Entrevista: Silentivm

 


Onze anos depois do lançamento do último álbum de originais, Amortean, e com muitas mudanças a assinalar, o regresso dos Silentium aos discos não poderia ser de uma forma mais excitante. Carregado de emotividade e envolto numa áurea de genuinidade muito forte, Motiva é um claro passo em frente na carreira dos finlandeses e mostra que o tempo passado não foi, de todo, desperdiçado. Riina Rinkinen, a vocalista que se estreou em Seducia e que já vai no terceiro trabalho coma banda de Jämsänkoski, falou-nos de todo este processo evolutivo.

 

Olá Riina! O vosso lançamento anterior foi Amortean… em 2008. Porque este regresso acontecer apenas 11 anos depois. O que aconteceu para este hiato tão longo?

Olá! Tínhamos muitas coisas apenas com a vida em geral. Alguns de nós tornaram-se pais e coisas assim. Apenas estivemos num movimento mais lento, mas nunca parámos completamente.

 

Precisamente, os Silentium nunca pararam. Em que atividades e/ou projetos estiveram envolvidos durante estes anos?

Sim, nunca paramos. Andámos a fazer shows estranhos aqui e ali e lentamente trabalhámos nas novas músicas. A maioria de nós também tem outros projetos. Tive uma banda com o pai do meu filho, mas nunca lançamos nada, apenas tocamos ao vivo algumas vezes em Helsínquia. Às vezes também faço comédia e direcionei a minha energia artística para isso.

 

Assim, desde quando começaram a compor músicas para este álbum?

Algumas das canções começaram a sua jornada há uma década (como por exemplo Tide), mas algumas delas são composições mais recentes (como por exemplo Vow). O trabalho tem sido meticuloso e todas as músicas têm recebido bastante atenção da banda ao longo destes anos. Ou seja, mesmo que a composição tenha começado há muito tempo, é certo que o trabalho foi feito com elas até a gravação do álbum.

 

Musicalmente falando, e mesmo considerando todo o tempo que passou, este álbum volta às raízes da banda, não concordas? Era a vossa intenção, desde o início, manter a mesma matriz composicional?

Eu acho que enquanto o álbum é definitivamente leal às nossas raízes, ele também mostra a evolução da banda na forma de composições mais maduras, uma abordagem mais focada no som e na forma que ainda é definitivamente reconhecível como Silentium.

 

No entanto, também podemos notar algumas subtis diferenças. São elas o resultado do vosso crescimento e maturidade?

Absolutamente. Onde a massiva compilação de camadas não ficou mais fina, as escolhas dentro das composições encontraram mais foco e mais serenidade, por assim dizer. Todos nós crescemos tanto como indivíduos quanto como músicos e parte desse crescimento, para mim, é um resultado direto de trabalhar neste álbum e lidar com questões pesadas nas letras.

 

E definitivamente abandonaram as cordas - sem violino ou violoncelo - ao contrário dos primeiros álbuns, mas de acordo com a segunda fase da carreira. Porquê?

Há cordas no álbum! Até temos a violinista original dos Silentium, Jani Laaksonen. Mas estás certo de que, como instrumento solo, como o violoncelo estava em Seducia, as cordas não são destacadas da mesma forma neste álbum. Eu não acho que tenha havido um pensamento profundo por trás disso. Foi apenas o que as músicas queriam e precisavam e Sami construiu em torno disso a melhor construção musical possível.

 

E em Shame usaram um quarteto de sopros. É uma prova de quão longe a banda pode ir em termos de composições?

Acho que é uma prova da incrível compreensão de Sami Boman (teclista e compositor principal) da beleza e do espaço na música. Também fala muito sobre o seu arrojo como compositor, como sugeriste, porque ele vai levar a dinâmica de uma música de um extremo ao outro e fá-lo com absoluto controle e graça.

 

Quem pertence a este quarteto e que outros convidados colaboram convosco neste disco?

Lamento de momento não ter os nomes disponíveis para o quarteto (por favor, verifiquem o booklet no CD), mas tivemos muitos artistas incríveis que apareceram no álbum. Helena Haaparanta (Crimfall) cantou as harmonias e a segunda voz em Circle. Lars Eikind (Before The Dawn, etc) também emprestou a sua voz em algumas músicas e os vocais masculinos ouvidos no Vortex são de Tony Kaikkonen dos Red Eleven. Há outros que de momento escapam da minha mente, por isso, por favor verifiquem os créditos no CD para informações mais precisas. Desculpem o meu cérebro confuso!

 

De que forma o facto de agora terem dois guitarristas a contribuir com solos influenciou a vossa abordagem ao processo de composição?

Significa apenas que há mais espaço para essa direção nas músicas. Não é como se os solos fossem algo importante na música dos Silentium, pelo que, definitivamente, isso é uma mudança. Acho que o maior impacto está em escrever as partes da guitarra ao mesmo tempo, já que agora há dois guitarristas altamente qualificados na banda, o que abriu novas possibilidades e, na minha opinião, levou as músicas a outro nível.

 

Liricamente, este é o álbum mais pessoal dos Silentium de sempre. O que vos motivou a seguir esse caminho? Quais são as temáticas abordadas?

Acho que a motivação é que realmente não há escolha. Seria difícil colocar emoção no meu canto se as letras fossem frívolas e sem peso. Eu escrevo sobre o que me move e me toca - daí o nome do álbum, Motiva - e é disso que as letras tratam. Algumas das músicas são claramente sobre a minha depressão (Truth, Unchained) e a maioria delas são, pelo menos, de alguma forma derivadas desse estado. Vow é o meu hino para o meu filho, a promessa que fazemos como pais quando trazemos almas puras para este contaminado lugar. Safer/Easier é uma história fictícia e um estudo sobre como as crianças, que raramente querem crescer para magoar as pessoas, acabam por fazer exatamente isso. Shame é uma música de término, que lida com as emoções que tens que assumir quando ficas demasiado tempo em algo que é mau para ti próprio. Tide trata da questão dos refugiados. Vortex é a única música que não tem letra minha; foi escrita por Matti Aikio. O tema de ganância e anseio por poder e glória encaixa-se perfeitamente no álbum.

 

Para a produção, escolheram Aksu Anttu. Como foi trabalhar com ele e, na tua opinião, que mais valia trouxe para o álbum?

Aksu é fantástico e acho que todos nós gostamos de trabalhar com ele. Ele conjurou o maior som que esta banda já gravou e por isso somos muito gratos.

 

Que outros projetos tens em mãos e/ou em mente desenvolver nos próximos tempos, mesmo considerando esta situação de pandemia?

Bem, é claro que a covid destruiu qualquer esperança de uma adequada tournée de lançamento. Nós só fizemos alguns espetáculos. Ninguém sabe como a situação se irá desenvolver, por isso é difícil fazer planos, mas temos algumas ideias de talvez gravar algumas covers acústicas e lançá-las enquanto o mundo está lentamente a queimar. Um espetáculo em stream também foi discutido. Também já temos algumas músicas novas em andamento e esperamos que o próximo álbum chegue até vocês em menos de uma década!

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