Entrevistas: Alves dos Santos e os Fazedores de Sonhos

 


 

Ligar a música à poesia foi o objetivo que norteou Alves dos Santos neste seu projeto. O madeirense nascido na África do Sul já tem uma importante obra literária e juntamente com o álbum A Tempestade e a Calma lança o seu quinto livro. Quanto ao álbum musical, serve para apresentar a sua poesia, de uma forma inovadora, em versões musicadas ou declamadas. Fomos falar com o escritor para saber mais sobre este seu importante passo artístico.

 

Olá, Alves, antes de mais podes apresentar-nos a pessoa e o poeta Alves dos Santos e o seu projeto Os Fazedores de Sonhos?

Eu nasci na África do Sul, mas foi em Machico, terra onde os descobridores portugueses da bela Ilha da Madeira primeiro firmaram pé, que me tornei gente. E como a maioria dos humanos, sou um ser complexo, mas em que sempre despertaram múltiplos interesses e paixões. Talvez por isso a melhor forma de me definir será dizendo simplesmente que sou um homem apaixonado pela vida em todas as suas dimensões. Nunca acreditei naqueles que dizem que temos que nos restringir a uma única escolha na vida e tento também, com o meu exemplo, demonstrar que é ao abraçar as nossas múltiplas facetas e ao interagir com pessoas de diferentes geografias e com distintas experiências de vida que podemos evoluir e nos tornar seres humanos mais completos. Para além da escrita, eu sou um executivo de uma multinacional, atleta e ativista e acredito que todas estas outras dimensões são cruciais para continuar a encontrar inspiração para escrever. A música é definitivamente também outra das minhas paixões, aliás posso mesmo dizer que sem música eu não vivo, apenas sobrevivo. Os Fazedores de Sonhos é constituído por um grupo de artistas que, no seu inconformismo, procura contagiar aqueles que ainda não foram tocados pela arte poética. Para tal, deitamos mão à minha Poesia, demos-lhe voz e sonoridade, juntamos ainda muita da paixão e persistência de cada um, e embarcamos num projeto inovador que procura, sobretudo, promover a Poesia ao combinar, num mesmo álbum, quer poemas cantados quer poemas declamados. Pretendemos, desta forma inconformada, que um público mais vasto perceba que a Poesia e a Música são formas de arte que se enriquecem mutuamente e assim desmistificar a ideia, que prevalece ainda entre muitos, que a Poesia é uma arte apenas para um pequeno nicho, quando é na realidade uma arte para todos os que possuem a capacidade de sentir, sonhar e amar.

 

Livros publicados já tens vários, mas quando te surgiu esta ideia de juntares os teus poemas à música?

De facto, são já vários e junto com o álbum irei lançar também o meu quinto livro – o quarto de Poesia. Quanto à ideia de juntar os meus poemas à música, ela surgiu há muito tempo. Na altura, não tinha uma noção clara de como esse projeto tomaria corpo, mas foi algo que foi amadurecendo com o tempo e que teve claramente um momento Eureka quando ouvi uma entrevista que o Ricardo Gordo concedeu a uma rádio nacional e em particular quando ouvi chorar a sua guitarra portuguesa. Foi aí que percebi que queria que este projeto musical incluísse aquela sonoridade. E julgo que a capa deixa bem clara a centralidade que a guitarra portuguesa tem neste álbum.

 

Foi fácil passar da teoria à prática? Isto é, foi fácil criar as composições musicais mais adequadas aos poemas e encontrar as vozes que mais se enquadrassem?

Acabou por se tornar mais fácil porque uma série de coincidências permitiu juntar um grupo muito talentoso de músicos, cantoras e compositores. E falo em coincidências porque, desde o momento Eureka que mencionei anteriormente em relação ao Ricardo Gordo, foram vários os acasos e as casualidades que permitiram que eu encontrasse cada um deles. A Mariana de Figueiredo, por exemplo, vi-a por mero acaso num dos episódios de um programa televisivo de talentos e exatamente quando, a meu ver, muito injustamente foi eliminada após uma fantástica interpretação do Vinho do Porto do Carlos Paião. Procurei-a através das redes sociais, descrevi-lhe qual era projeto  e ela aceitou o meu convite. Quero, pois, acreditar que estava destinado a este grupo se juntar para este projeto.

 

Neste particular socorreste-te do Ricardo Gordo. Quão importante foi ele no delineamento e consecução de todo o projeto?

O Ricardo foi fulcral, não só porque foi o som da sua guitarra portuguesa que me fez perceber que tipo de sonoridade eu queria para este projeto, mas também porque ele revelou ser um fantástico produtor e compositor. E para mim foi uma revelação porque eu não conhecia o Ricardo até o ter ouvido naquele dia na rádio em novembro de 2021. Contactei-o, através do endereço de email que ele partilhou durante a entrevista para quem quisesse adquirir o álbum que ele estava então a apresentar, a pensar que estava a contactar potencialmente o guitarrista para o projeto e afinal descobri que ele poderia também ser o produtor e compositor e que até tinha um estúdio em Portalegre. E, para além de todo o enorme talento, o Ricardo é um extraordinário profissional e com quem foi sempre muito fácil trabalhar. Aliás, criou-se um quiçá surpreendente e maravilhoso espírito de equipa entre todo um grupo de artistas talentosos mas que nunca se tinham conhecido. No espeto da composição musical, tenho ainda que deixar também uma palavra de elogio à Mariana que, além de nos emprestar a sua fantástica voz, também contribuiu decisivamente em dois dos temas.

