Reviews: THE TANGENT; DOGS BITE BACK; VICTOR TORPEDO; APE SHIFTER; ZURRAPA

 



Pyramids, Stars & Other Stories: The Tangent Live Recordings 2004-2017 (THE TANGENT)

(2023, InsideOut Music)

Pyramids, Stars And Other Stories: The Tangent Live Recordings 2004-2017 é o novo álbum dos The Tangent de Andy Tillison, apresentando uma compilação ao vivo que reúne três concertos da banda britânica – em 2004, em 2011 e em 2017. Todos estes concertos tiveram alguma forma de lançamento anterior como bootlegs não oficiais, pelo que agora são apresentados pela primeira vez em formato oficial e com o selo da Insideout Music. Incluído na íntegra está o concerto Pyramids And Stars, de 2004 na Alemanha, onde se apresenta o que ficou conhecido como line-up Roine Stolt e onde os The Tangent tocaram a maior parte do seu álbum de estreia, Music That Died Alone, juntamente com (então) novo material que viria a ser incluído no segundo álbum The World That We Drive Through. Adicionalmente, há faixas da era COMM (gravadas sem o conhecimento dos músicos) num espetáculo no Reino Unido e faixas gravadas nos EUA em 2017 pela atual formação da banda, temas que apareceram originalmente em Southend On Sea e Hotel Cantaffordit, lançamentos dos fãs. Este é um álbum ao vivo real e adequado. Sincero, espontâneo, com erros e momentos pouco equilibrados em termos de captação. Mas foi isso que verdadeiramente aconteceu em palco. Em três palcos onde nunca houve intenção de gravar um álbum ao vivo. [90%]



 

Back? Forward! (DOGS BITE BACK)

(2021, Addicted Label)

O trio russo Dogs Bite Back reúne alguns dos nomes mais importantes da música experimental e de improvisação de Moscovo: Dmitry Lapshin, no baixo; Ilia Belorukov, nos sintetizadores e Konstantin Samolovov, na bateria. Este coletivo acaba por ser uma reencarnação do duo acústico onde os dois primeiros em 2017. Back? Forward! é o segundo registo da banda e apresenta seis temas onde a improvisação livre e a experimentação são o prato dominante. É um trabalho que flui por tempestades enérgicas e ruidosas de louca espontaneidade. Sintetizadores, feedbacks e efeitos estranhos sempre em rota de colisão e a passagem por um caminho musical que nunca foi trilhado fazem parte das caraterísticas do trio e foram, de forma evidente, projetadas neste álbum. [76%]



 

Junk DNA + Strip Jazz Greats (VICTOR TORPEDO)

(2023, Lux Records)

Victor Torpedo, nome incontornável do rock nacional (Tédio Boys, Tiguana Bibles, The Parkinsons), embarcou num projeto assaz audacioso e arriscado. Durante o ano de 2013 irá lançar um álbum por mês. Ou seja, 12 álbuns num ano, com uma inusitada média de… 15 faixas por álbum! Se para outro título isto não servir, certamente, irá inscrever o seu nome no livro dos records como o artista que mais álbuns lançou num ano apenas. Mas, isto de fazer música não é como fabricar parafusos. Na música não há (ou pelo menos não deveria haver) produção em série. É certo que há artistas que optam por essa via e, sinceramente, não estávamos a ver Torpedo seguir o mesmo caminho. Mas a pandemia parou tudo e grande maioria destes temas que estão em Junk DNA + Strip Jazz Greats, o primeiro dessa extensa lista de lançamentos, bem como os que se lhe seguirão, foram compostos de 2019 em diante. Para já, estes primeiros 17 têm pouco interesse a não ser para os indefetíveis do músico conimbricense. Salienta-se a sonoridade crua e orgânica, que vai do indie ao pós-punk com algum recheio de eletrónica, alguns instrumentais guardados para a parte final do disco e dois temas (Jasmine e Cinderella) que acabam por dar sentido ao subtítulo, pela sua abordagem de free-jazz. Destaque ainda para a versão dance mix de So Dead (original presente em Raw, de 2015) e Candlelight. Muito pouco. Junk DNA + Strip Jazz Greats mostra-se um álbum confuso, desinspirado e bem longe de algumas das suas criações com os temas a sucederem-se sem nada que verdadeiramente empolgue. Veremos o que se seguirá. [60%]



 

Monkey Business (APE SHIFTER)

(2023, Maximum Booking)

Desde a sua criação em novembro de 2015, os Ape Shifter já lançaram dois álbuns e tiveram a oportunidade de fazer quatro tournées pela Europa. E agora vem a caminho o seu terceiro álbum, Monkey Business, mantendo a estabilidade do trio formado por Jeff Aug (guitarras), Florian Walter (baixo) e Kurty Münch (bateria). Mais um conjunto de doze temas rock instrumental, apresentando desde riffs dos anos 70 tocados com a ferocidade do punk rock até golpes de metal, passando pela inclusão de elementos de stoner e post-rock. A intensidade e o groove colocados em cada nota e a coesão e solidez dos executantes e das canções são evidentes. O trabalho de guitarra também é interessante, pela sua forma barulhenta e poderosa. Estilisticamente, Jeff Aug pode ser comparado a Joe Satriani ou Steve Vai, mas mostrando-se sempre mais contundente e sujo e menos artístico. No entanto, todos estes argumentos técnicos raramente se refletem em temas canções apelativas, que fiquem na memória e que peçam mais audições. [76%]  



 

O Triunfo dos Porcos (ZURRAPA)

(2022, Independente)

O punk rock sempre se caraterizou pela rebeldia, pela contestação, pela rebelião. Em Portugal muitos o fazem, mas poucos conseguem ser tão politicamente incorretos quanto os Zurrapa. Ainda por cima, num país em que todos os dias surgem motivos para serem devidamente tratados. O Triunfo dos Porcos é, precisamente, essa representação de um país podre, escravos dos interesses e da promiscuidade entre política, finança e igreja. E aos Zurrapa não escapa ninguém. Diretos, provocadores, desinibidos, escandalosamente puros. Musicalmente é que as coisas estão menos inspiradas que em (Des)Governo no País das Maravilhas. As onze faixas incluem uma intro, um interlúdio (John Wayne Gacy), uma desconstrução de Dia de Folga de Ana Moura e uma outra versão (que não se percebe muito bem) do Hino do Clube União Micaelense. Espetacular a sua abordagem mais clássica em Estou-me a Cagar (Para Vocês), bem trabalhada (aquela Aleluia a abrir e a oração no meio são ideias geniais) em Elas Que te Perdoem e bem-apanhado o discurso de Joe Berardo numa Comilões de Merda, um dos temas com mais linhas cativantes. Para além disso, há muita entrega, muita atitude, muita vontade de partir a loiça toda, mas menos capacidade de criar hinos punk que perdurem. [72%]

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