Reviews VN2000: ANDRÉ CARVALHO; NILSON DOURADO; PAUL OAK; ZATVOR; CIOLKOWSKA

 


Lost In Translation Vol. II (ANDRÉ CARVALHO)

(2023, Clean Feed Records)

André Carvalho (contrabaixo) e o seu trio (José Soares, no saxofone e André Matos, na guitarra) voltam às palavras intraduzíveis e voltam aos arranjos musicais extremamente complexos. Um Lost In Translation Vol. II com uma forte base de improvisação na origem dos oito temas que o compõem. E oito palavras intraduzíveis que vêm de línguas conhecidas como o sueco ou o alemão e de outras mais distantes como o hausa, havaiano ou indonésio. Finalmente, oito temas estranhos, intimistas, contemplativos e de um assinalável arrojo na exploração sonora do trio de instrumentos e das suas mais inesperadas conjugações. E, mais uma vez, o resultado é um constante desafio ao ouvinte através de composições pouco ortodoxas e que procuram não seguir nenhuma regra estabelecida. O jazz livre e sem amarras e a música contemporânea de forte pendor criativo e exploratório podem ser aqui encontrados, em Lost In Translation Vol. II. [77%]




 

Silêncio (NILSON DOURADO)

(2023, Independente)

Silêncio é um disco onde a voz tranquila de Nilson Dourado se deixa guiar pela sua guitarra numa viagem de introspeção. Uma viagem que, apesar da aparente fragilidade e simplicidade, é fortalecida e enriquecida por distintos registos instrumentais colocados em sucessivas camadas. Aqui, merecem destaque os diversos jogos vocais, notáveis em Lua Cheia e Estelar, neste caso apenas com sons e sem letras. Mas também, as texturas de piano e as progressões de sopros e cordas, sendo de destacar o piano de Estelar e a jazzística secção final do tema-título. Apesar dessa instrumentação, Silêncio é um disco que vive essencialmente do minimalismo, que até é acentuado nos curtos temas Azuis e O Orgasmo, apenas com a voz a guitarra de cantautor. Este disco promete muito com uma Lua Cheia plena de oportunidade e num registo apelativo onde os diversos instrumentos criam um belo desenho harmónico, mas vai decaindo, apresentando fases de substancial monotonia, nomeadamente nos dois referidos temas mais curtos. [74%]



 

Out Of His Head (PAUL OAK)

(2023, Lux Records)

Por vezes com uma guitarra acústica e pouco mais, faz-se muito. Infelizmente, não é o caso de Paul Oak. O disco de estreia do músico conimbricense, Out Of His Head, traz uma abordagem acústica ao indie rock, com influências dos anos 60 e dos The Beatles - mas mostra muitas fraquezas. Vocalmente monocórdico, não sai do mesmo registo ao longo dos seis temas que compõem o álbum. Instrumentalmente, mais que minimalista é simplicista. Não que isso seja negativo, de per se, mas sim porque não se vislumbra nenhum elemento capaz de fazer brilhar as composições. Emocionalmente, não consegue fazer transparecer nenhum sentimento. É orgânico, mas é frio, calculista, amorfo. Out Of His Head é, claramente, um disco feito para o próprio artista, mas que deveria continuar a crescer dentro da sua cabeça. Assim, soa como um rascunho. Uma primeira pincelada onde ainda se nota que falta acrescentar todas as restantes tonalidades. [61%]



 

Ключ земли (ZATVOR)

(2018, Addicted Label)

Estranha sonoridade esta que o coletivo Zatvor apresenta em К​л​ю​ч з​е​м​л​и. Os Zatvor são oriundos do oblast de Kursk, no limite da fronteira com a Ucrânia e são formados por Denis Kolesnikov (guitarras e noises), Anton Eremin (bateria, percussão e noises) e Sergei Letov (flauta e saxofone). O álbum é composto apenas por uma peça única de quase 50 minutos com muitos ruídos de todos os tipos, alguns dos quais indecifráveis e muita distorção, reverbs e feedbacks. Uma forma experimental e instrumental de criar drone/sludge rock que está na origem de uma viagem sónica opressiva e hipnotizadora. Mas, que se vai transformando sucessivamente, essencialmente devido ao uso da flauta e do saxofone, num interessante contraste com tanto ruído oriundo de guitarras cáusticas. [69%]



 

П​с​и​х​о​д​е​л​и​я
(CIOLKOWSKA)

(2020, Addicted Label)

O oitavo álbum da carreira dos Ciolkowska, banda de São Petersburgo, apresenta sete temas em pouco mais de meia hora de música. Mas é tempo suficiente para deixar muito boas indicações quanto à riqueza das suas criações e da criatividade que guia o coletivo. O seu space rock tem uma natureza imprevisível e tanto se mostra docemente melódico, como evolui para momentos de pura loucura criativa numa indescritível fusão de géneros. Mas, П​с​и​х​о​д​е​л​и​я soa mais contido que os seus trabalhos anteriores apresentando temas mais audíveis, onde o post-rock assume algum significado, associado, como é habitual a guitarras ondulantes de um psicadelismo efusivo e bastante experimentalismo recrutado ao free-jazz. O uso do ukulele cheio de efeitos é um dos pontos de ligação com o passado, apresentando, neste aspeto e mais uma vez, uma abordagem completamente inesperada. Todavia há um aspeto que pode tornar esses temas menos apetecíveis. Está ligado ao vocalista e não é o facto de cantar em russo, é mesmo a sua gritante debilidade. [79%]

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