Entrevista: Saints 'n' Sinners

 


Entre a estreia homónima e o segundo álbum Rise Of The Alchemist, passaram nove anos. Foi muito tempo, mas que está perfeitamente justificado, porque foram diversos os problemas que afetaram os turcos Saints ‘n’ Sinners, desde logo com os dois anos perdidos com a Covid. Mas agora, a banda promete vingar-se e até já começou a preparar demos para o sucessor deste espetacular registo. E o regresso ao vivo também promete – em Bucareste, na Roménia, no dia 16 de julho com os KISS, Whitesnake e Powerwolf. Desde Istambul foi o guitarrista Deniz Tuncer quem nos respondeu.

 

Olá, Deniz, obrigado pela disponibilidade. Rise Of The Alchemist é o novo álbum dos Saints ‘n’ Sinners. Por que demorou tanto tempo?

Bem, há muitas razões, mas a mais importante é ter empregos. Não podemos investir o nosso tempo na música corretamente. E também, tivemos alguns altos e baixos tanto nas nossas vidas privadas, quanto na carreira musical. Tivemos muitas mudanças de formação durante as gravações. Quando terminas todas as gravações de uma pessoa e ela decide sair no dia seguinte, tens que começar tudo de novo com um novo membro. Porque queremos que os nossos membros se sintam incluídos na banda e a mantenham. Nós não queremos que eles sejam apenas uma pessoa a imitar as performances de outra pessoa. Portanto, imagina quando isso acontece três vezes seguidas. Tão exaustivo. O que mais... hmmm. Ah sim, todo o nosso equipamento foi roubado depois de um espetáculo em 2018 e tivemos que comprar novos para continuar a gravar o álbum. Mais o quê? Sim, a coisa do Covid19. Dois anos no ralo. Como vês, o tempo voa.

 

De qualquer forma, o vosso primeiro álbum também já tinha demorado muito desde o início como banda. Por que aconteceu isso naquela altura?

Na verdade, a banda não foi formada oficialmente em 2002. Era eu a dizer “Ok, eu tenho músicas, preciso de uma banda” em 2002. O primeiro espetáculo com o nome de Saints 'N' Sinners foi no réveillon de 2005. Foi um espectáculo de Ano Novo com os Destruction. Depois desse espetáculo, começamos a tocar regularmente (mais ou menos). Em 2007, decidimos fazer um álbum, mas, mais uma vez, não estávamos felizes com os resultados que estávamos a obter nos estúdios. Tentamos outro estúdio e outro cantor. Também não funcionou. E finalmente em 2010, encontramos Mehmet e ele juntou-se à banda. Regravamos tudo, mas... agora alguns de nós tiveram que entrar para o exército porque o serviço militar é obrigatório na Turquia. São seis meses e não conseguimos fazer ao mesmo tempo. Portanto, imagina isto: um homem alista-se no exército durante seis meses, ele volta, outro sai para o serviço. Como podes ver, houve muitos obstáculos ao longo do caminho, mas conseguimos lançá-lo em janeiro de 2013.

 

Bem, podemos voltar um pouco aos inícios? Quem é esta banda chamada Saints 'n' Sinners? Podes apresentá-la aos metalheads portugueses?

Deixa-me começar com o nome. Eu precisava de um nome que pudesse soar bem, mas com maldade. E estava a analisar os nomes que inventei. Um deles era Snake Eyes e o outro era Renegade Lawmakers. Ambos os títulos acabaram como músicas do nosso álbum de estreia. Um dia, eu estava a ouvir Lord Of The Flies, dos Maiden. Tu conheces a letra, Saints and sinners, Something within usE disse por que não Saints & Sinners? Mas, naquela altura, sabia que havia uma banda canadiana dos anos 90 com o mesmo nome, mas que já não estava ativa. Para ter certeza, mudei para Saints 'N' Sinners. Verifiquei online, não havia bandas ativas com esse nome. Foi quando nos tornamos Saints ‘N’ Sinners. Alguns perguntam se retiramos o nosso nome do álbum dos Whitesnake. Adoramos os Whitesnake, mas o nome não vem daí. Além disso, o nome do álbum dos Whitesnake é Saints An' Sinners. Não tem nada a ver com o nosso nome. Quanto à banda. Somos cinco elementos que moram em 3 cidades diferentes. Mal nos vemos. Todos nós temos empregos diários porque, como todos vocês testemunharam durante os confinamentos, é impossível para a maioria dos músicos sobreviver sem ter um emprego regular. Tocamos metal melódico. Eu não quero dizer power metal porque temos 2 ou 3 músicas de power metal no álbum. Eu também não quero dizer heavy metal porque… eu também não acho que soemos como Angel Witch ou Saxon. Mas posso dizer que cobrimos um espectro muito amplo. Acho que é isso que torna um álbum interessante e audível do início ao fim.

 

Como analisas a vossa evolução desde Saints 'n' Sinners até Rise Of The Alchemist? Que pontos conectam os dois álbuns e que elementos os diferenciam?

