Entrevista: Scar For Life

 

Alexandre Santos é um dos mais criativos músicos nacionais. E desde os Redstains, com Bruno A., que o tem demonstrado. O seu projeto Scar For Life com Rob Mancini e outros músicos da cena internacional tem estado parado desde que em 2014 lançou World’s Entwined, mas o regresso não podia ser mais empolgante. Sociophobia mostra o guitarrista português acompanhado de velhos conhecidos e de elementos novos que injetam novo sangue. A propósito deste novo registo, fomos perceber o que tem andado a fazer Alexandre Santos nestes anos. E não só no trabalho de preparação de Sociophobia.

 

Olá, Alexandre e sejam bem-vindos de volta! O que se passou com os Scar For Life para este intervalo tão grande de tempo entre lançamentos?

Olá, Pedro, é sempre um prazer voltar a ‘conversar’ contigo! Bem, seria bom ter todo o meu tempo dedicado a SFL, mas na verdade aconteceram muitas coisas desde então... a minha vida profissional e pessoal ocupam bastante tempo, o meu segundo filho nasceu em 2018, e estive entretido com outras aventuras musicais. Também achei que, ao fim de 4 discos com SFL, seria o momento ideal para colocar a banda em standby e experimentar outras sonoridades com outros músicos. Umas das forças impulsionadoras foi o facto de ter tido o Vinny Appice (ex-baterista de Black Sabbath e Dio) como convidado no último disco de SFL numa música intitulada Thirteen Revolution. Ambos gostámos bastante do resultado, e optámos por voltar a trabalhar em novos temas para um novo projeto chamado STAGMA (que se encontra disponível em qualquer serviço de streaming). Depois do lançamento desse disco, meti-me noutro projeto instrumental intitulado ARCHITECTS OF RAIN com um amigo e músico Bruno A (Soundscapism, Vertigo Steps). Gravámos um EP e o objetivo seria de dar alguns concertos em Berlim só que, entretanto, apareceu algo que fez parar o mundo inteiro...

 

Já agora, os temas foram compostos especificamente para este álbum ou são ideias que já existiam anteriormente?

Algumas ideias já estavam alinhavadas, mas com o surgimento de novos músicos e um produtor, achámos melhor readaptar a sonoridade e explorar um som mais rock e menos pesado. Apesar deste disco ter sido criado durante a pandemia e nunca termos estado juntos, quis transmitir uma sensação de união e de espontaneidade ao ouvinte, daí trabalharmos em conjunto nos arranjos com um produtor dedicado, também ajudou na concretização da sonoridade pretendida.

 

Com Worlds Entwined surgiste com uma formação renovada. Para este Sociophobia, alguns ainda estão contigo, mas tens sangue novo, não é verdade?

Sim, o Rob continua nas vozes, eu nas guitarras e agora temos Marc Lynn no baixo, Tobbe Jonsson na bateria e Darrel Treece-Birch nas teclas.

 

Como se proporcionou essa entrada desses novos elementos e que impacto tiveram no novo material que agora apresentas?

Depois das demos gravadas, tinha chegado o momento de pensar no lineup e como não tínhamos baixista, Rob sugeriu Marc Lynn (da banda Gotthard). Enviei-lhe algumas faixas e ele gostou bastante e quis participar não só enquanto baixista, mas também como produtor, o que para mim foi um alívio porque desta vez não queria voltar a ser eu o produtor para que me pudesse focar a 100% na composição e na guitarra. Relativamente a Darrel Treece-Birch (da banda britânica TEN), tudo aconteceu por acaso. Inicialmente, eu tinha sido convidado pelo próprio a participar no disco a solo que ele está a preparar neste momento. Obviamente que aceitei, e inicialmente era para tocar em 2/3 temas, mas acabei por gravar muitos mais. Quando estas sessões terminaram, convidei-o a tocar numa música neste novo disco de SFL, mas Darrel disponibilizou--se para participar no álbum todo, o que me deu inspiração para adaptar os temas para teclas. A inclusão de teclas do princípio ao fim de um álbum todo era algo que já queria fazer há algum tempo e isso trouxe uma nova roupagem e cor a Sociophobia. Tobbe Jonsson foi o baterista escolhido para a gravação do álbum por se encaixar melhor neste estilo mais rock.

 

Sociophobia parece-nos algo diferente dos teus trabalhos anteriores, eventualmente muito mais melódico. Sentes o mesmo? Na tua opinião a que se deve essa evolução?

A vantagem de SFL é que cada disco soa sempre diferente porque um dos meus objetivos principais com esta banda é de explorar as várias vertentes do metal/rock sem nunca perder a minha personalidade enquanto compositor. Neste disco, a decisão de seguir um lado mais melódico foi sem dúvida consciente até porque já conheço melhor o Rob enquanto cantor e queria adaptar mais a minha composição ao estilo dele. O facto de ter o Marc enquanto produtor também ajudou a trabalhar nesse sentido e a simplificar certas partes que eram mais ‘progressivas’ ou a aligeirar o que era um pouco mais ‘pesado’. A escolha do baterista foi cirúrgica porque queríamos alguém com feeling e atitude, mas sem complicar demasiado certos padrões.