 

Para as vozes, há a participação de algumas atrizes, atores e cantores. Primeiramente, queres apresentá-las e dizer como se proporcionou essa ligação?

Em termos de vozes, este projeto conta com cantoras e atores porque, como referi anteriormente, este algumas das faixas são de poemas cantados e outras faixas são de poemas declamados. As cantoras são a Mariana Figueiredo e a Helena Ribeiro, os atores são a Catarina Guerreiro e o Nuno Pereira. A Mariana já referi anteriormente como se deu a ligação, quanto à Helena foi-me referenciada pelo Ricardo Gordo. Quanto à Catarina, tinha ficado já muito impressionado com as suas declamações num programa televisivo em que contactaram várias figuras públicas para declamar poemas, e, portanto, lembrei-me logo de a convidar. Não teria a certeza da sua disponibilidade e interesse porque, uma vez mais, só a conhecia de a ver nos écrans, mas para grande felicidade do projeto ela aceitou também participar. Em relação ao Nuno, é a única pessoa deste projeto que eu já conhecia anteriormente, pois trata-se de um amigo que já anteriormente tinha declamado alguns dos meus poemas.

 

Depois, porquê atores e que indicações lhes destes (se é que lhe deste alguma)?

Como referi anteriormente, decidi convidar atores porque fazia questão de ter algumas das faixas com poesia declamada e sem dúvida que para tal fim atores seriam a melhor opção. A única coisa que lhes dei foi liberdade para se expressarem e fazerem o que tão bem fazem. No caso da Catarina foi simplesmente impressionante a forma como ela declamou os seus poemas. Em estúdio saiu tudo perfeito num único take. Não tenho qualquer dúvida que a participação da Catarina foi verdadeiramente inspiradora para todos nós.

 

Neste álbum temos dois poemas em inglês. Ainda a influência sul-africana?

Há sim o facto de ter nascido na África do Sul, mas há sobretudo o facto de há muito ter também nas minhas redes sociais uma página onde publico em Inglês e portanto achar que seria relevante incluir esse trabalho neste projeto. Adiciona-se o facto do tema Losing Control ter sido o único tema que não nasceu poema, mas foi criado desde raiz como letra para uma canção.

 

A Tempestade e a Calma foi o primeiro single/vídeo. Porque a escolha deste tema? Há projetos para outros vídeos?

A Tempestade e a Calma é a corporização musical do poema com o mesmo nome, um poema que transpõe barreiras naturais e emocionais para seguir navegando rumo ao destino almejado por todo o ser humano: um amor alcançado mesmo que não explicitamente confessado. Na realidade, mais que ser o primeiro single, ele dá também nome ao próprio álbum e isso deve-se ao facto de eu ter projetado todo o álbum como a dicotomia entra as Paixões representadas pelas Tempestades e a Calma que é uma representação do Amor.

 

Este é um projeto apenas para um disco ou pensas em continuar a musicar a tua obra literária?

Felizmente material não falta para potencialmente produzir mais álbuns, mas quero para já me focar neste primeiro projeto e perceber qual a adesão do público a esta original abordagem. Sou adepto de desfrutar não apenas do resultado final, mas também de todo o processo e sem dúvida que esta colaboração permitiu-me enriquecer não apenas como artista mas também como pessoa.

 

Para além da poesia e da música, a arte da capa também é fantástica. Quem foi o responsável e que sentimentos procurou capturar?

Lá está mais um acaso. Neste caso um acaso proporcionado pela Internet na forma como esta tecnologia permite a que tenhamos acesso ao talento independentemente da geografia. Eu estava à procura de um designer, obtive alguns contactos nacionais e ou não tive resposta ou estavam ocupados. Lembrei-me então de usar uma das plataformas de profissionais independentes a que já tinha recorrido no desempenho das minhas funções empresariais. E tive a felicidade de encontrar a designer americana Mia Carter que tinha já imensa experiência em criar capas para inúmeras bandas americanas. E, como se não bastasse, ela é também cantora e quem sabe não venha a colaborar num projeto futuro. 

 

Tens algum evento de apresentação deste disco preparado para breve?

Sim, o evento do lançamento oficial que irá ocorrer já no próximo dia 17 pelas 18:30 na Fnac Chiado. Felizmente têm surgido também vários convites de televisões e rádios nacionais e tenho também já confirmado duas apresentações na Madeira.

 

Obrigado, Alves. Queres acrescentar mais alguma coisa?

Quero agradecer esta oportunidade para divulgar o projeto e referir também que, quem estiver interessado em adquirir o CD, pode fazer já a sua pré-encomenda na loja online do meu site www.alvesdossantos.net.

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