Enquanto estávamos a gravar o nosso primeiro álbum, foi o início da era das gravações caseiras. Eu construí um estúdio de projeto e, de repente, já não estava a tentar gravar em fitas ou softwares de gravação obsoletos. Com a adição de bibliotecas de samples orquestrais ao meu estúdio, novas portas se abriram diante de nós. Antes do heavy metal na minha vida, havia bandas sonoras. Coleciono bandas sonoras desde criança. Tentei escrever algo onde pudesse misturar os elementos da banda sonora com o heavy metal. Gostaria de lembrá-los novamente que isso aconteceu durante a gravação do primeiro álbum. Depois de algumas tentativas, tive a minha primeira música híbrida de banda sonora/metal, que mais tarde se tornaria As Above So Below. Eu estava hesitante em lançar essas músicas sob o nome Saints 'N' Sinners, pois percebi que isso era muito diferente do primeiro álbum. No entanto, depois de ouvir Queen Of The Nile, Mehmet disse: "Eu tenho que cantar essa música". Depois de algumas conversas, decidimos que essas músicas se encaixariam perfeitamente num novo álbum dos Saints 'N' Sinners, não no meu álbum a solo. Então, esta é a história da evolução do som.

 

Um dos pontos de contacto é a presença da mascote, Virgil, na capa. Como surgiu essa mascote e o que representa para a banda?

Bem, ninguém a conhece sua história. No entanto, há rumores de que o seu nome vem da Divina Comédia. Virgil não é bom nem mau. É o tipo de personagem que assiste à batalha do bem e do mal de onde ele se senta e ri.

 

Segundo percebi, este álbum deveria ter sido lançado há dois anos. A pandemia foi a única causa para este atraso?

Sim, mantivemo-lo em stand by. Não queríamos lançar o álbum porque temos que tocar ao vivo para promover o novo material. Nós não poderíamos lançar o álbum de qualquer maneira em 2020 porque não poderíamos sair de casa. No final de 2020, quando começaram a chegar as notícias do cancelamento dos festivais de 2021, decidimos manter esse álbum em espera por mais um ano.

 

Mas as músicas já estavam prontas? Foram compostas pouco antes da pandemia ou tens algumas músicas mais antigas?

A maioria das músicas do álbum tem 10 anos. Alguns sofreram pequenas alterações, enquanto outras foram reformuladas. Mas em 2012 tínhamos 70% do álbum.

 

O PR diz que gravaram 4 covers surpresa. Quais são as músicas e onde podem os fãs encontrá-las?

Já lançamos duas delas: Mysterious dos Talisman e Tarot Woman dos Rainbow. Podes encontrá-las em todos os serviços de streaming de música. As outras duas dois são Needles In The Dark dos Pretty Maids e Sleep dos Savatage. Iremos colocá-las no YouTube nos próximos dias. Portanto, não se esqueçam de se inscrever no nosso canal.

 

Quanto ao processo de gravação - o álbum foi gravado em Istambul, Munique e Kiev? Como decorreram os trabalhos no meio de todas essas circunstâncias estranhas?

O nosso novo guitarrista é um velho amigo meu e que agora mora em Munique. Ele fez as suas próprias gravações no seu estúdio em Munique. O nosso amigo Max Morton, que misturou e masterizou o álbum, também nos acompanhou com backing vocals e teclados em algumas músicas. Esta é a parte de Kiev das gravações. Todo o resto foi gravado em Istambul.

 

Rise Of The Alchemist é um álbum conceptual. Podes explicar-nos quais são os principais tópicos da história?

Na verdade, não posso dizer que seja um álbum conceptual normal como Operation: Mindcrime. Tem um conceito solto mais como Seventh Son Of A Seventh Son. Não quero entrar em muitos detalhes, mas o tema, claro, é sobre alquimia e outros elementos que este tema traz à mente: tempo, vida, morte, bem, mal… Tentar transformar algo inútil em algo valioso e fracassar; mas, por outro lado, não desistir dessa tarefa impossível e repetir os erros cometidos centenas de vezes.

 

Para este álbum, contam com a ajuda de Max Morton e Meltem Yumulgan. Qual foi o papel deles no álbum e como essa cooperação se tornou possível?

Ambos são nossos velhos amigos. Max também misturou e masterizou o nosso álbum de estreia. Na verdade, quando estava a fazer demos para essas músicas, foi ele quem fez todos os vocais guia. Ele é uma pessoa extremamente talentosa. E tem uma bela voz. Fez alguns backing vocals e tocou algumas teclas no álbum Rise Of The Alchemist. Meltem também é um velho amigo nosso. Queríamos aquela vibe gospel nos refrões. Por isso convidamo-la para cantar alguns backing vocals. Podes ouvir claramente a sua voz em As Above So Below, Ivory Tower ou Rise Of The Alchemist. Ela cantou em todas as músicas que têm uma seção coral.

 

Estão prontos para subir a palco? O que têm planeado?

Sim! O nosso primeiro espetáculo oficialmente anunciado será na Roménia. Dividiremos o palco com Kiss, Whitesnake e Powerwolf. Será um grande regresso para nós.

 

Muito obrigado, Deniz, mais uma vez. Projetos e ambições para o futuro? Não teremos que esperar mais nove anos para um novo trabalho, pois não?

Não! De novo não. Já estamos a fazer demos para o 3º. Em termos de som, vamos continuar desde onde paramos neste álbum. Obrigado pela entrevista. Saudações aos nossos amigos em Portugal e no resto do mundo. Cuidem-se e saúde!


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