Entrevista: Living Tales

 

Ultrapassada a fase mais negra da pandemia, com uma nova editora e nova vocalista, os Living Tales partiram para a composição de um novo álbum. E, desta forma, a banda portuense dá um passo em frente em todos os sentidos, assinando um Persephone de grande qualidade musical e conceptual. Luís Oliveira, guitarrista da banda, esclarece-nos tudo.

 

Olá, Luís, tudo bem? Antes de mais, parabéns pelo vosso excelente novo álbum. Era esta obra que tinham em mente criar para o sempre importante terceiro álbum?

Olá, antes de mais, obrigado Via Nocturna pela oportunidade de nos dar a conhecer um pouco mais… Penso que como qualquer obra, começa com uma ideia que ao longo da execução vai tomando forma e moldando-se até o resultado final… pelo que em traços gerais, sim, o resultado está muito perto daquilo que idealizamos inicialmente, que era um álbum rico em ritmo e melodia, e que as diferentes facetas da banda se vissem refletido no resultado final.

 

Dois anos depois de Mirror, os Living Tales regressam com o seu terceiro e, eventualmente, mais ambicioso álbum. Como foi a vossa preparação de Persephone?

Felizmente foi tranquila, isto é, o processo não foi de todo apressado, foi fluido a nível criativo e consistente, muito graças ao período de pandemia, que apesar de ser um período difícil em muitos aspetos, neste não foi, permitiu que a banda tivesse tempo, que é a chave para este álbum e não fazer música ao kilo. Portanto graças a esse período conseguimos compor com calma, rever, experimentar antes de decidir, o único se não, foi apenas não ter tido possibilidade de tocarmos tudo juntos antes de ir para estúdio de forma que pudéssemos testar um pouco mais a orgânica das músicas, foi feito a distância, mas não menos válido por isso.

 

Mirror tinha sido lançado uns dias antes da pandemia nos atingir e tudo fechar. Como viveram esses tempos que se seguiram?

Penso que como quase todas as bandas e artistas desta e de outras áreas, vivemos esse período com desapontamento e frustração, quando lanças uma obra queres apresenta-la, queres ver como ela chega as pessoas, como é recebida, pois tens expetativas. Contudo ao não ser possível e ao percebermos que era algo que iria durar muito tempo, a única coisa que nos restava fazer era promover um pouco nas redes sociais, como fizemos, mas sabíamos que isso não era suficiente, mas tentamos o melhor que se conseguiu, com os recursos que tínhamos.

 

E, de alguma forma, essa paragem foi a responsável pelo surgimento e desenvolvimento de Persephone?

Claro que sim, ao percebermos que era um período que ia durar muito tempo desviamos todas as nossas energias para compor e estar preparados com algo novo quando tudo voltasse ao normal e de certa forma reinventar-nos um bocado para tentar fazer algo diferente, e tentar algo mais arrojado a nível de composição, sem dúvida a época serviu o Persephone a todos os níveis.

 

O que se nota é uma mudança na posição de vocalista. O que se passou? Desde quando está a Ana Isola na banda? E já teve oportunidade de cooperar na criação destes novos temas?

Foi uma situação muito normal, a Silvia na altura teve de tomar decisões a nível pessoal que impactavam o seu futuro na banda, algo que compreendemos perfeitamente na altura e foi uma mudança tranquila por assim dizer, inclusive a Ana foi sugerida pela Silvia quando ainda na banda como a substituta dela, assim sendo falamos com a Ana e fizemos a audição, e que não foi preciso muito para decidir sem mais procura, pois, a Ana tinha claramente todas as qualidades que procurávamos. Desta forma a Ana entra na banda e efetivamente assume o papel, não só apenas para dar a voz, mas também para escrever as letras de todas as músicas, pelo que teve uma ampla e ativa participação na composição.

 

Por outro lado, Paulo Oliveira que foi membro da banda até bem recentemente aparece agora apenas como convidado. Porquê?

O Paulo Oliveira apesar de não fazer parte da banda, já há alguns anos, claramente sempre foi muito próximo tanto pela amizade, como pela música e as memorias também já vividas como membro fundador, mas infelizmente ainda não houve oportunidade de estreitar essa colaboração ou até quem sabe num futuro tornar-se um regresso permanente, o tempo dirá.

