Space Opera (V/A)
(2022, Mallabel Music)
A
Mallabel Music foi fundada no underground da Bay Area em 2008, precisamente
quando as primeiras ondas da bass music e dubstep começaram a
entrar no mainstream norte americano. Desde então a editora tem-se
especializado no apoio tanto a nomes consolidados como a artistas emergentes.
Pelo já exposto, percebe-se que Space Opera traz um título enganoso –
porque nem se trata de música guiada pelas ondas futurísticas ou espaciais nem
é opera. Space Opera apresenta uma coleção de seis artistas que não
interessam minimamente a quem costuma seguir estas páginas. Ainda assim, se o
trabalho de manipulação sonora e eletrónica dos Illexxandra e dos Cam
Lasky ainda pode suscitar algum interesse, esse mesmo interesse vai-se
perdendo gradualmente até aos desastres totais que são os El Diablo Feat.
Nim 1 e Beat Kitty Feat. Annie Dolly. [55%]
October Is Marigold (DAVID CROSS & ANDREW KEELING)
(2021,
Noisy Records)
October
Is Marigold é o segundo
álbum de David Cross (violino elétrico) e Andrew Keeling (flauta)
e o terceiro a aparecer no selo Electric Chamber Music da Noisy
Records. Talvez mais contundente do que os seus antecessores, esta gravação
sintetiza os objetivos desse selo de apresentar música projetada para um
ambiente intimista que faz uso de técnicas musicais e eletrónicas usadas no rock.
October Is Marigold retrata, como o título sugere, atmosferas outonais sombrias
e melancólicas. A música é novamente em grande parte improvisada, sendo as
exceções uma parte de órgão previamente escrita para a faixa-título e dois loops
de guitarra. Embora as performances sejam espontâneas, há um senso de
arquitetura claro, com o tema de violoncelo/piano Marigold arqueado em
quatro encarnações ao longo do álbum. A natureza continua a ser uma inspiração,
com gravações de pássaros a encontrarem o seu lugar natural ao lado do violino pizzicato
e da flauta esvoaçante. Ao longo do disco há um fluxo desinibido entre os
pontos de referência musicais – dicas de folk, blues e romance
são expostas enquanto a dupla viaja por essa paisagem outonal austera. [70%]
Solace (HELD BY TREES)
(2022,
Tweed Jacket Music)
Held By Trees é um novo projeto instrumental com alguns dos músicos mais respeitados da fraternidade do rock britânico. Algures entre o post-rock e o prog, a banda liderada por David Joseph assina com Solace, o seu álbum de estreia. Nele aparecem nada mais, nada menos que sete veteranos que contribuíram para os últimos álbuns dos Talk Talk e Mark Hollis, sendo que, adicionalmente, surgem membros que colaboraram com grandes nomes: Pink Floyd, Eric Clapton, Blur, Gorillaz, o fundador dos Dire Straits, David Knopfler e Kasabian. Também por isso Solace é um disco com diferenciadas abordagens e, curiosamente, a faixa final, The New Earth, por exemplo, transmite muito do feeling Dire Straits, com as suas tradicionais matrizes e evoluções. Embora a abordagem composicional principal seja a partir de improvisações sobre padrões de ritmo e progressões de acordes, em alguns momentos, como em Wave Upon Wave, sobressai o minimalismo e introspeção, noutros, como The Tree Of Life, destaca-se a capacidade melódica. Solace é um disco orgânico, cinematográfico, melancólico e esperançoso, com espaço para a tensão e libertação, mas que exige uma audição atenta fruto da qualidade, complexidade e exigência dos arranjos. [78%]
Por Um Fio (JOSÉ MOZ CARRAPA)
(2022, Testa de Ferro)
Um fio. Apenas um fio liga trinta anos de composições
gravadas em lugares distintos, com sentimentos diversos. Chama-se Por Um Fio, porque é um fio que permitia
que se ligasse o Estúdio Itinerante
Mecânica Celeste a qualquer lugar onde houvesse corrente adequada. E Por Um Fio é o nome dado ao álbum que José Moz Carrapa lançou recentemente. José Moz Carrapa não é um nome estranho
nos anais da música portuguesa – Salada
de Frutas, António Variações, Sei Miguel, Tim, Dulce Pontes são
alguns dos ilustres a quem o seu nome está associado. Por Um Fio move-se por espaços entre o jazz fusão e a música ambiental com pontuais entradas no campo da world music. Essencialmente
instrumental, essa matriz é cortada por dois temas cantados: Os Peixes Voadores e Cinco Cêntimos, este numa clara
aproximação a Sérgio Godinho ou José Afonso e com interessantes jogos vocais.
[82%]
Wish
(WOLF X)
(2021,
Cleopatra Records/Raging Planet Records)
David Wolf (She Pleasures Herself, Uni_Form,
When The Angels Breath) aproveitou, como tantos outros músicos, a
pandemia para criar música. Por isso surge o seu próprio projeto intitulado Wolf
X que lançou Wish no final do ano passado. Um disco que assenta em
sonoridades industriais e eletrónicas cruzadas com alguma influência brit
goth rock dos anos 80. No fundo, uma mistura entre a componente negra de
uns Bauhaus com a eletrónica gótica de uns Depeche Mode ou com o
poderio industrial de uns NIN, Ministry ou The Young Gods.
A ideia pode parecer interessante e até são campos complementares. No entanto,
na nossa opinião, a Wish fica a faltar alguma qualidade nas composições
e, acima de tudo, muito a nível vocal. [65%]
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