Reviews: THE GATEKEEPERS; IWKC; DISEN GAGE; FERNANDO CUNHA; VICTOR TORPEDO

 


The Gatekeepers (THE GATEKEEPERS)

(2022, Think Like A Key Music)

The Gatekeepers é um projeto musical do compositor, escritor e realizador Alex Wroten, de Los Angeles. Com mais de vinte anos de experiência na indústria, Wroten entra no mundo da música progressiva com este álbum conceptual que explora as lutas de um músico a tentar criar o seu nome. Wroten reúne um grupo improvável de músicos da comunidade progressiva, incluindo membros da cena de Canterbury, R.I.O., jazz-rock, cantautores e compositores. Com influências que vão de Kurt Weill e Bertolt Brecht a Jesus Christ Superstar e Kevin Gilbert, The Gatekeepers cria um contraste musical único com seu espírito DIY lo-fi. O álbum oscila entre hipnótico e turbulento, com solos compactos em instrumentos como moog, flauta, saxofone e violino, e o uso de mellotron, sintetizadores e um versátil trabalho de guitarra. A mistura eclética é uma reminiscência de clássicos progressivos como National Health, Genesis e Zappa, mantendo, ao longo de todo o disco uma toada de teatralidade que o diferencia. [74%]



 

Hladikarna (IWKC)

(2017, Addicted Label)

Nikita Samarin (bateria), Andrew Silin (teclados), Artyom Litvakovski (baixo, violoncelo, noises e samples) e Nick Samarian (guitarras, teclados e vocais), é o quarteto base deste coletivo moscovita conhecido por IWKC, ou seja I Will Kill Chita. Mas, a ele juntam-se uma panóplia de outros músicos que inserem o seu talento nas suas composições. Hladikarna foi o álbum que a banda lançou há seis anos (depois disso já há mais seis lançamentos, entre álbuns, EPs e singles). Um álbum de rock progressivo diferente das linhas tradicionais, eventualmente mais dentro do post-rock, do sludge e do stoner que propriamente do prog e que surge fortalecido por diferentes desempenhos vocais (limpo, extremo, german, coral). O uso do violoncelo, a inclusão de sons estranhos e de percussões, adicionados a riffs cheios de fuzz e de feedback acabam por ser elementos distintivos da sonoridade dos IWKC. Uma sonoridade onde ainda cabem elementos de orientalidade, exotismo e psicadelismo. [71%]



 

The Big Adventure (DISEN GAGE)

(2019, Addicted Label

The Big Adventure, o mais recente trabalho dos russos Disen Gage, já foi lançado em 2019, mas só agora nos chegou às mãos. E, ainda bem que chegou, mesmo tarde, porque The Big Adventure é um álbum impressionante. O quarteto, acompanhado de diversos convidados, pratica um prog rock instrumental, destemido e aventureiro. E dizemos isso, porque eles criam a sua própria abordagem ao género, não indo em modas nem seguindo tendências. Fazem o seu próprio caminho. E isso fica logo bem patente em Adventures com a inclusão de um acordeão que transmite um feeling parisiense. A partir daí o trajeto musical a seguir é definido pelos Disen Gage. Sem olhar para trás, sem olhar para outros nomes, sem receios de arriscar, de introduzir elementos novos. Este álbum que, na altura, celebrava o vigésimo aniversário da banda, carrega um forte dose de musicalidade o que, até certo ponto, contraria o seu passado de aumento da tendência experimental. Um experimentalismo que não está de todo arredado (Chaos Point é o melhor exemplo), mas que se mostra mais comedido naquele que se pode considerar como o mais memorável álbum da sua carreira. [92%]



 

A Linha do Tempo - Ao Vivo em Lisboa (FERNANDO CUNHA)

(2023, Uguru)

Esta linha do tempo marca 25 anos. 25 anos de uma das mais míticas figuras do pop rock luso. Fernando Cunha! Com os Delfins, com os Resistência, com os Ar de Rock, ou mesmo em nome individual. Mas, A Linha do Tempo é também o título do álbum que o vocalista e guitarrista gravou ao vivo, no Teatro Maria Matos, em Lisboa, a 13 de abril de 2022. Uma viagem histórica por temas que se tornaram emblemáticos da música nacional. Temas compostos nos diversos coletivos ou mesmo em solitário, como acontece com Dizem ou com o espetacular Final Feliz. Em palco estiveram uma série de convidados que se juntaram a Fernando Cunha nesta noite de recordações – João Campos, Paulo Costa, Maria León (com quem, ao longo dos anos, compartilhou alguns dos momentos criativos que aqui foram apresentados), Diogo Campos, Pedro Jóia e Olavo Bilac. Uma linha do tempo que deixou a sua marca na música nacional e que continua bem vincada. Como o prova este concerto carregado de momentos de emotivas lembranças. [83%]



 

Cut Ups (VICTOR TORPEDO)

(2023, Lux Records)

Depois de Junk DNA + Strip Jazz Greats, Cut Ups é o novo disco de Victor Torpedo, o segundo de uma série de 12 que lançará este ano, ao ritmo de um por mês. Mais curto, mais sucinto, mais direto, mais musical (registe-se as melodias de Flying To Berlin ou Visions Of Life). Mas também mais obscuro, mais atmosférico e mais nostálgico. Com guitarras onduladas ou minimalistas, um baixo incisivo (One Way é o melhor exemplo), efeitos de sintetizador e a caixa de ritmos a marcar cadências. E com vocais quase declamados e um pouco low-profile, como é da praxe no género. O punk rock com uma pincelada de gótico dos anos 80 anda por aqui, numa aproximação a nomes como The Cure, The Smiths ou David Bowie. E, claramente, uma proposta bem superior ao primeiro álbum. [70%]

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