 

Já agora, porque Sociophobia? O que pretendias afirmar com este título? E a pandemia entra aqui com alguma coisa ou nem por isso?

Este disco nasceu a meio do lockdown. Rob enviou-me uma demo antiga de uma música (Walk Away) que já tinha sido gravada há uns anos, mas desta vez com vozes, e perguntou-me se não estaria interessado em utilizá-la como single durante este período. Fiquei um quanto perplexo pela ideia e pelo resultado e respondi-lhe com outra pergunta: “Porquê que não fazemos um disco novo?”. Por isso sim, o tema da pandemia tem aqui algum peso bem como outros assuntos que já tinham vindo a ser recorrentes: a bipolaridade da nossa sociedade devido ao surgimento das redes sociais, a liberdade de expressão e os nossos direitos são constantemente postos à prova, esta utopia de vivermos constantemente online mas haver uma dificuldade crescente em estarmos interligados emocionalmente, e a lista continua... daí o título do disco ser Sociophobia. Cada música fala de um tema específico, mas em que a interpretação pode ser subjetiva.

 

As primeiras críticas já começaram a chegar e têm sido fantásticas. Estavas à espera assim de uma receção tão entusiasta?

É sempre bom e gratificante ler críticas construtivas e quando são boas, melhor ainda! Passei tanto tempo a trabalhar no disco, que ainda não me consegui distanciar o suficiente e apreciar o trabalho de uma forma imparcial, e por isso, sou sempre apanhado de surpresa pelas críticas, sejam elas positivas ou negativas. Mas claro, o entusiasmo que tem havido dá-nos ânimo! Para mim, as pessoas que verdadeiramente apreciam o nosso trabalho é que contam e é para elas que estamos aqui!

 

Já há por aí vídeos a circular retirados deste álbum, nomeadamente Strike Down, Rise Again e Don’t Stand In My Way. Porque escolheste este em particular?

Acho que representam bem o conceito do disco. Strike Down é uma música que fala sobre luta para mantermos o que é nosso, Rise Again é uma música sobre esperança, em que a humanidade há-se renascer das cinzas depois de passarmos pelos pesadelos que temos vivido ultimamente, e Don’t Stand In My Way é um alerta sobre os problemas emocionais e psicológicos que tem afetado uma enorme parte da população, algo que pouco se tem feito para ajudar realmente quem necessita.

 

Onde e com quem gravaram? Como correram os trabalhos? Tudo como planeado?

Foi um desafio porque gravei com músicos que nunca tinha trabalhado anteriormente, nem sequer ensaiámos para a gravação deste disco. Passámos ainda algum tempo em videoconferências para discutir vários pontos antes de atual gravação, mas acho que no final tudo correu bem. Cada um gravou com os meios que tinha e fizemos o melhor que podíamos naquele momento. É claro que depois de ter um trabalho finalizado, acho sempre que se podia ter feito melhor aqui ou ali, mas tem de haver o momento em que damos o trabalho como concluído. No próximo disco, iremos compor juntos, numa sala de ensaio e ensaiar antes de entrar no estúdio!

 

Quando e como se proporcionou esta tua entrada na Pride & Joy Music?

Assinámos em fevereiro deste ano já com o disco concluído e foi por intermédio de uma pessoa que, ao ouvir o disco, sugeriu-me apresentar o trabalho à Pride & Joy Music que, felizmente gostou e decidiu começar a trabalhar connosco. Têm dado todo o suporte necessário para a concretização e lançamento de Sociophobia, estamos por isso, entusiasmados com o que pode advir desse resultado.

 

Tu e o Bruno A. saíram dos Redstains e seguiram trajetos diferentes. Têm conversado sobre as vossas opções tão diferentes? E uma reunião dos Redstains? Pode acontecer?

Ui, ao tempo que isso foi... Sim, seguimos trajetos diferentes, mas continuamos grandes amigos e tal como já mencionei, temos um projeto chamado Architects Of Rain e já lançámos um EP Ghost Notes e estamos precisamente neste momento a trabalhar num disco!  Quanto à reunião de Redstains acho improvável até porque estamos numa fase completamente diferente musicalmente e emocionalmente!

 

Já que falamos de outros projetos, qual é o ponto de situação dos Stagma?

O objetivo que tínhamos para Stagma era de construir uma banda em vez de ser apenas um ‘projeto’. Foi um grande desafio porque os músicos estavam espalhados nos quatro cantos do mundo. Ainda conseguimos gravar o disco, mas no fim tornou-se impossível por causa da distância e da disponibilidade de cada um.

 

Muito obrigado, Alexandre! As maiores felicidades! Queres acrescentar mais alguma coisa?

Aproveito para assinalar que o disco de SCAR FOR LIFE Sociophobia já saiu no dia 22 de julho em CD/Streaming via Pride & Joy Music e já estamos a aceitar encomendas em www.scarforlife.com... e Pedro, uma vez mais, muito obrigado pelo teu excelente empenho em promover música criada em terras lusas! 

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