Entrevista: Sullen


Foram seis anos de intervalo entre Post Human e o novo registo dos Sullen, Nodus Tollens – Act 1: Oblivion. Desde logo a inclusão de Act 1 no título sugere que este trabalho conceptual baseado no conceito criado por John Koenig terá uma continuação. E é bem verdade como se pode comprovar nesta conversa que mantivemos com três membros (Marcelo Aires, David Pais e Ricardo Pinto) dos mestres do prog nacional.

 

Olá, pessoal! Novo álbum já cá fora. De que forma olham para a evolução deste o álbum anterior para este?

Marcelo Aires (MA): É um álbum com um caráter distinto, acima de tudo. O Post Human foi um álbum cuja criação partiu de uma colaboração intensa entre mim e o antigo vocalista/guitarrista, o César Teixeira, daí a sua linha ter contornos um tanto distintos. O Nodus Tollens é, apesar de tudo, uma experiência mais individualizada, tendo em conta que praticamente toda a música que consta no mesmo foi composta por mim. Este é sem dúvida um álbum mais intenso, muito denso em termos rítmicos, melódicos e harmónicos, desenhado numa linha na qual me revejo profundamente.

 

De qualquer forma, Post-Human já foi lançado em 2015. Porque demorou tanto tempo a criação do seu sucessor?

MA: A música deste álbum começou a ser composta por mim em 2016, antes das mudanças no coletivo original. Devido a toda uma série de transformações na vida pessoal e profissional de alguns dos elementos, o projeto viu-se forçado a entrar numa espécie de hiato performativo até 2018, culminado posteriormente na inclusão do David e do Ricardo no coletivo. Ainda assim a composição prosseguiu e apenas quando sentimos que tínhamos tudo o que precisávamos para finalmente se proceder à edição do disco este novo material viu a luz do dia. Não fazia sentido que tivesse sido de outra forma. Além disso, também é importante referir que se compôs muita mais música que a presente neste registo durante este período, que naturalmente irá constar num próximo registo.

 

Este novo álbum carrega um sentimento muito forte, desde logo, pela escolha do título. É um disco conceptual? E se sim, qual a base da história criada?

David Pais (DP): Sim, este disco é um disco conceptual, baseado no conceito de Nodus Tollens por John Koenig, publicado no seu Dicionário de Dores Obscuras, em que o autor criou imensas expressões para sentimentos e narrativas que ainda não tinham um conceito linguístico concretamente definido. Essencialmente, retrata a história de uma pessoa que perdeu o completo rumo e noção da sua própria narrativa, da sua história, em que todas as bases e estruturas deixaram de fazer sentido. Neste trabalho, relatamos essa perda e o longo caminho para a resolução desse dilema, para a “cura” dessa situação caótica.

 

Ainda a respeito do título, a inclusão de Act 1 pressupõe a continuidade desta história. É isso que está previsto?

DP: Sim, exatamente. O primeiro ato reflete a perda do indivíduo, o momento em que se apercebe que tudo deixou de fazer sentido e as possíveis causas para essa perda. O segundo ato é, por outro lado, a procura das respostas e a resolução desse mesmo dilema, em que o indivíduo consegue, por fim, voltar ao ponto em que tudo faz sentido, com todas as lições que daí advêm.

 

The Prodigal Son foi o tema escolhido para o primeiro vídeo. Consideram ser este o tema mais representativo do álbum?

MA: Não. A escolha deste tema para primeiro single deveu-se apenas ao seu caráter tão direto e intenso, com tantos contrastes estéticos e dinâmicos, representativo da linha musical que o álbum espelha como um todo. Em termos conceptuais, o tema que melhor define este primeiro ato do Nodus Tollens é sem dúvida a Acheronta Movebo.

 

Já agora, podem explicar o significado desse estranho título Acheronta Movebo? De que falam neste tema?

DP: Acheronta Movebo provém do latim e significa “então moverei o Inferno”. Originalmente, faz parte de uma expressão antiga que é Flectere si nequeo superos, acheronta movebo, que se pode traduzir em “Se não conseguir mover o Céu, então moverei o Inferno”. No fundo, é uma personificação da necessidade de resolver um problema de uma forma ou de outra, de um ímpeto para terminar de vez com uma situação catastrófica a bem ou a mal.

 

Há previsões para a criação de novos vídeos?

MA: Sim - já temos algum material preparado para os próximos meses, inclusive, nos mais diversos formatos.

 

De que forma se processou o trabalho de composição destes temas?

MA: Tal como referido acima, eu comecei a compor os temas em 2016, delineando desta forma o "esqueleto" que iria dar forma ao Nodus Tollens. Com a inclusão do David e articulação do trabalho com o mesmo, deu-se início ao processo de elaboração das partes de voz, e sendo este um indivíduo tão prolífero criativamente, com quem desenvolvi uma química de trabalho tão sólida, conseguimos materializar muito rápida e eficazmente tudo aquilo que atualmente podem escutar neste registo.

 

Os trabalhos de gravação e produção deste disco decorreram da forma prevista ou sentirem algum tipo de dificuldades?

Ricardo Pinto (RP): Sim, correu tudo muito bem. As baterias foram captadas no Stone Sound Studio pelo Ricardo Oliveira e tudo o resto foi gravado por nós nos nossos home studios. Dado que todos temos o equipamento e as capacidades para isso, optámos por fazê-lo desta forma e assim concentrar os nossos investimentos monetários na promoção do álbum e na produção de merchandise.

 

Sendo uma edição independente, onde podem os interessados encontrar o vosso álbum?

RP: O álbum está disponível em todas as plataformas de streaming e em formato físico e digital no nosso Bandcamp. A forma mais fácil de o encontrar é seguir os links em www.sullen.pt

 

Há perspetivas de uma eventual assinatura com alguma editora? Ou isso não é uma prioridade para a banda?

RP: Há, sim. E é uma prioridade para nós. Tanto quanto possível, queremos delegar as tarefas não musicais (burocracias, logística, produção de materiais promocionais, redes sociais, etc.) a pessoas/entidades especializadas, para podermos dedicar mais tempo a criar e desenvolver a música de Sullen. Assinar com uma editora será um passo importante nessa direção.

 

De que forma a situação de pandemia vos afetou e como tem tentado superar a mesma?

RP: A pandemia impediu-nos de tocar ao vivo – e os concertos são a principal razão pela qual fazemos tudo o que fazemos, além de serem a melhor forma de dar a conhecer a nossa música ao público. Nada substitui a experiência de estar em palco e partilhar todo um espetáculo com uma multidão. No entanto, perante as restrições atuais, temos estado a estudar e preparar meios online de colmatar a ausência de concertos, seja sob a forma de videoclips, live streams e outras iniciativas do género.

 

Obrigado! Querem deixar alguma mensagem aos vossos fãs?

DP: Queremos desde já agradecer por todo o apoio e carinho que temos recebido mesmo antes do lançamento do álbum e prometemos que em breve iremos partilhar convosco ainda mais conteúdo deste trabalho, seja em formato “ao vivo”, seja na continuação deste primeiro ato. Estamos desejosos de poder voltar a pisar os palcos e gostaríamos de deixar um apelo para que sejam pacientes pela resolução desta pandemia e mantenham-se a salvo.

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