas colaborações, algumas delas de completos desconhecidos. Por isso, dos 286 instrumentais que Kevin Godley recebeu, 11 foram escolhidos para o tracklisting final. E daí este álbum ser tão heterogéneo, sendo de destacar o espetacular The Bang Bang Theory, abordagem sulista/gospel num registo vocal soberbo sobre um campo de beats/eletrónica. Outros momentos merecem o nosso aplauso como a pinkfloydiana Periscope (a sair a 5 de novembro), a abordagem mariachi de Song Of Hate (19 de novembro) e a cinematográfica, com a flauta com um desempenho essencial, Bulletsholes In The Sky (último tema a ser disponibilizado a 3 de dezembro). Infelizmente para a consistência do disco, há um notório desequilíbrio entre estes temas e os restantes e há, até, algumas ideias pouco produtivas. [66%]

 


Forever (AVI ROSENFELD)

(2019, Independente)

Diz Avi Rosenfeld que a música não tem fronteiras e os seus trabalhos são a prova evidente disso mesmo, juntando uma enorme diversidade de músicos de todo o mundo. Forever, o incrível 47º álbum, ainda é de 2019 e mostra o israelita a regressar lentamente à sua melhor forma. Rock clássico com fortes estruturas rítmicas e muito diálogo entre o Hammond e a guitarra elétrica dividem o protagonismo com outras abordagens mais orientadas para o latin, para o folk e para o funk. Há momentos trovadorescos e há trompetes a espalhar magia pelo ar. Mas se há algo de especialmente bem conseguido neste trabalho é mesmo a costela de um rock clássico que não deixará ficar ninguém parado. [80%]

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