Entrevista: 3.2


Robert Berry afirma que está constantemente a escrever a agravar demos, sem saber aonde isso o poderá levar. Para já, fica o registo que esse processo o tem levado a novos desafios e a atingir novos pontos altos na sua carreira. Primeiramente com The Rules Have Changed e, agora, com o seu sucessor Third Impression. E foi com o esclarecedor músico americano que falamos a propósito deste seu regresso com mais um disco de um fantástico prog rock.

 

Olá, Robert, antes de começarmos, gostaria de dizer que é uma honra fazer esta entrevista contigo. E parabéns pelo teu novo álbum! Como têm sido as reações até agora?

Olá Daniel. É ótimo falar contigo. Estou impressionado com o apoio para o álbum 3.2 Third Impression. No dia anterior ao lançamento estava preocupado de que não seria recebido de braços abertos como o álbum anterior The Rules Have Changed. Mas, das muitas entrevistas que fiz até agora, pelo menos metade dos entrevistadores acha que este álbum é ainda melhor do que o anterior. Eu não esperava isso. Portanto, sim, estou muito satisfeito e bastante animado com o futuro deste novo álbum 3.2 Third Impression.

 

Third Impression é um álbum conceptual, não é? Sobre o que é a história?

É interessante que penses isso. A história dos 3 e dos três álbuns que considero a trilogia da banda 3, de certa forma é uma espécie de conceito. Keith Emerson, Carl Palmer e eu tínhamos um som e começamos a desenvolver um estilo em 1988. Durou apenas cerca de um ano e meio, pois Keith foi tão criticado por alguns fãs que ele não quis continuar a banda. Mas 27 anos depois, quando soube como era bom um álbum ao vivo da banda 3, ele decidiu que ele e eu deveríamos fazer outro. Tendo-o perdido precisamente no meio daquele álbum mudou o meu conteúdo lírico e o meu propósito para fazer o álbum anterior, The Rules Have Changed e o álbum atual Third Impression. Portanto, embora Third Impression não seja um álbum conceptual, há um conceito nos três álbuns de Emerson, Berry e Palmer.

 

The Devil Of Liverpool é um nome muito curioso. De que forma surge?

Essa é uma música interessante. Há alguns anos atrás, estava numa press tour para o álbum anterior e passei tantas horas e dias a falar sobre a minha jornada e a música e porque tinha que terminar aquele álbum que eu precisava de uma pausa. Então, a minha esposa Rebecca e eu, decidimos fazer viagem de táxi pela história dos Beatles. Por acaso, apanhamos um velho motorista de táxi que conheceu George Harrison quando ele era novo. As histórias que ele nos contou foram muito divertidas e durante tudo isso ele contou-nos sobre um velho agiota que costumava aterrorizar o povo de Liverpool. Fiquei fascinado com o nome e intrigado com a história. Registei o nome The Devil Of Liverpool no meu telefone e pensei que talvez um dia fizesse uma música com ele. Fiquei tão intrigado com isso que assim que voltei aos Estados Unidos, comecei imediatamente a escrever a letra da música. Nunca sabes de onde poderá vir uma ideia para uma música.

 

Embora Keith Emerson já tenha falecido, ainda há partes gravadas por ele em Third Impression. As suas partes foram gravadas antes da sua morte especificamente para este álbum ou adaptaste algumas de suas melodias já escritas para estas canções?

Antes da morte de Keith, ele e eu escrevemos a maioria das músicas do álbum anterior The Rules Have Changed. E tinha uma música restante com quase 9 minutos de duração. Era uma música muito grande para colocar naquele álbum. E, na verdade, não tinha planos de a usar. Senti que seria sempre algo que eu tinha para mim que ninguém jamais ouviria. A editora ligou e disse-me o quão bem o The Rules Have Change tinha saído e eles acharam que eu realmente deveria fazer um sucessor. Disse-lhes que tinha apenas uma música que não tinha sido usada anteriormente, mas não tinha a certeza se queria fazer um sucessor. Eles encorajaram-me com relatórios sobre as vendas de The Rules Have Changed e eu disse-lhe que se eu pudesse escrever sete músicas das quais eu achava que Keith ficaria orgulhoso e gostaria de fazer se ainda estivesse vivo, então eu terminaria aquela música e adicionava-a a este novo álbum. Aquela música chamava-se Never e não me tinha apercebido como era uma ótima música até terminar os últimos 25% que não haviam sido trabalhados. Disseram-me que pode ser a melhor dos três álbuns desde Desde LaVida do primeiro. Isso é um grande elogio, já que Desde LaVida é a única música que os fãs de ELP realmente apreciam no primeiro álbum da banda 3.

 

Fizeste algum vídeo para promover este álbum?

