Reviews: DR. STRANGELY STRANGE; JPCAVADAS; AL STEWART; MARY FAHL; ROME 56

 

Radio Sessions (DR. STRANGELY STRANGE)

(2022, Think Like A Key Music)

Os Dr. Strangely Strangers foram uma banda irlandesa de folk psicadélico que esteve ativa entre os anos de 1968 e 1971. Nesse período lançaram dois álbuns: Kip Of The Serenes (1969, Island, reeditado com bónus, em 2009, pela Hux) e Heavy Petting (1970, Vertigo, álbum que contou com Gary Moore na guitarra e também reeditado com bónus, em 2011, pela Hux). Estes títulos são, atualmente bastante procurados pelos colecionadores. Durante a sua existência, a banda gravou apenas duas radio sessions para a BBC, um Top Gear Slot e um In Concerto, ambos com John Peel. Infelizmente, as tapes da BBC foram apagadas, mas após uma intensa pesquisa pelos colecionadores europeus, foi possível à editora Think Like A Key Music reconstruir esses ficheiros. Assim surge este lançamento, Radio Sessions, que ainda inclui breves sessões para as rádios dinamarquesa e neerlandesa, um ensaio em Dublin e uma entrevista concedida pela banda em 28 de março de 1971. O rico booklet de 24 páginas que acompanha este lançamento inclui fotos nunca antes publicadas que vêm dos arquivos de Barrie Wentzell e que foram compiladas pelo biografo da banda, Adrian Whittaker. Apesar de algumas reuniões posteriores, os Dr. Strangely Strange nunca voltaram a ter uma existência constante, independentemente do lançamento dos álbuns Alternative Medicine: The Difficult Third Album (1997) e Halcyon Days (2007). [80%]



 

Dois Mil e Vinte e Dois (JPCAVADAS)

(2022, Independente)

O terceiro disco de João Paulo Cavadas, aka JPCavadas, traz algumas novidades de relevo. Intitulado Dois Mil e Vinte e Dois, as oito canções que dele fazem parte começaram a ser criadas em 2020, na altura com Menina, e prolongaram-se até ao presente ano, primeiramente com o single Beija e, logo após, com o lançamento deste álbum. Quanto às referidas surpresas, a mais notória é a inclusão de elementos eletrónicos e de programação que assentam muito bem na base da sua guitarra acústica. Mas também há algum enfase nesses mesmos apontamentos eletrónicos em alguns temas, que nos remetem para o pop rock de uns Delfins, por exemplo. Isso acontece, precisamente nos dois singles lançados, o que até pode dar uma ideia errada do álbum a quem se deixou guiar por eles. Para além desses momentos, volta a registar-se uma enorme capacidade de transportar emoção nas cordas de uma guitarra acústica que assume níveis de indescritível beleza em Ilha, com letra em italiano, cortesia de Giacomo Fabrizio Lombardo. [77%]

 


The Admiralty Lights (AL STEWART)

(2022, Snapper Music)

Com uma carreira de 60 anos, o escocês Al Stewart é um dos mais bem-sucedidos músicos de folk rock das ilhas britânicas. E The Admiralty Lights é a definitiva coleção que mostra como o miúdo de Glasgow conquistou o mundo. Esta deluxe box é composta por 50 (!!) discos onde se resume a sua carreira desde os humildes princípios em 1964 até às suas mais recentes gravações em 2009, passando pelo estrelato atingido nos anos 70. Assim se revisita a sua carreira, sendo que esta coleção é composta pelos seus 21 álbuns de estúdio que foram remasterizados a partir dos originais, completando-se com 18 CDs com material gravado ao vivo entre 1970 e 2009 e nunca lançado, 3 CDs com raras sessões na BBC, entre 1965 e 1972 e, finalmente, 8 CDs com demos, outtakes e raridades. No total são mais de 300 temas que nunca foram ouvidos. Esta coleção vem, ainda, acompanhada de um livro com 160 páginas de notas, uma entrevista alargada com o autor, fotografias raras e memorabilia; um livro de colecionador com 24 páginas com detalhes de todas as gravações raras aqui incluídas; dois posters (Early Years e Last Days Of The Century) e uma prensagem individual assinada pelo ilustrador Colin Elgie do álbum Year Of The Cat (original de 1976 com produção de Alan Parsons). Uma obra fundamental, mas limitada a 2.000 exemplares, para os fãs, mas também para quem quer conhecer e aprofundar os seus conhecimentos sobre a história do rock no Reino Unido. [---]



 

Can’t Get It Of My Head (MARY FAHL)

(2022, Rimar Records)

Como forma de encontrar algum conforto em tempos de pandemia e confinamentos, a cantora e compositora Mary Fahl dedicou-se a criar alguns novos arranjos para temas lendários que não lhe saiam da cabeça. Assim, partiu para reinterpretação de temas dos nomes que foram as suas maiores influências: ELO, Rolling Stones, Moody Blues, The Mamas And The Papas, Neil Young, Nick Drake, Pink Floyd, Judy Collins, George Harrison e Richard & Linda Thompson. Mary Fahl é uma cantora muito expressiva e emocional e isso fica bem patente nesta escolha de canções onde surge acompanhada por belos acompanhamentos de guitarra acústica com um ensemble de cordas a criar o cenário orquestral perfeito. Os pontos altos são as versões dos ELO, o tema que dá título ao álbum, e dos Pink Floyd (Comfortably Numb), que prometem ficar na cabeça mesmo sendo versões. No entanto, um álbum desta natureza, por muito bem executado que seja, terá apenas interesse para os seus indefetíveis fãs. [75%]

 


Days Of Carefree Living (ROME 56)

(2022, Think Like A Key Music)

Arthur Lamonica é um compositor e cantor nova iorquino que com a sua esposa Kathy Lamonica constituem o projeto Rome 56. O seu mais recente disco é Days Of Carefree Living, que foi totalmente gravado em casa, em virtude dos confinamentos e conta com Edgar Goss (bateria em Stranger On A Train e In This Place), Loek Nooter (guitarra solo em In This Place), Derek Cheever (ukulele em It’s Raining In Paris), Roger Houdaille (guitarras adicionai e percussão no tema-título, Dirty Money, Platinum Girl e Stranger On A Train) e Greg Byers (cordas em A Happy Man). Days Of Carefree Living é composto por 12 temas que assentam na pop rock inspirada nos anos 60 e 70, com alguns fraseados típicos dos The Beatles e onde a guitarra acústica é a principal referência. Aprofundando um pouco mais, sobressaem outros cenários, como o blues de As I Stroll Through The Night, a influência medieval de A Happy Man, os jogos vocais em On Portobello Road, o retro rock de In This Place e, a fechar em beleza, os tons parisienses na bela faixa que é It’s Raining In Paris. [73%]

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