Reviews: DEVIN TOWNSEND; BOOBY TRAP; MY ENCHANTMENT; VIRUS INHUMANITY; FONTE

 


Lightwork (DEVIN TOWNSEND)

(2022, InsideOut Music)

Com uma carreira de cerca de 30 anos, recheada de grandes sucessos e, acima de tudo, marcada pela enorme criatividade artística, Devin Townsend viu-se de repente, e como todos nós, privados de muitas coisas com a pandemia. Assim aproveitou para escrever os seus sentimentos e com isso criar o sucessor de Empath. O título atribuído foi Lightwork, mas o nome engana, porque não é, nem de perto nem de longe o trabalho mais iluminado da sua carreira. De Devin Townsend sabemos que é um camaleão, que devemos sempre esperar o inesperado. E isso acontece mais uma vez, embora a sua fuga aconteça para dois campos distintos. Do lado da face mais iluminada, este é um disco mais apostado em melodias sing along (algumas até bem radio friendly, soando a Radiohead e afins) e atmosferas celestiais onde os coros assumem especial relevo. Do lado menos interessante, Lightwork veste-se de demasiada tecnologia, eletrónica e até ambientes techno que pouco diferem entre si e pouco evoluem, tornando-se frequentemente banais e desinteressantes. [76%]



 

Pussy Magnet (BOOBY TRAP)

(2022, Firecum Records)

Os Booby Trap são uma banda portuguesa de thrash/crossover nascida em 1993, em Aveiro. Ao fim destes anos, mesmo considerando uma interrupção relativamente longa no seu percurso, o coletivo apresenta um impressionante registo discográfico entre álbuns de estúdio, EP, vinis, singles e splits. O último projeto foi o lançamento, a 17 de junho do álbum The Hellzheimers, composto por 11 versões com as mais diversas origens, estilisticamente falando. Pussy Magnet é o curioso EP que lhe sucede, retirado desse álbum e lançado a 28 de outubro onde se juntam os 4 temas desse The Hellzheimers caraterizados por serem de base glam rockRebel Yell, Nice Boys, Mother e (Wanted) Dead Or Alive. A curiosidade ainda aumenta mais com a análise da capa e a foto pouco habitual de uns Bobby Trap verdadeiramente glam. Pussy Magnet é uma brincadeira interessante focando a banda aveirense apenas num estilo. Naturalmente, o estilo que lhes está mais afastado. [---]



 

Malebolge (MY ENCHANTMENT)

(2022, Ethereal Sound Works)

Com uma carreira que se estende por mais de 20 anos, a banda do Barreiro My Enchantment já conta com dois longa-duração entre outros lançamentos menores. Malebolge é o novo registo – um EP que contém seis faixas, incluindo uma curta intro, e que se apresenta como sendo a segunda parte da sua trilogia conceptual a respeito da Divina Comédia de Dante. A maior novidade surge no campo da renovação do line up, marcando o início de uma nova era. E que começa da melhor forma com o seu black metal sinfónico a lembrar Dimmu Borgir a servir de base a uma bateria capaz de criar enormes dinâmicas, a guitarras a conjugar na perfeição e a constantes mudanças de tempo e ritmo. E mesmo considerando que as orquestrações estão um pouco mais comedidas, ainda continuam a ter um papel fundamental no equilíbrio entre a componente melódica e a vertente mais brutal, como fica demonstrado em todo o trabalho, mas de forma mais evidente na espetacular Aeternae Insidae ou no soberbo instrumental final Redemptio. Um pouco menos de meia hora de enorme qualidade que pede um sucessor rapidamente! [88%]



 

Infectious (VIRUS INHUMANITY)

(2021, Independente)

Vinte e sete minutos de groove/death metal é o que nos apresentam os Virus Inhumanity neste EP de estreia com cinco temas, intitulado Infectious. O coletivo é belga formou-se apenas em 2019, sendo que este ano já lançou Re-Infected, que mais não é que os temas do EP de estreia apresentados em remixes com uma abordagem industrial. O trabalho que aqui abordamos é a versão primeira que mostra uma banda com capacidade para dosear peso e técnica, de tal forma que em muitos momentos, a sonoridade até parece nem se enquadrar em nenhum dos estilos da banda. Porque a verdade é que é a componente vocal quem mais influência essa direção, sendo que a existência de blast beats está confinada a alguns espaços musicais e a habitual dosagem pesadona e grave do groove também não é fortemente apresentada. Pelo contrário, o trabalho de guitarra mostra-se evoluído, consistente e minucioso. Desta forma, Infectious mostra cinco temas com clara capacidade para infetar. [76%]



 

Já Dizia o Outro (FONTE)

(2022, Raging Planet)

Inovar a cena underground e carregar o espírito Linda-a-Velha hardcore, foi o objetivo que norteou a criação, em 2016, dos Fonte. Se o segundo aspeto desconhecemos, relativamente ao primeiro, é vem evidente que a banda, com Já Dizia o Outro, consegue dar um passo em frente. Musicalmente cruza o thrash metal com o hardcore o que desde logo confere duas visões que se conjugam bem: um instrumental bastante evoluído, cheio de riffs, harmonias, um baixo impressionante e groove; e uma componente vocal tresloucada e agressiva (na nossa opinião, demasiado até, se considerarmos a globalidade das estruturas das canções). Aliás, todos os vocais foram posteriormente regravados para este disco por Thiago Castor, em São Paulo. Já Dizia o Outro poderá agradar a fãs de Pantera, Lamb Of God ou mesmo Ratos de Porão (se calhar, devido ao sotaque!), mas Fonte consegue injetar de forma bem evidente a sua dose de personalidade e identidade. [78%]

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