Reviews VN2000: FUNUS; MIDNITE CITY; GREEN LABYRINTH; ALASTOR; DARK AGE OF RUIN

 


Mono (FUNUS)

(2023, Independente)

Do black metal original dos Funus já nada resta. O segundo álbum do projeto em solitário de Ruben Vermeulen (nome com passagens pelos desconhecidos Deathrage, Dictated e Monism) baralha totalmente o ouvinte com a sua abordagem post rock/shoegaze, essencialmente em formato acústico. Neste segundo álbum, intitulado Mono (desconhecemos se alguma ligação existe com o seu antigo projeto Monism), Vermeulen surge apenas acompanhado por Sabina Knol, responsável por inserir vocais principais em Embrancings Relived e segundas vozes em Gloomy And Dusk. Neste álbum, o neerlandês procura uma nova abordagem, mais frágil e intimista, ao mesmo tempo que se revela exploratória de paisagens sonoras que começam calmas e sem distorção e onde se vão desenvolvendo evoluções. Mono é um disco de emotividade e profundidade, mas que perde nas dinâmicas. O facto de ser apenas um único elemento influencia forte e negativamente um registo instrumental e vocal algo repetitivo e pouco trabalhado. [70%]



 

In At The Deep End (MIDNITE CITY)

(2023, Pride & Joy Music)

Dois anos depois de Itch You Can’t Scratch, os Midnite City regressam com o seu glam rock/hair metal em mais um disco cheio de provocação e atitude. E, mais uma vez, em In At The Deep End não se pretende inventar nada, mas apenas criar boas malhas de hair metal, com alguns bons ganchos e melodias. Melodias pegajosas, guitarradas puxadas e as habituais baladas, com enfâse nos teclados fazem parte do produto apresentado pelos britânicos. Nos momentos mais intensos lembram Cinderella ou Pretty Boy Floyd, nos mais calmos e mais orientados para os teclados, são os Whitesnake que se mostram como principal referência. A confirmar o que dissemos que em In At The Deep End não se pretende inovar. A destacar os temas Girls Gone Wild (com uma soberba melodia, embora muito próxima de Belinda Carlisle) e Raise The Dead, num quarto disco de uma banda que se afirma cada vez mais pela sua postura irreverente e pela sua trajetória ascendente. [75%]



 

Sequences (GREEN LABYRINTH)

(2023, Fastball Music)

Os Green Labyrinth apresentam o seu novo álbum e com ele aumentam a abrangência das suas criações musicais. As raízes do symphonic metal continuam presentes, mas Sequences vê os suíços abraçaram o prog metal com mais intensidade. E em boa hora o fazem, porque em termos sinfónicos as coisas deixam um pouco a desejar. A sua clara aproximação aos Nightwish, com os teclados muito presentes, falha redondamente, por culpa, não só de uma manifesta falta de originalidade, como pelo desempenho vocal – tanto os vocais limpos quanto os guturais soam demasiado desfasados - com a nova vocalista a revelar-se uma opção pouco válida. Por isso, Dreamland é uma abertura completamente em falso. E, para aqueles que conseguem não desistir de ouvir este álbum ao fim de minuto/minuto e meio dessa faixa de abertura, haverá algumas coisas surpreendentes para a frente. É que a partir daí o álbum vai melhorando substancialmente em termos instrumentais. Neste particular apenas, de tal forma que os melhores momentos são algumas criativas progressões quando os vocalistas se calam. Essas criativas progressões são acompanhadas por interessantes orquestrações e linhas de piano (espetaculares em Meaning Of Life), atingindo, em Brave The Storm um dos melhores momentos num registo de prog death. Em suma, em termos instrumentais Sequences mostra bons argumentos, mas falha no aspeto vocal. [79%]



 

Gates Of Darkness (ALASTOR)

(2023, Haloran Records)

Os Alastor formaram-se em 1988 para rapidamente darem origem aos Decayed. O projeto voltaria ao ativo em 1995 e, ainda com composições dos primórdios na mente, gravaria o seu primeiro álbum em finais de 1996. Alguns dos temas apareceriam em 1998 no split CD com Decayed, A Sacrifice To Darkness, e no "primeiro" álbum da banda Crushing Christendom, lançado em 2000 pela editora alemã Barbarian Wrath. Gates Of Darkness ficou assim esquecido na discografia da banda nunca sendo lançado na sua forma completa até agora. Quem o traz agora a público é a Haloran Records que lança o álbum com a totalidade das faixas da gravação, incluindo a cover de Children Of The Grave, dos Black Sabbath. Gates Of Darkness mostra os Alastor na sua forma ainda mais primitiva, com uma sonoridade áspera, suja e crua. Um black/thrash metal mais maléfico que rápido ou demolidor, a beber inspiração nos Venom, Possessed ou nos primórdios dos Sodom. [76%]



 

False Messiah And The Abstract (DARK AGE OF RUIN)

(2023, Selvajaria Records/Museu do Heavy Metal Açoriano)

Há quem diga que o trono do black metal açoriano está desocupado há demasiado tempo. Mas, finalmente surge o primeiro pretendente com argumentos suficientes para almejar tal. Quem assim se apresenta são os Dark Age Of Ruin que após um EP lançado em 2022, From Northern Skies, dão um fantástico salto em frente e assinam False Messiah And The Abstract. O duo micaelense que tem apenas três anos de existência e é formado por pai e filho, até apresenta argumentos que os podem colocar no pedestal do black metal nacional na sua globalidade. False Messiah And The Abstract é um álbum de uma frieza cruel. Uma frieza insana que se espalha por uma sonoridade crua para ser devidamente acentuada, mas, ao mesmo tempo, suficientemente clara que permita a cabal perceção de toda a instrumentação. E aqui surge uma bateria programada, mas bem trabalhada, nunca soando deslocada nem demasiado fabricada. As melodias gélidas vão sendo debitadas em momentos de verdadeira explosão maléfica ou em momentos mais cadenciados. Uns e outros carregados de uma negritude assinalável, que o torna tenebroso e sufocante. Como deve ser qualquer boa obra de black metal. [80%]

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