 

Já agora, Iris Gonçalves e Tiago Quelhas são outros convidados. Quando sentiste que a sua prestação poderia engrandecer o álbum e como se proporcionou a sua entrada?

A participação da Iris foi algo que já estava planeado desde o início, quando se começou a delinear o álbum e o tema Odissey, que é onde ela participa. Já tinha previsto um trecho calmo, emocional e profundo, e dentro da nossa política de experimentar coisas novas, achamos que um violoncelo verdadeiro, com toque orgânico e de madeira, naquela parte da música iria claramente enaltecer o sentimento que se pretendia na melodia, criando o ambiente necessário para a parte que vinha a seguir. O Tiago efetivamente foi algo espontâneo, uma vez que Living Tales partilham a mesma sala de Lyzzard e Jupiter, era fácil a gente encontrar-se, e no dia em que estávamos a fazer umas experiências a finalizar a voz da Grit (música onde participa o Tiago) ele estava pela sala e tivemos a ideia de o chamar para cantar os refrões junto com a Ana, e tentar acrescentar mais um timbre que desse um toque subtil e orgânico ao refrão da música. Para nós foi ótimo o que ele fez e resultado final ficou na música…

 

Os singles escolhidos para ilustrar este álbum foram Immortal e Reign. Porquê? Acham que são os mais representativos da sonoridade do álbum?

Bem, começo pela Reign, digamos que esta escolha foi fácil para nos, a própria música soava muito catchy ao ouvido, além de que era forte e de alguma forma também representava a parte mais sinfónica que verifica neste algum, abrindo claramente o mote para algo diferente do habitual. A Immortal, consideramos que também é bastante catchy, não tanto como a Reign, mas o suficiente e encerra nela, na nossa perspetiva, outros elementos musicais que não estão tão presentes na Reign, aumentando o espectro e perceção daquilo que se quer abranger ao longo do álbum que é a parte mais progressiva da banda. Além de que tanto uma como outro foram as únicas músicas que ainda tiveram algum tipo de composição presencial entre mim e o Ricardo (baterista). De certa forma era um “tem de ser” e tanto a nível de história do conceito também fazia sentido no seguimento da Reign ser este o segundo single.

 

Qual é a temática lírica abordada nas vossas canções?

O álbum é conceitual, sendo que a ideia lírica veio muito do tempo que se viveu na pandemia, as sensações e sentimentos que a mesma causou, tudo aquilo que de negativo se fez sentir nas pessoas em todo o mundo. Sendo que foi usada a mitologia grega para personificar esses sentimentos e criar uma narrativa que embora fictícia ao mesmo tempo parecesse familiar, tanto a nível de enquadramento e contexto social como a nível emocional e simbólico. A Perséfone e a sua mitologia proporcionaram o conteúdo necessário para o desenvolvimento e enquadramento das letras.

 

Esta é a estreia para a ESW, certo? Como se proporcionou essa ligação?

A ESW surgiu por intermedio do Bruno Silva (Hanuman Studio /Heavenwood), que na altura estava connosco a ajudar-nos na produção do Persephone assim como na procura de Editora. Felizmente a ESW gostou, e estamos muito gratos por ter apostado em nós, o que foi muito importante e acima de tudo gratificante, sendo ainda a ESW provavelmente uma das editoras mais antigas do país, penso que não podíamos ter tido melhor entrada nesse campo.

 

Quanto a palco, o que têm agendado para este novo ano?

Neste momento temos algumas coisas agendadas e outras em negociação, o que se encontra fechado temos:

18 de março – Casa do Artista Amador (Louro) – Living Tales / Xeque-Mate

31 de março – Desperados (Trofa) – Living Tales + 1

22 de abril – DRAC (Figueira da Foz) – Allamedah + Living Tales + Ionized

6 de maio – Post Scriptum (Alvarelhos) – Living Tales

29 de julho – Transylvania Pub (Vigo) – Living Tales + Doomnight

 

Obrigado, Luís! Queres acrescentar mais alguma coisa?

Obrigado Via Nocturna mais uma vez, pela oportunidade, a todos os leitores também. Consumam a nossa música, divirtam-se com ela, desfrutem do que ela tiver para vos oferecer e venham fazer a festa nos concertos connosco… rock on… 

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