Reviews; METAMITO; MANUEL FÚRIA; EX-NORWEGIAN; MARK DUDA, FROM ATOMIC

 


Metamito (METAMITO)

(2023, Bait Records)

Às vezes parece que nem sequer cá estou” afirma Metamito em Penso Demais, um dos temas do seu álbum homónimo. E a verdade é que, infelizmente, em muitos momentos dá mesmo essa sensação. Percebe-se a ideia de cruzar o orgânico e tradicional assente na guitarra acústica e na guitarra portuguesa, olhando pontualmente para uma estruturação folk (acontece em Idade dos Porquês) com o futurismo e tecnologia do uso de beats e programações eletrónicas. Às vezes até resulta bastante bem, como em Oração Sem Sujeito, mas o mais frequente são temas demasiadamente comedidos, melodicamente pouco interessantes e ritmicamente ainda menos apelativos. Metamito procura apoiar-se nas boas ideias anteriormente referidas, mas soa demasiadamente plastificado e forçado. [63%]



 

Os Perdedores (MANUEL FÚRIA)

(2022, FlorCaveira)

Semelhanças de nome do artista com Samuel Úria à parte, a música de Os Perdedores vai bem lá atrás aos anos dourados do eletro pop dançável nacional, onde os Heróis do Mar e, acima de tudo, António Variações faziam furor. Também já passou munto tempo desde que os Náufragos deste mesmo Manuel Fúria lançavam Viva Fúria. Talvez por isso ou não, Os Perdedores torna-se o disco mais pessoal de Fúria. As palavras são como lanças que atingem diretamente os cernes das questões. E sempre com ritmo. E sempre com a questão da multiculturalidade presente, denunciando massacres, lembrando heróis. Instrumentalmente, a questão da eletrónica está muito presente. Diríamos mesmo, demasiadamente presente. Mas foi com essa capa que Manuel Fúria quis vestir os seus textos e por vezes assenta bem. Mas, um bocadinho mais de colorido, também não destoaria. [70%]



 

On The Sidelines The Albums 2015-2017 (EX NORWEGIAN)

(2022, Think Like A Key Music)

Os Ex Norwegian, banda de retro inspired indie rock, nasceram em 2008 e terminariam pouco depois, em 2011. Não demorou muito até que Roger Houdaille e Michelle Grand reunissem a banda de novo. Foi em 2012 com o lançamento de House Music. Até 2015, altura em que lançaram Pure Gold muitas coisas aconteceram no seio dos Ex Norwegian, de tal forma que Pure Gold sendo o sexto álbum, revela-se como o primeiro trabalho efetivo da banda, desde Sketch, de 2010. Este Pure Gold acabou por ser um misto de originais com versões de material obscuro e, muitas vezes, radicalmente reimaginados. Cerca de um ano depois, surgia Glazer/Hazerr, o sétimo álbum da banda, embora cada vez mais um duo formado por Roger e Michelle. Mas é um álbum diferente, que foi descrito como uma viagem agradável e toasty, cheia de delícias cativantes de pepitas de rock/pop. Todavia, o aspeto mais saliente é um afastamento em relação à sonoridade The Beatles, apresentando temas mais longos e, naturalmente, com mais consistência de um rock clássico ainda de influências indie e garage e com base pop. Apesar da boa receção da crítica, o mesmo não se notou nas audiências e vendas e os Ex Norwegian começaram a ter cada vez menos aparições. E, então, mais um ano passado e outro álbum surge, com um título, de novo, estranho: Tekstet (Subtitled). Este álbum não se afastava muito do psyche garage de Glazer/Hazerr, mas evoluía numa direção mais limpa de um estilo pop/rock. E este era um trabalho cada vez mais de Roger Houdaille a solo, apenas com Michelle em esporádicas aparições. Agora, pela primeira vez a editora Think Like A Key Music apresenta esses três álbuns em CD, com versões remasterizadas e remisturadas e com a adição de alguns temas bónus, alguns dos quais oriundos do projeto paralelo de Houdaille, Plastic Macca. [71%]



 

Bodega Flowers (MARK DUDA)

(2022, Train Faces)

Muitas das referências que Mark Duda tinha apresentado no seu EP de estreia, Month Of Sundays, voltam a estar presentes neste seu primeiro longa-duração: o rock ‘n’ roll com alguma pontual tendência sulista (apesar de estarmos a falar de um artista citadino, de Nova Iorque), o frequente recurso a bases eletroacústicas e a inclusão de alguma instrumentação diversificada, que neste Bodega Flowers se centra no saxofone e no violoncelo. As influências para esta estreia centram-se em nomes como Buddy Holly, Lou Reed ou The Rolling Stones, trazendo um rock assente nas guitarras, com temas curtos, diretos e não exageradamente trabalhados nem polidos. Uma sonoridade preparada para ser exultada ao vivo. Todavia, depois da bomba que tinha sido a referida estreia em 2017, Bodega Flowers sabe um pouco a desilusão. Tem algumas boas malhas rockeiras, é certo, mas Mark Duda não se consegue libertar do seu registo, sendo que poucas surpresas rítmicas ou melódicas aqui podem ser encontradas. Ainda assim, são 40 minutos com boas doses de rock. [76%]



 

Love Fate Now & Forever (FROM ATOMIC)

(2022, Lux Records)

Deliverance, a estreia já ficou para trás. A aposta agora é em Love Fate Now & Forever, eventualmente um conjunto de palavras que melhor explana aquilo que o trio de Coimbra apresenta no seu novo registo. Sonoridade muito densa, guitarras ondulantes e uma voz quente que navega entre uma batida com algo de maquinal pela sua coerência rítmica. Tudo reunido num conjunto de canções negras, em constante evolução onde os reverbs e os feedbacks da guitarra nos levam para os anos 80, nomeadamente para uma pop-rock vanguardista dos The Cure ou The Jesus And Mary Chain. As palavras de Sofia Leonor são, efetivamente, aveludadas, mas encaixam na perfeição na distorção, por vezes abrasiva da guitarra de Alberto Ferraz. Love Fate Now & Forever mostra um processo de maturação, notando-se agora uns From Atomic mais orientados na criação de cenários ambientalmente enriquecidos e até sofisticados e não tanto no desenho de um rock desenfreado. [80%]

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