Existem três vídeos para este álbum. O primeiro, Fond Farewell, é um vídeo cheio de ação com temática de ficção científica. O segundo, A Bond Of Union é um trabalho incrível. O meu amigo Bernie da Áustria fez o vídeo e realmente capturou a essência dessa música. Ele também fez o vídeo da terceira música lançada como single, chamada Missing Piece. Algumas pessoas disseram-me que essa é a sua música favorita do álbum, por isso estou feliz por ter um vídeo para ela.

 

O início dos 3 foi certamente o ponto alto da tua carreira. Como estabeleceste essas ligações com músicos tão importantes como Keith Emerson e Carl Palmer?

Foi uma época muito emocionante para mim. Tinha uma banda local chamada Hush na área da Baía de São Francisco que se tinha saído muito bem, mas estava a começar uma carreira solo. A Geffen Records estava a preparar-me como artista solo quando Carl Palmer ouviu a minha cassete do álbum que lancei sozinho. Gostou e ligou-me. Tentamos formar uma banda, mas nada de especial funcionou e o meu empresário na época, Brian Lane, disse-me que Steve Howe dos Yes gostou da minha fita e queria falar comigo sobre entrar na sua nova banda GTR. Na verdade, foi o início da minha carreira mais internacional. Passei um ano com Steve Howe a escrever a gravar as demos para o segundo álbum dos GTR.

 

Tens uma enorme coleção de guitarras e suponho que todas tenham uma história. Qual é a mais icónica para ti? Queres compartilhar alguma dessas histórias?

Oh sim, o meu vício são as guitarras (risos). Colecionar guitarras é algo que não considero orientado para a música. Simplesmente adoro a maneira como são feitas, a habilidade, a eletrónica, as diferentes formas e acabamentos. Aquela que, acredito tenha a história mais interessante é a que recebi de Eddie Van Halen. O teclista da minha banda Alliance é Alan Fitzgerald. Ele foi originalmente o teclista que deu início aos Night Ranger. Mas ele acabou por tocar teclado e fazer backing vocals para os Van Halen atrás do palco. Eu ia com ele fazer o soundcheck e ouvia esses músicos incríveis fazer o soundcheck durante horas a fio. Eu queria adquirir uma das novas guitarras que Eddie Van Halen tinha projetado, por isso Alan Fitzgerald perguntou-lhe se estava bem para ele. Eddie gentilmente disse por que não assinava antes uma na madeira e assim seria diferente da maioria. Bem, fiquei entusiasmado com isso e em 1993, assim foi, ele assinou a guitarra e depois a fábrica concluiu-a. Acredito que é uma das cinco feitas dessa maneira.

 

Atualmente estás envolvido em mais algum projeto?

O terceiro e último álbum das três séries é tão importante para mim que por agora estou totalmente focado. Acredito que vou levar todo o ano de 2021 a falar sobre isso, possivelmente tocar algumas das músicas ao vivo no final do ano e colocar de lado a banda que tinha, os 3. Tem sido uma parte muito importante da minha vida.

 

Já contas com 45 anos de carreira. O que é que os teus fãs ainda podem esperar de ti?

Bem, se seguires a minha carreira, sabes que estou sempre à procura do que posso fazer amanhã. Apesar de estar a promover o Third Impression e estar totalmente absorvido com tudo que tem a ver com música, estou constantemente a escrever a agravar demos. Para onde elas me poderão levar, nesta altura não sei. Mas sei que me vão levar a algum lugar e será um novo desafio e um novo ponto alto na minha mente tentar alcançar algo novo e emocionante.

 

A pandemia mudou muito os teus planos de vida?

Pela primeira vez na minha carreira tinha uma tournée europeia planeada com o meu nome e a minha história na música. Isso foi muito emocionante para mim. É claro que foi tudo cancelado em 2020, mas espero que em 2022 esteja tudo de volta. Isso é algo que eu sempre quis fazer. A tournée que fiz em 2019 foi um set de duas horas da minha história na música. Foi de GTR, para 3, para Ambrosia, alguns álbuns solo, Pilgrimage To A Point e o último álbum de 3.2. Agora temos que adicionar o terceiro álbum da série à tournée.

 

Obrigado, Robert. Queres enviar alguma mensagem aos teus fãs portugueses?

Estou muito satisfeito que me tenhas contactado para falar sobre o novo álbum. Espero que muitas pessoas em Portugal gostem deste álbum, pois adoraria ir aí em digressão. Há uma enorme comunidade portuguesa nos Estados Unidos e fico sempre surpreendido com a quantidade de amigos meus que têm pelo menos um pouco de sangue português. Algumas das melchores pessoas que conheço e na verdade o meu amigo mais próximo é português. Portanto, espero poder apertar as mãos de todos e agradecer por apoiarem a minha música e me deixarem viver a vida que sonho viver.



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